terça-feira, 3 de junho de 2008

Mercado vê Copom sem unanimidade

O Copom do Banco Central não deve tomar na reunião de amanhã decisão diferente do caminho já sinalizado. O que foi alertado em ata e sugerido em declarações oficiais e entrevistas dadas por dirigentes do BC é o que deve prevalecer mesmo: manutenção do ritmo de alta da taxa Selic no 0,50 ponto com o qual o atual ciclo de aperto monetário foi iniciado na reunião de 16 de abril. O Copom não deverá mudar a decisão com base em informações divulgadas na última hora, como a piora nas expectativas de IPCA para o ano que vem cultivadas pelas cem instituições pesquisadas pelo Boletim Focus. Pela primeira vez, o IPCA previsto para 2009 - e as decisões de política monetária tomadas agora pelo Copom só produzirão conseqüências práticas no ano vindouro - superou a meta central de 4,5%. Está agora em 4,6%. Mas o Copom tente a evitar uma ampliação imediata da velocidade de avanço do juro nominal porque pesam mais fatores cuja influência baixista sobre a inflação são consideráveis. São eles: os efeitos sobre a demanda agregada da poupança fiscal extra equivalente a 0,5% do PIB iniciada ontem e os impactos de médio e longo prazo da obtenção pelo país de dois ratings de grau de investimento.

A alta sofrida ontem pelos contratos negociados no mercado futuro de juros da BM&F vincula-se menos à decisão seca que será tomada amanhã pelo Copom e mais a sinalizações sobre as reuniões subseqüentes. Até sexta-feira, majoritariamente se esperava uma votação de oito a zero em favor de uma alta de 0,50 ponto, com a Selic subindo de 11,75% para 12,25%. A diferença agora é que não se tem mais tanta certeza sobre a unanimidade. Passou-se a acreditar na possibilidade de o Copom abrir, por meio de um placar divergente, uma janela para a necessidade de ter de aumentar a dose para 0,75 ponto no encontro de 23 de julho. Discutiu-se ontem, após o rompimento da meta de 4,5% esperada para 2009, o risco de o escore do Copom ser de 6 a 2 por ajuste de 0,50 ponto, com os dois votos contrários já optando pelo avanço de 0,75 ponto.

O placar de 6 a 2 seria o mais conveniente para alertar o mercado sobre a possibilidade de mudança de rumo, já que um 7 a 1 transmitiria um sinal muito débil e um 5 a 3, ao contrário, tornaria evitável a imposição do novo ritmo mais forte. "Acho que a decisão será difícil, entre os que irão preferir 0,50 ponto de aumento e os que votarão por alta maior", diz o economista-chefe da CMA Análises, Luiz Rogê Ferreira. O economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, acredita que a decisão pela alta de 0,50 ponto será unânime. Não há razão para se mudar o consenso de que o risco inflacionário ainda é baixo, concentrado no curto prazo. "A inflação corrente tende a ficar mais estável ao longo dos próximos meses, favorecendo o comportamento das expectativas", diz Padovani. Por isto, o BC poderá aguardar novas informações antes de reavaliar sua estratégia de política, mantendo o ciclo de altas a um ritmo de 0,50 ponto percentual. Eventuais surpresas, em termos de sustentação de taxas mais elevadas de crescimento ou de deterioração mais forte de expectativas, podem ter como resposta do Copom um ciclo mais longo de aperto.

Para o WestLB, serão, no total, incluindo a feita no dia 16 de abril, cinco altas de 0,50 ponto. Para o professor de economia da PUC-Rio, Márcio Garcia, se não é irrelevante a opção entre 0,50 e 0,75 ponto, a decisão em si será menos importante do que sinalização do tamanho do ajuste. Sobre a magnitude total do ciclo de aperto há muita divergência no mercado. Há apostas começando em 200 pontos-base e terminando em 400 pontos-base. O Focus prevê 250 pontos-base. Por isso, se espera que, na ata, o BC sinalize a possível extensão do arrocho começado em 16 de abril.

O CDI estimado para a virada do ano subiu ontem de 13,06% para 13,12%. A taxa para janeiro de 2010 avançou de 14,16% para 14,27%. Os contratos mais longos, os que menos refletem as decisões de política monetária do BC, subiram por causa dos temores de recidiva da crise financeira americana. Foi também esse o motivo para a alta de 0,30% registrada pelo dólar, a R$ 1,6330. Wall Street reagiu com pesadas quedas (o Dow Jones caiu 1,06%) às notícias de demissão do presidente do banco Wachovia e do rebaixamento generalizado da nota conferida pela Standard and Poor's a megainstituições americanas. A agência reduziu o rating de peso pesados como o Lehman Brothers, o Merrill Lynch e o Morgan Stanley, e reviu para negativa a perspectiva de rating para o Bank of America e o JP Morgan. O Citigroup foi poupado? Nada disso. O Citi, que estava sob observação negativa, foi colocado em perspectiva negativa.

Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças
luiz.guimaraes@valor.com.br

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