Daniela Barbosa e Claudia Facchini, iG São Paulo
Fundos de private equity lideram movimento e anunciaram pelo menos quatro negócios nos últimos cinco diasFoto: AFP
Nos últimos dias, o movimento de fusões e aquisições no setor varejista e de consumo intensificou-se, liderado, sobretudo, pelas administradoras de fundos de investimentos em participações acionárias (private equity). Em apenas cinco dias, entre os dias 30 de agosto e 3 de setembro, esses fundos anunciaram quatro aquisições – a mais relevante foi a compra da rede americana de fast food Burger King pelo fundo 3G, dos empresários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles.
Luiz Eduardo Henriques, professor em estratégia, competitividade e inovação da Fundação Dom Cabral, avalia que as aquisições pelos fundos de private equity devem se tornar cada vez mais frequentes até o fim do ano. “Podemos esperar por uma aquisição por semana daqui para frente”, prevê.
O número de transações poderia ser ainda maior, avalia um executivo do setor de fusões e aquisições. Algumas grandes empresas, como a BR Foods e o Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, aguardam que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) julgue suas recentes fusões. Até receberem o sinal verde das autoridades antitruste, elas devem moderar o apetite por aquisições, o que poderia tornar o julgamento pelas autoridades antitruste ainda mais complexo. A BR Foods resultou da fusão da Sadia com a Perdigão e o grupo Pão de Açúcar uniu os negócios da rede Ponto Frio com a Casas Bahia no varejo de eletrônicos de consumo.
A BR Foods possui R$ 3 bilhões em caixa e que poderiam ser desembolsados em aquisições, mas que não não sendo investidos em novos negócios.
As empresas do setor de consumo – varejistas e fabricantes de alimentos e bebidas – ganharam um lugar de destaque na economia com a forte expansão do mercado interno. Segundo Henriques, a estimativa é de que até 800 operações de fusões e aquisições sejam fechadas até o final do ano no País.
O setor de consumo deve ser um dos principais protagonistas. “O Brasil passa por momento de ascensão social e os brasileiros estão consumindo mais. Existem muitas oportunidades neste segmento”, afirmou o professor.
No último dia 27, a Casa do Pão de Queijo anunciou a compra da rede de confeitarias O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, com sete lojas no País. Em seguida, na última segunda-feira, dia 30, o grupo Carlyle adquiriu participação da Scalina, dona das marcas Trifil e Scala. O fundo de investimentos Mercatto fez duas aquisições na semana: primeiro comprou a Vila Germania Alimentos e, na sexta-feira, anunciou a compra da rede Forno de Minas.
Relevância mundial
A aquisição da Burger King pela 3G foi o negócio mais emblemático, não só pelos valores envolvidos (R$ 7 bilhões), mas também por representar a aquisição de uma marca ícone americana por brasileiros. O Brasil está deixando apenas de ser alvo de investidores e passando a ter um importante papel no mercado mundial. “Os fundos nacionais de investimento estão buscando oportunidades fora do País a fim de diversificar as aquisições e marcar presença global”, disse Henriques.
O fundo 3G já é controlador da Anheuser-Bush Inbev, maior cervejaria do mundo, das Lojas Americanas e da América Latina Logística (ALL). A diversificação do portfólio de marcas controladas pela 3G é vista com bons olhos, pois mesmo sendo de segmentos diferentes, os processos são sinérgicos e devem trazer bons resultados ao fundo.
Segundo a consultoria KPMG, o setor de alimentos, bebidas e fumo lidera o ranking de fusões e aquisições no País. Desde 1994, 603 negócios foram fechados neste segmento.
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