sábado, 28 de fevereiro de 2009

Volta por cima...

Delfim netto

"Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima..." foi mais ou menos esse o tom da exortação do fenômeno Obama aos americanos em seu discurso sobre o estado da União perante o Congresso, membros da Corte Suprema e convidados, na terça-feira do nosso carnaval. Uma fala empolgante de 51 minutos, entrecortada por 52 aplausos (alguns de pé) em que reconheceu de início que a economia está debilitada e a confiança do povo abalada, para em seguida, acentuando cada sílaba, garantir que os Estados Unidos sairão desta mais fortalecidos: "vivemos tempos difíceis e inseguros, mas nesta noite quero que todos os americanos saibam o seguinte: vamos nos reconstruir, vamos nos restabelecer."

Pela primeira vez depois de eleito, o jovem presidente exibiu por inteiro o talento que o elevou a fenômeno político e eleitoral, transmitindo ao mundo a ideia que está apto a liderar o processo capaz de tirar a economia dos Estados Unidos da recessão. Importa muito que sua mensagem obteve repercussão favorável em todo o mundo. Esta crise só começará a ser resolvida com o restabelecimento da confiança nas instituições políticas que têm o poder de reordenar o funcionamento dos mercados financeiros. Em primeiro lugar na matriz dos problemas: o sistema bancário americano.

No Brasil, o principal problema não resolvido desde que a crise se manifestou em setembro foi o da constrição do crédito provocada pelo corte abrupto dos financiamentos externos. O alívio proporcionado pelo Banco Central alcançou as linhas de financiamento do comércio exterior e os empréstimos externos de empresas brasileiras. Mas o crédito interno a produção continuou escasso e ainda a juros crescentes e indecentes durante todo esse período. A queda do juro básico se faz num ritmo lento e o Banco Central não demonstra apetite para enfrentar o exagero dos spreads bancários. Como não se aguarda a solução do imbróglio bancário americano no curto prazo, resta ao Brasil acelerar a mudança em sua política monetária, de forma a trazer as taxas de juros para os níveis do resto do mundo, 3% ao ano em termos reais.

Essa inércia da autoridade monetária na questão do crédito contrasta violentamente com as ações positivas que governo e iniciativa privada estão sendo capazes de realizar no enfrentamento da crise: desde a aceleração das obras de infraestrutura (comprovada pelo forte crescimento da arrecadação tributária no setor da construção civil em janeiro), a resolução de gargalos que garantiram a continuidade dos projetos das hidrelétricas, até o suporte ao setor de habitação que voltou a crescer após o soluço do último trimestre. O sucesso brasileiro, nesse particular momento de crise, logo vai servir de exemplo a muitos países.

Barak Obama, em sua mensagem, me lembrou o verso imortal de Vanzolini: tem tudo a ver com a circunstância dramática que o mundo vive.

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