FÁTIMA FERNANDES
da Folha de S.Paulo
Boa parte do consumidor brasileiro desconhece a crise norte-americana e os efeitos que possa vir a ter no país. Enquanto o crédito estiver disponível e o emprego se mantiver, o consumo no país continua ao menos no ritmo em que está.
É o que revela pesquisa feita pela Ipsos, a pedido da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), entre os dias 23 e 29 de fevereiro, com consumidores de todo o país.
Das mil pessoas ouvidas, 60% informaram que desconhecem que os EUA passam por uma crise econômica. E mesmo as pessoas quem tem conhecimento (36% do total), 60% consideram que os problemas econômicos enfrentados pelos EUA não devem afetar suas vidas no Brasil.
"Apenas quando o consumidor começar a perder renda, ter a sensação de que pode perder o emprego e sentir que o acesso ao crédito está mais difícil, pode cortar gastos", diz André Rebelo, gerente do Depecon (Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos) da Fiesp.
O INA, indicador do nível de atividade da indústria paulista, mostra, segundo Rebelo, o quanto o consumidor continua com fôlego para as compras. Anualizado, o INA de setembro do ano passado a janeiro deste ano mostra expansão de 12%.
Fábio Pina, assessor econômico da Fecomercio SP, diz que a trajetória da economia brasileira é de crescimento de emprego, crédito e renda. "Só o efeito do "carryover" ["carregamento" do crescimento do país de um ano para o outro] é suficiente para manter o consumo em alta neste ano", afirma.
Dias nervosos nos mercados financeiros fora e dentro do país, na avaliação de Pina, podem ter algum efeito no país, "mas será suportável", diz.
Se os EUA deixarem de comprar produtos brasileiros, o consumidor "só vai reagir se ele ou alguém do lado dele perder o emprego. O brasileiro não se preocupa com crises internacionais", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Mas isso não quer dizer que os lojistas, as financeiras e os bancos não devam ficar atentos. "O Banco Central já sinalizou que os juros podem voltar a subir. Se isso acontecer, o consumo pode cair e a inadimplência, subir", diz Alfieri.
O consumidor, segundo ele, já está mais cauteloso com os gastos, segundo mostra pesquisa elaborada pela Ipsos para a ACSP. Em fevereiro, o INC (Índice Nacional de Confiança) caiu um ponto sobre janeiro, de 138 pontos para 137 pontos. "Mas essa dado ainda não preocupa", segundo Alfieri, pois, em fevereiro do ano passado o INC registrava 129 pontos.
Um dos indicadores de que a economia continua no ritmo do fim de 2007 é a produção industrial, apurada pelo IBGE, estável em fevereiro em relação a janeiro -houve queda de 0,1%. Na comparação com um ano antes, está 10,3% maior.
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