quarta-feira, 11 de junho de 2008

Carteiras Petrobras e Vale perdem do Ibovespa no ano

Por Adriana Cotias e Angelo Pavini, de São Paulo
O investidor de varejo que enveredou para a renda variável via fundos de Vale e Petrobras começa a sentir as agruras da não-diversificação. Junto com os vaivéns das commodities, essas carteiras perdem para o Ibovespa no ano. Levantamento do site Fortuna mostra que, até o dia 6, os fundos de Petrobras rendiam 7,66% e os de Vale, 2,97%, aquém dos 9,23% do índice. Nessas estatísticas ainda não constam as quedas desta semana, de 3,34% para as preferenciais (PN, sem voto) e 3,29% para as ordinárias (ON, com voto) da Petrobras. Na Vale, as ONs caíram 5,49% e as PNs série A, 5,78%.

Praticamente tudo o que ingressou em fundos de ações neste ano foi endereçado às carteiras de Petrobras e Vale. Desde janeiro, os portfólios que concentram a aplicação nesses dois ativos abertos para captação atraíram R$ 2,248 bilhões - R$ 1,9 bilhão em Petrobras e R$ 343 milhões em Vale. O total captado pela categoria ações foi de R$ 2,013 bilhões.

"No passado, as commodities em alta compensavam o risco da concentração", diz o economista Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. "O problema é que, no varejo, não se vende fundo de ação (diversificado), o conceito de diluição de risco não é transmitido." Entre os grandes bancos, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e Santander, o grosso do que entrou em fundos de ações foi direcionado às carteiras de Petrobras e Vale. No ano, a maior captação em ações é do Santander, com R$ 925,3 milhões.

A estratégia de oferecer fundos ligados à Vale e à Petrobras tem funcionado. Em pouco mais de três meses, a Santander Asset Management captou R$ 700 milhões no varejo em fundos que oferecem a rentabilidade do CDI ou a opção de ficar com as ações de uma das empresas caso os papéis caiam mais de 15% no período de seis meses. As carteiras da família Plus usam o mesmo apelo dos fundos de uma ação só, conta Alexandre Silvério, superintendente da gestora. "O investidor de varejo ainda está conhecendo melhor a bolsa", justifica.

Segundo ele, ao adquirir cotas de um fundo Petrobras ou Vale, o investidor sabe o que está comprando. Silvério segue otimista em relação às commodities, o que beneficiaria tanto Vale quanto Petrobras. A expectativa é de que os preços do minério de ferro continuem em alta por pelo menos três anos, beneficiando a Vale. "Mesmo com a China desacelerando, isso ainda garante uma demanda forte", diz. E ainda que a mineradora comprasse uma empresa de cobre ou carvão ou ainda - o que Silvério acha menos provável - alumínio, o potencial de ganho continuaria grande.

"A Vale mostrou-se muito bem-sucedida na aquisição da canadense Inco", diz Silvério. No curto prazo, a emissão de US$ 15 bilhões em ações tem, porém, um impacto grande. "Na largada, esse aumento de capital, de 10% do valor da empresa, assusta, mas há capacidade de a Vale criar valor com aquisições e com o que vai produzir." Ele ainda cita que a Vale está descontada em relação às concorrentes BHP Billiton e Rio Tinto, em cerca de 30%, pelo critério Preço/Lucro. "Depois do grau de investimento, que reduziu o efeito do risco-Brasil, não faz sentido essa diferença toda."

No caso da Petrobras, o desempenho da empresa ainda deixa a desejar, com custos operacionais elevados. Mesmo assim, Silvério acredita que, com o barril do óleo a US$ 100, a estatal pode dobrar de valor nos próximos anos.

No curto prazo, o certo é que o risco das commodities aumentou e, por isso, Patrícia Branco, sócia gestora da Global Equity, decidiu distribuir o patrimônio do seu fundo de ações, que ainda tem Petrobras, Vale e Gerdau, em papéis ligados ao mercado interno. "Com as economias européias, emergentes e os Estados Unidos aumentando juros para conter a inflação, os investidores globais têm migrado para outros ativos", diz.

A despeito de a Vale ter provado ser uma excelente gestora de aquisições num passado recente, as especulações em torno de qual será o alvo da compra, do nível de endividamento ou até o rebaixamento das notas de classificação de risco de crédito vão dominar as oscilações dos papéis nos próximos meses, completa Patrícia.

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