segunda-feira, 9 de junho de 2008

Quem se lembra da Nova Economia?

9 de Junho de 2008 - Você se lembra como era antigamente, quando vivíamos sob a Nova Economia? Na década de 1990 os empregos eram abundantes, o petróleo era barato e a tecnologia estava prestes a mudar tudo.
Então a bolha das ações das companhias ponto.com estourou. Muitas das elogiadas empresas da Nova Economia se mostraram melhor promovendo suas imagens do que ganhando dinheiro - embora algumas delas realmente tenham sido pioneiras nas novas formas de fraudar a contabilidade. Depois disso veio o choque do petróleo e dos alimentos, lembretes cruéis de que ainda estamos vivendo em um mundo materialista.
Isso é tudo, então, para a revolução digital? Não tão rápido. As previsões dos gurus da tecnologia do anos 90 estão se tornando realidade mais devagar do que esperavam os entusiastas - mas o futuro que previram ainda está em marcha.
Em 1994, um desses gurus, Esther Dyson, fez uma previsão impressionante: Que a facilidade com que o conteúdo digital pode ser copiado e disseminado finalmente forçaria as empresas a venderem os resultados da atividade criativa a preços baixos, ou até mesmo entregá-los de graça. Qualquer que seja o produto - software, livros, música, filmes - o custo da criação teria de ser recuperado indiretamente: as empresas teriam de "distribuir a propriedade intelectual gratuitamente para vender serviços e relacionamentos".
Por exemplo, ela descreveu como algumas desenvolvedoras de software entregavam seus produtos, mas ganhavam com as taxas de instalação e serviços. Contudo, seu mais forte exemplo de como se pode ganhar dinheiro distribuindo de graça foi do Grateful Dead, que encorajava as pessoas a gravar seus concertos ao vivo porque "muitas das pessoas que copiam e escutam as fitas acabam comprando bonés, camisetas e ingressos para os seus concertos. Na nova era, o mercado secundário é o mercado".
De fato, revela-se que a banda de rock era pioneira do negócio. A Rolling Stone recentemente publicou um artigo intitulado "A Nova Economia do Rock: Ganhando Dinheiro Quando os CD não Vendem".
Os downloads estão prejudicando as vendas de discos - mas as bandas de rock de hoje, as notícias de revistas, estão encontrando outras fontes de renda. Mesmo se as vendas de CDs são modestas, as bandas podem transformar as visitas ao Airplay e ao YouTube em sucesso financeiro indiretamente, gerando lucro por meio da "publicação, turismo, merchandising e licenciamento".
Quais outras atividades criativas serão os meios principais para promover negócios laterais? Que tal escrever livros?
Segundo uma reportagem do The New York Times, o assunto do momento na BookExpo America eram os livros eletrônicos. Agora, os e-book têm sido o próximo, mas de alguma forma ainda não chegado, assunto por um longo tempo. (Há uma velha piada brasileira: "O Brasil é o país do futuro - e sempre será". Os e-book são assim). Mas podemos finalmente ter chegado ao ponto no qual os e-books estão perto de serem uma alternativa amplamente usada ao papel e à tinta.
Essa é certamente minha impressão, depois de dois meses de experiência com o aparelho alimentando as conversas, o Amazon Kindle. Basicamente, a leveza do Kindle e a tela refletiva significam que ele oferece uma experiência de leitura quase incomparável àquela de ler um livro tradicional. O aparelho deixa o usuário livre para apreciar o fator conveniente: O Kindle pode armazenar o texto de muitos livros, e quando a pessoa pede um novo livro, ele chega literalmente mas suas mãos dentro de dois minutos.
É um pacote bom o suficiente que meu palpite é que os leitores de e-books digitais vão em breve ser comuns, talvez cobrando preços tradicionais.
De fato, se os e-books forem a norma, o setor de editoração como o conhecemos pode desaprecer. Os livros podem acabar servindo principalmente como material promocional para as atividades de outros autores, como leituras ao vivo com cobrança de ingresso. Bem, se isso foi bom para Charles Dickens, creio que é bom para mim.
Agora, a estratégia de liberar a propriedade intelectual para as pessoas comprarem parafernália não vai funcionar da mesma forma com qualquer coisa. Para dar o exemplo óbvio e doloroso: As novas organizações, incluindo o New York Times, passaram anos tentando converter a leitura on-line numa proposta adequada de pagamento, com sucesso limitado.
Mas eles terão de encontrar um meio. Pouco a pouco, tudo o que pode ser digitalizado será digitalizado, tornando a propriedade intelectual cada vez mais fácil de copiar e cada vez mais difícil de vender por mais do que o preço normal. E termos de econtrar modelos de negócios e econômicos que levam essa realidade em conta.
Isso não ocorrerá de imediato. Mas no longo prazo, todos nós somos o Grateful Dead.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Paul Krugman - The New York Times )

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