Alex Ribeiro, de Brasília
A ata da reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, consolidou entre os analistas econômicos do mercado financeiro a percepção de que o ritmo de aperto monetário iniciado na semana passada será forte, porém curto. O documento informa que a projeção oficial de inflação do BC para 2009 já ultrapassou a meta fixada para o ano, de 4,5%, e alerta que cresceu a probabilidade de um reajuste dos preços dos combustíveis neste ano, o que contribuiria ainda mais para a aceleração da inflação.
A ata também explica que dois objetivos nortearam sua decisão de subir na semana passada a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual (pp.), de 11,25% para 11,75% ao ano: 1) "contribuir para a convergência entre o ritmo de expansão da demanda e oferta"; 2) "evitar que pressões originalmente isoladas sobre índices de preços levem à deterioração persistente das expectativas e do cenário prospectivo de inflação".
Para reduzir os riscos de a inflação superar as metas, o Copom iniciou na semana passada um ciclo de aperto monetário, num ritmo mais intenso do que o 0,25 pp. esperado pelo mercado. Logo após a reunião, o BC divulgou um comunicado em que afirmava que, naquele momento, estava realizando "parte relevante" do movimento na taxa de juros que pretende levar a cabo nos próximos meses. O comunicado foi interpretado pelos analistas do mercado como um sinal de que a alta de juros seria intensa, mas breve. Mas não há consenso sobre o tamanho e duração exata do aperto monetário - as projeções variam entre 1 pp. e 2 pp.
Na ata divulgada ontem, o BC reproduz as mesmas palavras usadas no comunicado. "A rigor, a ata não diz nada além do que o mercado já sabia, e por isso mesmo ajuda a consolidar a percepção de que o aperto monetário será forte e curto", afirma Roberto Padovani, do WestLB.
A ata traz algumas indicações do porquê o BC, que vinha sinalizando subir os juros desde janeiro, resolveu agir justamente agora. Uma delas é o fato de a projeção oficial de inflação para 2009 superar o centro da meta. No relatório de inflação de março, divulgado há quatro semanas, o BC informou que projetava uma inflação de 4,6% para 2008, mas dizia que a inflação projetada para 2009 estava em 4,4%, portanto abaixo da meta, de 4,5%. Na ata divulgada ontem, o BC não diz exatamente o percentual projetado pera 2009, mas informa que já supera o centro da meta. Segundo o BC, a projeção oficial de inflação para 2008 "elevou-se significativamente".
Newton Rosa, da SulAmerica Investimentos, atribui a alta nas projeções do BC à deterioração nas expectativas inflacionárias. A inflação projetada pelo mercado para 2009 subiu de 4,3% para 4,4% desde a divulgação do relatório de inflação de março. "O recado é que o cenário não é tão favorável como meses atrás", afirma Rosa. "Mas não seria correto interpretar essa projeção acima da meta como um sinal de que as coisas saíram do controle. O BC está agindo preventivamente e conseguirá controlar a inflação com uma alta relativamente pequena na taxa de juros."
Padovani atribui a deterioração das projeções do BC à alta da inflação corrente. A contaminação, segundo ele, ocorre por dois canais. Um deles é a deterioração das expectativas de inflação. Outro é pela inércia inflacionária. "Se a alta da inflação corrente fosse simplesmente transitória, ela não deveria contaminar horizontes tão longos de projeção, como 2009", afirma Padovani. "A piora das projeções de inflação para 2009 é um sinal de que a alta recente de inflação tem também efeitos permanentes."
Chamou a atenção dos analistas econômicos também um trecho da ata em que o BC diz que cresceram as chances de um reajuste nos preços dos combustíveis. "No mercado financeiro, ganhava força a visão de que, com a alta recente do petróleo, será inevitável um reajuste dos combustíveis neste ano", afirma Padovani. "A ata, de certa forma, corrobora essa visão do mercado."
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