segunda-feira, 19 de maio de 2008

Estudo sugere recuperação apenas parcial em Wall Street

E.S. Browning, The Wall Street Journal

Será que ela chegou para ficar ou é apenas uma bonança efêmera? É isso que os investidores querem saber sobre a alta recente das bolsas americanas.

Depois de um início de ano pedregoso, a Média Industrial Dow Jones subiu quase 11% desde 10 de março. Ela só está em queda de 8,3% em relação ao recorde de outubro passado, muito mais forte do que muita gente esperava.

Pessoas como Eric Bjorgen, da Leuthold Group, uma firma de administração de recursos e de análise com sede em Minneapolis, se perguntam se a alta é algo em que podem investir no médio prazo ou apenas um espasmo do mercado pessimista que logo vai se dissipar.

Para descobrir isso, Bjorgen analisou o processo de recuperação de dez ações. Ele queria saber quais os tipos de papéis que geralmente se valorizam quando o mercado enfrenta problemas sérios, e se são essas as ações atualmente em alta. Ele descobriu algumas anomalias. Durante os últimos 60 anos, as ações que lideravam a recuperação dos mercados eram geralmente ligadas ao consumidor final: hotéis, resorts, navios de cruzeiro, grandes varejistas, bancos e construção de residências. Os investidores apostavam numa retomada do consumo.

Desta vez, apenas alguns poucos integrantes desse segmento estão no cerne da alta, como as empresas de crédito pessoal, lojas de móveis e decoração e varejistas online. Estão puxando a recuperação mais e mais empresas da indústria pesada, que geralmente demoram para se valorizar durante a ascensão do mercado, especialmente as ligadas a carvão, aço, fertilizantes, petróleo e gases industriais.

Bjorgen diz temer que os investidores estejam enxergando as coisas de modo invertido. Eles estão mostrando confiança em áreas que subiram no fim do último período de alta, por causa da força da economia mundial. Não estão mostrando confiança nas ações ligadas a consumo final que geralmente lideram os períodos de recuperação prolongada, já que o consumo representa a grande maioria da atividade econômica nos Estados Unidos.

"Esse tipo de coisa sugere que este não é um mercado em alta e sim um avanço de um mercado em queda", diz Bjorgen.

Ele alerta que ainda é cedo demais para tirar conclusões definitivas. O mercado se recuperou por apenas dois meses e estudos sobre episódios de alta ocorridos no passado analisaram os ganhos em períodos mais longos. Mas, enquanto espera por sinais mais definitivos, a Leuthold Group mantém seus investimentos em estado neutro, com cerca de 50% em ações e o resto em títulos e dinheiro vivo.

Um número crescente de investidores está ficando mais otimista, o que ajuda a explicar a força recente das bolsas. As pessoas que mantinham seu dinheiro fora do jogo começaram novamente a entrar em campo, apreensivos com a possibilidade de ficar para trás em meio a uma alta. Surgiu uma visão mais ampla de que embora muitas oscilações ainda vão ocorrer, os índices mais amplos não cairão muito mais do que o nível mais baixo alcançado em 10 de março.

A esperança de dias melhores também vem se espalhando entre os economistas, encorajados pelos dados que indicam que as vendas do varejo não foram tão ruins quanto o esperado, assim como o crescimento e o desemprego, que vêm sugerindo que a economia pode estar evitando a recessão.

Mas também há quem duvide e eles se focam na mesma área que Bjorgen: o consumo.

A visão mais disseminada, segundo o economista Zach Pandl, da Lehman Brothers, é que o pacote de estímulo econômico do governo americano (com seus cheques de no mínimo US$ 600 por pessoa) deve manter a economia fora da recessão durante tempo suficiente para que as medidas tomadas pelo Fed, o banco central do país, para aumentar a liquidez façam efeito e, por sua vez, permitam uma recuperação econômica no longo prazo. A Lehman, contudo, prevê que a economia voltará a retrair-se no fim do ano, quando o consumidor americano finalmente perder o fôlego.

Até agora, o consumo tem se mostrado mais resistente do que o esperado e Pandl aponta que nos últimos anos as previsões apocalípticas para o consumidor americano sempre se mostraram erradas. Mesmo assim, ele ressalta dados do Fed que sugerem que as pessoas estão sustentando os gastos com mais dívidas do cartão de crédito, já que novas hipotecas e créditos garantidos por imóveis se tornaram difíceis de conseguir. Ele acredita que haja um limite até quando as pessoas poderão evitar o dia de acertar as contas. "No fim das contas, você só pode se endividar (com o cartão de crédito) até um determinado ponto", diz ele.

E, mais preocupante ainda, há os dados das execuções judiciais de hipotecas que já estão em andamento e da inadimplência dos tomadores, que mostram que haverá 1,5 milhão de execuções judiciais nos EUA este ano, ante 200 mil num ano normal, diz. O desemprego ainda está em 5%, bem abaixo nível a que a Lehman calcula que chegará, 6,3%, à medida que as empresas concretizam planos de cortar custos. Isso é um presságio de nuvens negras para o consumidor americano no segundo semestre.

Pandl e seus colegas da Lehman também acreditam que as dificuldades enfrentadas pelos americanos levarão a economia a um segundo declínio, com uma recuperação regada aos cheques do pacote federal durante o meio do ano e um retorno do desaquecimento mais para o fim e até 2009.

O Goldman Sachs também teme um segundo declínio, por muitas das mesmas razões. Enquanto o Goldman acha que a economia pode escapar da recessão durante o retorno do desaquecimento, teme que as bolsas sofram. "Há vários riscos para o mercado acionário no fim do ano", como a economia em desaquecimento, otimismo demais quanto aos resultados das empresas e crescimento do desemprego, diz Andrew Tilton, o economista da Goldman.

Essa incerteza é um dos motivos pelos quais o mercado acionário tem estado vacilante nas últimas semanas, em alta num dia e em queda no outro. Alguns analistas também apontam que o período de maio a setembro é historicamente fraco para o desempenho das bolsas, especialmente durante anos em que há campanha presidencial nos EUA - mais uma razão para ficar apreensivo.

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