sexta-feira, 23 de maio de 2008

Petrobras retoma o posto de queridinha

Depois de passarem o primeiro semestre do ano passado no ostracismo, as ações da Petrobras voltaram a ser as "queridinhas" do mercado. Esse movimento começou na segunda metade de 2007, mas ganhou força mesmo neste ano, especialmente nas últimas semanas. Em junho do ano passado, as preferenciais (PN, sem voto) da estatal eram cotadas a R$ 25,18, subindo apenas 5,49% no semestre ante uma alta 22,30% do Índice Bovespa. Já neste ano, até quarta-feira, os papéis se valorizaram 19,55%, cotados a R$ 52,51, para 13,16% do Ibovespa. Vários motivos impulsionaram as ações. A começar pelo preço do petróleo, que engatou uma consistente trajetória de alta. O barril da commodity no fim de 2007 era negociado a US$ 95,98 e ontem fechou a US$ 130,81 após atingir US$ 135, novo recorde, na parte da manhã. Houve o aumento no preço dos combustíveis no Brasil, após três anos sem reajustes. As descobertas de novas reservas como Tupi, Júpiter e Carioca, que devem aumentar muito a produção da companhia, corroboraram o movimento ascendente dos papéis.

A dúvida é se as ações ainda possuem potencial de valorização depois de subirem tanto. Responder essa questão não é importante apenas para os acionistas da Petrobras. Como preferenciais e ordinárias (ON, com voto) representam mais de 15% do Ibovespa, o que acontece com a empresa geralmente dita o rumo do mercado. Na terça, os papéis da companhia subiram com a notícia de que brevemente seria anunciado o resultado da exploração da reserva Bem-te-vi, na Bacia de Santos. No dia seguinte, as ações voltaram a se valorizar, com a confirmação da companhia da presença de petróleo na reserva. Ontem, feriado no Brasil, os American Depositary Receipt (ADR, recibo de ações), negociados nos EUA, da Petrobras caíram 4,20%, com as incertezas sobre o tamanho de Bem-te-vi, além da queda do petróleo.

Com a valorização das ações, os múltiplos da Petrobras, como o Preço sobre Lucro (P/L), ficaram próximos dos indicadores das petrolíferas internacionais. O P/L é um referencial que estima em anos o tempo de retorno do investimento na ação e, portanto, quanto menor, melhor para o investidor. A princípio, os múltiplos mais próximos de suas concorrentes seria uma justificativa para imaginar que a alta dos papéis da companhia está próxima do fim. Não é bem assim. Entre as grandes empresas do setor no mundo, a Petrobras é a única em que o volume de novas reservas ultrapassa a produção atual de petróleo. "Isso significa que ela tem mais para crescer no futuro do que todas as concorrentes, o que justifica a continuidade da valorização das ações", diz o analista do Banco Geração Futuro de Investimentos Lucas Brendler.

As novas reservas na camada pré-sal podem, no mínimo, duplicar a produção da companhia, que está entre 11,5 bilhões e 12 bilhões de barris, lembra Brendler. Só a reserva de Tupi pode agregar entre 5 e 8 bilhões de barris. "Se Júpiter e Carioca tiverem a mesma ordem de grandeza, as três juntas podem garantir pelo menos 15 bilhões de novos barris, mais do que tudo que a companhia produz hoje."

Existe a dúvida se o custo de extração desse petróleo na camada de pré-sal, em águas profundas, compensará a exploração. Brendler acredita que sim tanto pelo custo da extração, que vem caindo, quanto pelo preço do petróleo. "O primeiro poço perfurado no pré-sal custou US$ 240 milhões e a última perfuração custou US$ 60 milhões", diz. Já quanto ao preço do petróleo, o analista acredita que é bem possível que ele bata os US$ 150, US$ 160 o barril.

Nem tão otimista assim

Nem todos, no entanto, acreditam que o petróleo continuará subindo e que as ações da Petrobras permanecerão com esse céu de brigadeiro. Para o diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ e economista-chefe da Plenus Gestão de Recursos, Alexandre Espírito Santo, a commodity dificilmente passará ilesa à desaceleração dos EUA que, na opinião dele, irá se refletir no crescimento mundial. A análise gráfica também mostra que é momento de os investidores terem cautela com Petrobras. "Em abril, os papéis romperam os R$ 42,50, que era uma grande resistência, e agora se aproximam dos R$ 53, que é outro nível importante", diz Espírito Santo. "Esses podem ser sinais de que pode estar surgindo um movimento de realização acentuado", completa.

O estrategista para pessoa física da Itaú Corretora Flávio Conde acredita que essa valorização do petróleo é uma bolha especulativa e que irá prejudicar os mercados, já que deve arrefecer o crescimento mundial. "A cada US$ 10 de aumento do petróleo, o mundo cresce meio ponto percentual a menos", diz Conde, que afirma que o razoável seria a commodity estar nos níveis do fim do ano passado, na casa dos US$ 95. Já para as ações da Petrobras, segundo ele, o preço justo é entre R$ 46,90 e R$ 48,80, o que significa uma queda entre 7% e 10% ante o fechamento de quarta.


Daniele Camba é repórter de Investimentos

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