segunda-feira, 17 de novembro de 2008

História reforça idéia de rali no fim do ano

Daniele Camba

Todo fim de ano é a mesma coisa: há sempre um grupo de analistas e investidores que insistem na tese de que os mercados costumam ter uma recuperação nos últimos pregões que antecedem o réveillon. A história, no entanto, comprova o que essas pessoas percebem apenas empiricamente. Levantamento feito pelo diretor do curso de relações internacionais da ESPM-RJ e economista-chefe da Way Investimentos, Alexandre Espírito Santo, com o Índice Bovespa e o Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, nos últimos nove anos, aponta que, na maioria esmagadora dos anos, os dois índices registram valorizações a partir da segunda quinzena de novembro até o último pregão do ano. Agora, apesar do tsunami que assolou os mercados do mundo inteiro, a expectativa é de que a história novamente se repita e, daqui até o último negócio de 2008, as ações passem por alguma recuperação, para alegria dos investidores que até agora só amargaram perdas.

Desde 1998, segundo o levantamento, em apenas dois anos o Ibovespa caiu nos últimos 45 dias de pregão. Em 1998, o índice se desvalorizou 15,23% . Naquele ano, houve a crise da Rússia e o Brasil estava às vésperas da sua crise cambial, que culminou com a maxidesvalorização do real ante o dólar no início do ano seguinte. Já no ano passado, nesse mesmo período, o Ibovespa caiu 1,12% com o agravamento da atual crise financeira, que está sendo considerada a pior desde a grande depressão americana em 1929. Na média, o Ibovespa se valorizou 8,37% no último mês e meio de cada ano. Excluindo-se os dois anos de queda, essa média sobe para 12,50% - nada mau para um período tão curto.

Já nos EUA, as estatísticas são mais animadoras. Apenas em 2002 o Índice Dow Jones caiu, 2,77%. Mas exatamente por ser um mercado muito mais estável do que o brasileiro, as valorizações são bem mais modestas. Conseqüentemente, os ganhos médios são de 1,93%.

Para o responsável do estudo, o resultado é que, mesmo em épocas de grande turbulência, o investidor reúne forças para apostar numa reviravolta do mercado. "Não há dúvida de que esta crise é muito grave, no entanto, o estouro da bolha da Nasdaq (bolsa americana de tecnologia), em 2000, por exemplo, e o atentado às torres gêmeas nos EUA, em 2001, também foram acontecimentos bastante negativos e, mesmo assim, o investidor não desistiu de comprar ações, acreditando numa possível melhora do cenário."

Finanças comportamentais

Vários motivos explicam o rali dos mercados no fim de cada ano. Um deles nada mais é do que o fator psicológico dos investidores, que são tomados por um sentimento de otimismo de que os tropeços ficarão para trás junto com o ano que chega ao fim e que o novo ano trará uma maré de boas notícias. Esse tipo de movimento tem sido amplamente analisado pelos estudiosos das finanças comportamentais. Uma outra explicação, um pouco menos nobre e explícita, é o esforço dos gestores de fundos de investimentos e fundos de pensão para puxar os preços das ações para cima, influenciando positivamente as cotas de fim de ano de suas carteiras.

Por mais sonhador que pareça, Espírito Santo acredita que há grandes chances de a bolsa repetir o tradicional rali, já que o terreno é fértil para isso. Primeiro porque, ao que tudo indica, a pior fase da crise financeira pode ter ficado para trás e as ações já caíram muito, refletindo de quebradeira de bancos à recessão nas principais economias desenvolvidas. Já na parte comportamental, as expectativas também são positivas. Com a entrada de um novo presidente americano, Barack Obama, os investidores daquele país podem ter uma esperança adicional de que a vida irá melhorar, diz o professor e economista. Se o rali realmente ocorrer e o Ibovespa subir os 8,37% da média dos últimos anos, ele encerrará 2008 aos 38.785 pontos ante o fechamento de sexta-feira. Isso é bom, mas ainda a léguas dos 90 mil pontos que alguns bancos projetavam antes de a coisa ficar feia.

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