quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O que esperar de 2009

Por Luciana Monteiro, de São Paulo

O que será do meu bolso em 2009? Esta é a pergunta que muitos investidores se fazem depois de um ano tão conturbado como o de 2008. Após cinco anos de ganhos, a exemplo da seleção de futebol, o hexa não veio para a bolsa brasileira e o Índice Bovespa acumula perdas de 42% até o dia 29. Já o dólar, que andava meio esquecido entre as aplicações financeiras, encerrará o ano na liderança, com ganhos na ordem de 36%, juntamente com o ouro, com alta de 31%.

Para 2009, os economistas dizem que será preciso apertar os cintos, pois o cenário promete ainda muita volatilidade. A maioria acredita, no entanto, que o céu deverá começar a clarear no segundo semestre, à medida que os dados sobre o crescimento da economia mundial sejam divulgados e o tamanho do problema mensurado.

Mas o temor de um risco sistêmico por conta da quebra de instituições financeiras, como ocorreu em outubro, quando o Ibovespa caiu 24,80%, parece ter ficado para trás. A grande incógnita agora é saber o impacto da crise na economia real. Além de acompanhar o desempenho da economia dos Estados Unidos e Europa, os investidores terão de monitorar de perto a economia da China, que vem puxando boa parte do crescimento mundial.

Diante de tanta indefinição, o investidor pode ficar tentado a apostar no dólar em 2009, mas os economistas não recomendam a moeda americana como aplicação. Enquanto hoje os aplicadores só pensam em proteger o patrimônio, na segunda metade do ano eles devem voltar a buscar rentabilidades diferenciadas, avalia Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB. Por isso, ele estima que o dólar deve voltar a cair. "Não vejo o dólar na casa dos R$ 2,50 por muito tempo", diz o executivo. A equipe de economistas do WestLB trabalha com um dólar a R$ 2,10 para o ano que vem e de R$ 1,80 para 2010. "Os fundamentos sugerem real mais forte e, com o câmbio se apreciando, a pressão inflacionária diminui", afirma.

O dólar só é indicado como diversificação de patrimônio e funciona como uma espécie de seguro, avalia o administrador de investimentos Fabio Colombo. "Neste ano, quem tinha uma parte dos recursos em dólar não sofreu tanto, mas nos anos anteriores perdeu", lembra ele, que recomenda somente de 10% a 15% do patrimônio em dólar.

Mas e quanto ao ouro? Para investir na commodity, o investidor pode comprar contratos que representam 250 gramas de ouro na BM&F por meio de uma corretora. Isso significa que ele terá de pagar um percentual de corretagem para comprar os contratos. O metal fica guardado na BM&F ou em um banco cadastrado e o investidor tem de pagar uma taxa de custódia, cobrada mensalmente. Vale lembrar que os contratos de ouro não têm grande liquidez, o que quer dizer que o investidor pode ter dificuldade em vendê-los quando quiser, lembra Colombo. É possível também comprar o ouro e levar para a casa, mas é algo que o administrador de investimentos não recomenda, por considerar muito perigoso. Além disso, se o investidor quiser vender depois será exigido uma análise de pureza do metal.

Com relação à bolsa, o desempenho do Ibovespa vai depender de como as economias reagirão a essa enchente de recursos que os bancos centrais estão injetando nos países, além do impacto dos cortes de juros ao redor do mundo, diz Rodrigo Menon, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. Com os Estados Unidos, Europa e Japão em recessão, a China é a economia a ser monitorada, pois é a maior consumidora de commodities, cujos preços já caíram bastante, lembra. "O Brasil está particularmente suscetível à expansão da China e ainda não é possível ter a dimensão clara da desaceleração por lá."

As empresas americanas e européias tendem a exibir resultados muito ruins no primeiro semestre e ainda não é possível saber se esses números já foram incorporados nos preços das ações, afirma Menon. Mas, para o executivo, à medida que o cenário for clareando, a bolsa poderá se recuperar e, inclusive, superar levemente o CDI (o juro interbancário que serve de referência para as aplicações mais conservadoras). "Não me arrisco a dizer que o pior já passou, mas também não dá para afirmar que o pior ainda está por vir", diz.

O Índice Bovespa pode até cair um pouco no primeiro trimestre, depois da alta do fim de ano, acredita Glauco Cavalcanti, gestor de renda variável do Credit Suisse. Pessimista no curto prazo, mas otimista no longo, ele alerta os investidores que se sentem atraídos pela forte queda dos papéis, lembrando que os fundamentos da economia e das empresas também mudaram. Em 2009, Cavalcanti estima que o Ibovespa fechará no azul, com 15% a 20% de alta em relação ao fim de 2008, superando a renda fixa. "Mas quem aproveitar as quedas, como a prevista para o início do ano, pode ganhar mais, talvez 30%", diz. Para ele, olhando no horizonte de um ano, quem comprar no primeiro trimestre dificilmente vai perder dinheiro.

A preferência de Cavalcanti hoje está em bancos, elétricas, mineração. Ele está pessimista com Petrobras, pela queda do petróleo no exterior, que exigirá ajustes na empresa pela receita menor. E está fora dos setores de consumo e construção civil, que devem ser afetados pelo desaquecimento econômico do primeiro trimestre e pela queda no valor dos imóveis.

Após a forte queda do Índice Bovespa em 2008, o preço de muitas ações ficou bastante atraente, avalia Lika Takahashi, estrategista da Fator Corretora. "Para os investidores que têm horizonte de longo prazo, de pelo menos cinco anos, estamos num momento histórico para comprar ações baratas", avalia. Para o ano que vem, as projeções da corretora apontam para um Ibovespa na casa dos 51 mil pontos no fim de 2009, o que embute um potencial de valorização de 37% para o próximo ano.

A estrategista diz gostar dos chamados setores defensivos para 2009, de empresas menos vulneráveis, com fluxos de caixa mais estáveis e que são boas pagadoras de dividendos. Nesse segmento, Lika cita as ações de empresas de energia elétrica, que tendem a distribuir bons dividendos. A executiva também vê com bons olhos os setores de telecomunicações e bancos grandes. O crédito deve se desacelerar, mas os bancos grandes ainda vão apresentar retornos satisfatórios, avalia Lika. "A grande questão é como o Bradesco vai se posicionar agora, se será via aquisições ou crescimento orgânico."

Na opinião da analista, o investidor deve neste momento privilegiar empresas com políticas consistentes de investimento. "É hora de premiar as empresas que tenham prudência e olhar bem o fluxo de caixa da empresa."

O primeiro semestre de 2009 não será muito diferente do segundo de 2008, diz Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável da Unibanco Asset Management. As empresas estarão divulgando o primeiro resultado sob o efeito da desaceleração econômica. Nos números a serem divulgados, haverá o impacto da disparada do dólar, da crise de crédito, do fechamento das linhas internacionais e do aumento do custo do dinheiro em outubro, novembro e dezembro. Mesmo o esperado pacote econômico do novo presidente, Barack Obama, não dará resultado rapidamente.

Na renda fixa, o Banco Central deverá cortar os juros no primeiro semestre a adotar uma postura mais cautelosa na segunda metade do ano, avalia Padovani, do WestLB, que trabalha com uma Selic em 12,25% no fim do ano que vem. O primeiro corte pode vir já na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 20 e 21 de janeiro.

Apesar da expectativa de queda da Selic, os juros reais (descontando-se a inflação) no Brasil ainda estão elevadíssimos, lembra Fabio Colombo. Portanto, ele recomenda para os investidores os fundos DI, que acompanham o movimento da taxa de juros. Além disso, os papéis atrelados ao IPCA continuam interessantes, avalia. Mas com relação aos papéis prefixados, o administrador avalia que o mercado já antecipou os cortes da Selic e a relação risco/retorno não se mostra interessante para o investidor.

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