domingo, 28 de dezembro de 2008

Setor intangível ainda cria empregos

Michael Mandel, BusinessWeek

A disputa entre os setores tangíveis e intangíveis da economia dos Estados Unidos acabou - e os intangíveis venceram. Desde que a economia entrou em recessão, há um ano, os setores que produzem bens físicos ou tangíveis, como construção, indústria, varejo e transportes, perderam a impressionante cifra de 1,8 milhão de postos de trabalho. Isso inclui uma queda de 260 mil vagas na muito acossada indústria automobilística e na sua rede de revendas, e uma queda de 300 mil empregos na construção residencial.

Enquanto isso, o setor intangível, que engloba setores como educação e serviços de saúde, tem recebido bem menos atenção que o de carros e habitação. Desde o início da recessão, em dezembro de 2007, os setores produtores de bens intangíveis acrescentaram aproximadamente 500 mil postos de trabalho.

Na verdade, os problemas atuais nos setores de automóveis e habitação são indicativos de uma mudança de longo prazo. A economia dos EUA, em parte devido à globalização, mas também em parte em função da natureza do crescimento baseado no conhecimento, tem rumado na direção de gerar produtos que têm efeitos duradouros, mas que não têm formas sólidas e visíveis.

Um destes bens intangíveis produzidos pelo sistema educacional é o capital humano, que significa mais uma fase para o valor de longo prazo da educação.

Outro intangível importante é o capital intelectual, que é a soma de conhecimento científico, empresarial e financeiro e das realizações artísticas.

Por fim, os EUA estão gastando pesadamente na formação de capital de saúde. Este é o valor real da saúde de uma pessoa para toda a sua vida, segundo David Cutler, economista da Universidade Harvard e importante assessor do presidente eleito Barack Obama.

Esses bens intangíveis, cruciais para a economia atual baseada em conhecimento, não são adequadamente mensurados pelos números do PIB (Produto Interno Bruto) produzidos pelo Escritório de Análise Econômica. Os intangíveis, porém, geram empregos na prática. Consideremos o ciclo de crescimento econômico passado, que se estendeu de março de 2001 até dezembro de 2007. Ao longo deste intervalo de tempo, apenas educação e saúde agregaram 3,5 milhões de postos de trabalho, praticamente 63% de todos os empregos líquidos gerados pela economia.

No total, o setor intangível foi responsável por aproximadamente 75% do crescimento do nível de emprego. Na comparação, o setor tangível, encabeçado pelo manufatureiro, perdeu cerca de 1,8 milhão de postos de trabalho ao longo do mesmo período.

Certamente, esta divisão entre setores tangível e intangível é um pouco confusa na prática. Algumas empresas manufatureiras, como Intel e IBM, são grandes produtoras de intangíveis, na forma de pesquisa e conhecimento tecnológico. Empresas petrolíferas, que se dedicam ao ato tangível de perfurar o solo para encontrar petróleo, também investem muito no conhecimento intangível de apontar onde prospectar petróleo.

Ao mesmo tempo, o setor intangível não está imune à retração econômica. O setor de publicações está perdendo vagas, no momento em que jornais, revistas e empresas do setor livreiro ainda se debatem com a passagem para formatos digitais. E o setor financeiro está experimentando enormes perdas de postos de trabalho, cujo ritmo só deverá se acelerar nos próximos meses.

Os setores de educação e serviços de saúde, enquanto isso, estão vinculados a orçamentos estaduais e municipais, que provavelmente implodirão sem a ajuda do governo federal.

Por enquanto, pelo menos, o setor intangível, especialmente o de cuidados com a saúde, se manteve extraordinariamente aquecido. Em setembro de 2006, previ que 30% a 40% de todos os novos empregos gerados ao longo dos próximos 25 anos estariam em serviços de saúde. Este prognóstico de longo prazo revelou ser uma avaliação contida, no curto prazo. Desde que essa previsão foi publicada, o setor de serviços de saúde acrescentou praticamente 800 mil postos de trabalho, ao passo que o nível de emprego declinou acentuadamente no resto da economia.

Para Obama e seu governo prestes a assumir, a questão está em saber se a passagem para produção intangível representa uma estratégia econômica sustentável no longo prazo. Melhor educação, aprimoramento da saúde e mais pesquisa são obviamente necessários para serem globalmente competitivas. Ainda não está claro, porém, se um país como os EUA pode se permitir deixar todos os seus setores tangíveis se transferirem para o exterior.

Isto explica porque Washington está se debatendo com o complicado problema de ter de gastar bilhões para socorrer as montadoras de veículos nacionais. Mas os americanos que querem empregos não têm este problema. Para eles, o setor intangível é o caminho.

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