Os rumores de que o governo poderá baixar um conjunto de medidas cambiais destinadas a barrar a entrada do capital externo atraído pelo novo status de risco do Brasil fizeram o dólar fechar ontem em alta após acumular baixa de 3,23% desde o anúncio feito pela S&P, na tarde do dia 30. A moeda fechou cotada a R$ 1,6580, em alta de 0,48%. Na máxima do dia, chegou a subir 0,85%, a R$ 1,6640. A perda de ímpeto resultou de desmentidos algo tímidos e nada explícitos da equipe econômica. Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, guardou silêncio o do Planejamento, Paulo Bernardo, disse desconhecer estudos dentro do governo a respeito do fluxo de recursos externos. E, da Suíça, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao garantir que o dinheiro estrangeiro que entrará como conseqüência do grau de investimento será de qualidade, sugeriu implicitamente a inutilidade de se taxá-lo já que, por sua natureza, busca prazos maiores que o smart money especulativo.
Não interessa à Fazenda e ao Planalto desmentir categórica e irrefutavelmente a idéia de que será, após o selo de segurança da S&P, necessária a imposição de algum tipo de controle de capital. Será conveniente que o mercado opere sempre com a suspeita de que, se exagerar, uma porta-giratória seletiva será posta à entrada. Pelo diagnóstico da ala desenvolvimentista do governo, o afluxo de dólares poderá, ao apreciar ainda mais o câmbio, derrubar o superávit da balança comercial e ampliar o déficit em transações correntes. Essa interpretação é vista com ressalvas pelos analistas do mercado.
Pela lógica do modelo novo-clássico de política econômica atualmente em vigor no Brasil, o juro básico terá de permanecer elevado não só para combater a inflação mas também para debelar o déficit em transações correntes. O carimbo de economia segura ao investimento externo, conferido pela S&P na semana passada, pode agravar os dois problemas. Pode desinibir, por excesso de confiança, o repasse aos preços dos custos majorados pelas importações e petróleo mais caros. E, pela ótica da análise mais ortodoxa, o déficit nas contas correntes cresce velozmente devido ao aumento acelerado da absorção relativamente ao produto. "Com o comportamento benigno dos fluxos de capitais, que se acentua com a promoção ao grau de investimento, o câmbio real tende a se valorizar, sendo fundamental reduzir a absorção para manter a sustentabilidade das contas correntes", diz relatório da consultoria do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore.
Há duas maneiras de se fazer isso: ou pela política fiscal ou pela monetária. A forma de fazê-lo através da política fiscal não é elevando os superávits primários, os quais servem apenas para garantir a solvência da dívida pública, mas sim cortando gastos de consumo do governo, que é, na opinião de Pastore e da maior parte do mercado, a forma mais eficiente de reduzir a absorção. "Mas esta opção não está no cardápio do governo", diz o estudo. Isso empurra o BC a realizá-lo por meio do crowding-out do consumo e dos investimentos privados. Ou seja, a opção é pelo arrocho mesmo.
Os juros subiram no mercado futuro da BM&F não só porque o dólar parou de cair. O contrato para janeiro de 2010 avançou de 13,55% para 13,68%, enquanto a taxa para janeiro de 2011 evoluiu de 13,43% para 13,62%. Um outro motivo foi citado pelos tesoureiros para justificar as taxas mais elevadas. A razão foi a nova rodada de deterioração das expectativas de inflação das instituições pesquisadas pelo Boletim Focus. O pretexto é tecnicamente falho. A projeção que piorou de forma mais dramática foi à relativa ao IPCA para o acumulado de 2008. De acordo com a mediana das cem instituições ouvidas, o prognóstico subiu de 4,79% para 4,86%. E só para o índice oficial de 2008 a expectativa supera a meta central de 4,5%. Para 2009, a projeção subiu de 4,40% para 4,49%. E, para os próximos 12 meses, até caiu, de 4,43% para 4,42%. Acontece que as decisões puras de política monetária tomadas hoje não têm efeito sobre o IPCA de 2008. A menos que o BC resolva elevar as alíquotas incidentes sobre os depósitos compulsórios, cujo efeito de compressão da liquidez e elevação dos juros do crédito é imediato, as decisões de aumento da taxa Selic só surtirão impacto sobre a demanda no começo do ano que vem. Ou seja, o IPCA deste ano só não estará dado se o Copom resolver dar um choque de juros para valer. Mas isso amplia a distorção segundo a qual o país que mais paga juro real no mundo já desfruta do grau de investimento. Se é seguro, não precisa pagar juro alto.
Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças
luiz.guimaraes@valor.com.br
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*Additional Note: 11/13/24: We can't be solution-focused in our trading
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Há 4 dias
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