terça-feira, 6 de maio de 2008

Emoção e investimento em bolsa, mistura perigosa

Mauricio Carvalho
Devemos tomar cuidado com nossas emoções, pois elas podem ser prejudiciais à nossa saúde financeira. Acredito que tentar acertar as oscilações da bolsa é um exercício fútil e estar sempre no mercado é a melhor maneira de ganhar dinheiro. É muito melhor manter os investimentos e agüentar as quedas - embora seja dificílimo aceitar ver o valor do nosso patrimônio se desvalorizar - para depois aproveitar as subidas.

Pouca gente consegue saber quando as ações vão subir ou cair. Se olharmos o desempenho pífio dos fundos multimercados nos últimos meses, teremos um bom exemplo de que mesmo equipes bem qualificadas, focadas e motivadas, não conseguem acertar sempre. A estratégia correta é comprar quando se acredita que os preços estão bons e não quando o mercado está subindo. E vender quando os preços estão altos, e não quando os papéis estão caindo. Provavelmente, haverá meses em que a performance de sua carteira se descolará do índice, mas essa é a única maneira de se criar valor de maneira sustentável com investimentos em ações.

Vamos aos fatos. Digamos que um investidor tenha participado da espetacular subida da bolsa nos últimos cinco anos. Nos 62 meses decorridos desde o início de janeiro de 2003 até o fim de fevereiro de 2008, por exemplo, o Ibovespa acumulou uma rentabilidade de 463%. No mesmo período, o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) rendeu 123%. Mas a bolsa tem uma particularidade: não sobe sempre. Na realidade, existe muita variação da rentabilidade entre os meses, sendo que vários deles podem até mesmo apresentar quedas. Já o CDI é uma aplicação muito mais tranqüila, as variações mensais são sempre parecidas.

O investidor que acha que consegue se antecipar ao mercado vai tentar acertar quais desses 62 meses foram os meses bons. Resultado: vai entrar depois que a bolsa subir e vai sair depois que as ações caírem. E, nessa estratégia, o investidor provavelmente vai perder dinheiro porque as subidas são sempre muito concentradas em poucos meses. Se ele fizer a aposta errada e ficar de fora em apenas alguns desses meses bons, toda a sua rentabilidade ficará comprometida. Se nesse período de 62 meses, que foi espetacular para investimentos em bolsa, ele tivesse ficado fora nos oito melhores meses, ou apenas 13% da amostra, seu rendimento acumulado teria caído para 117% - abaixo do CDI.

Ou seja, um erro de pouco mais de 10% em sua estratégia de "market timing" faria com que o investidor corresse muito risco, entrando e saindo da bolsa, e não ganhasse nenhum prêmio por isso. Seria muito melhor e mais tranqüilo ficar aplicado no CDI e ir jogar tênis. Mais um detalhe: ele ainda teria todo o custo de corretagem e o trabalho de análise e controle das ações. É claro que ninguém espera que um investidor bem informado erre todos os melhores meses da bolsa, mas meu argumento é que, mesmo se ele errasse apenas alguns meses, o impacto na rentabilidade seria considerável e comprometeria todo o esforço para prever os movimentos do mercado. Conclusão: para se ganhar dinheiro em bolsa é preciso estar sempre na bolsa.

Mauricio R.A. Carvalho é professor no MBA do IBMEC-SP e sócio da Portfolio Administração de Recursos

E-mail: mauricioRAC@isp.edu.br

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