São Paulo, 29 de Julho de 2008 - Após ter anunciado algumas iniciativas que se mostraram inócuas para segurar o câmbio e ajudar o exportador brasileiro, o governo parece ter se rendido ao fato de que o movimento de valorização do real frente ao dólar é mais forte do que supunha. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou que não pensa em tomar mais medidas para conter o movimento. "Não faremos nada em relação ao dólar", disse ao sair de evento promovido pelo Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef).
De acordo com o ministro, a despeito da melhora na classificação de risco do País -desde maio o Brasil foi elevado a grau de investimento por duas agências de rating - e do ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, até o momento, não foi observado aumento significativo no ingresso de dólares, que fossem o motivo claro para elevar a cotação do real.
Além disso, afirmou, as exportações estão indo muito bem. Dados divulgados ontem pelo ministério mostram que as vendas ao exterior somaram US$ 5,431 bilhões na quarta semana de julho, valor recorde semanal. As importações totalizaram US$ 3,993 bilhões. Dessa forma, houve superávit comercial de US$ 1,438 bilhão, o segundo melhor do ano atrás da segunda semana de maio (US$ 1,471 bilhão).
No mês, até o dia 27 de julho, os embarques chegaram a US$ 17,275 bilhões com média diária de US$ 909,2 milhões, número 41,7% maior na mesma medição de mesmo mês de 2007 (US$ 641,8 milhões). Impulsionados pelo preço em alta das commodities, o valor exportado de produtos básicos cresceu 71,4% e o de semimanufaturados, 59,5%. Já o de manufaturados, cuja pauta também tem itens influenciados pelas cotações internacionais, como álcool e óleos combustíveis, apurou elevação de 14,7%.
Os desembarques totalizaram US$ 13,848 bilhões ante US$ 10,776 bilhões apurados em igual período do ano passado. A média diária foi US$ 728,8 milhões, com alta de 48,8% sobre mesma etapa de 2007 (US$ 489,8 milhões).
Ao ser questionado sobre a queda consecutiva do valor do superávit comercial, Jorge respondeu não ver problema nisso, pois "o saldo deve ver o máximo possível o comércio equilibrado". Seguindo uma tradição iniciada por seu antecessor, Luiz Fernando Furlan, Jorge não quis fazer projeção para o saldo comercial neste ano. Porém disse acreditar ser bem factível a expectativa de US$ 23,15 bilhões da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Para Miguel Jorge, com exceção do preço do petróleo, que é muito influenciado pela especulação, é improvável que as cotações das commodities apresentem recuo significativo a ponto de reverter a situação atual das exportações. "Pode haver pequena queda (do preço) ou se manter no patamar atual, pois as pessoas na Índia e na China vão continuar comendo", afirmou, complementando que o Brasil tem agricultura mais eficiente e competitiva do mundo e poucos podem concorrer. "Por isso, muitos países não nos deixam entrar".
Doha
Miguel Jorge defendeu a assinatura de acordo, mesmo que modesto, entre os países que participam da Rodada Doha. "Assinar um acordo menos ambicioso é melhor do que não assinar nenhum".
Jorge defendeu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, das acusações traição: "Duvido que Amorim, que tem boas relações com os ministros indiano, Kamal Nath, e argentino, Jorge Taiana, faça algo sem falar com parceiros", disse, lembrando que o Brasil não tem tradição diplomática de fazer qualquer movimento sem negociar antes.
Simone Cavalcanti
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