terça-feira, 5 de agosto de 2008

Aperto ainda fará efeito, diz Meirelles

Rafael Rosas, Valor Online, do Rio
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ainda considera prematura a análise de que o aperto dos juros, iniciado em abril, já tenha surtido efeito sobre a trajetória de inflação. O relatório Focus desta semana aponta queda nas estimativas de inflação para 2008, segundo as projeções das maiores instituições financeiras do país.

"É um pouco prematuro ainda para dizermos até que ponto já existe um reflexo das políticas que foram adotadas neste ano, mas é importante mencionar que existe o compromisso de que a inflação esteja no centro da meta em 2009", frisou Meirelles. Ele participou do 10º Seminário de Metas de Inflação, promovido pelo BC, no Rio.

Meirelles lembrou que existe um processo de defasagem em relação à atuação do BC e seu efeito prático sobre a economia. Fez questão de salientar que qualquer custo da alta dos juros sobre o crescimento do PIB se justifica como forma de evitar a volta do processo inflacionário.

"O maior custo para a sociedade é o aumento da inflação", afirmou. "Portanto, o que estamos promovendo é um ajuste da oferta e da demanda da nossa economia, de maneira que possamos assegurar a continuada estabilização da economia brasileira". Meirelles argumentou que a inflação desorganiza a produção, aumenta o nível de imprevisibilidade e, por conseqüência, reduz o nível de investimento no país.

O presidente do BC defendeu o regime de metas de inflação e afirmou que o sistema é apropriado para lidar com episódios de aceleração inflacionária como o atual.

Para Meirelles são precipitados os questionamentos acerca do futuro do regime de metas suscitados, segundo ele, pelas pressões sobre os preços das commodities e por descompasso entre o ritmo de crescimento da demanda e da oferta em diversos países. "No atual contexto global, creio que o regime de metas de inflação poderá contribuir efetivamente para restabelecer níveis de inflação baixos e estáveis", disse.

O analista-chefe do Santander no Brasil e ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman acredita que a taxa básica de juros deveria fechar ao redor de 14,75% ao ano em 2008 para trazer a inflação para perto do centro da meta de 4,5% em 2009. Schwartsman defendeu uma atuação firme do BC nesse sentido e ponderou que a questão não é quanto do crescimento da economia será comprometido com o aperto monetário, mas quanto se evitará de problemas no futuro caso se espere um aumento maior da inflação para que medidas mais duras sejam tomadas.

Também presente ao seminário, o economista Stanley Fischer, presidente do Bank of Israel (banco central), defendeu uma atuação dura dos bancos centrais com o objetivo de trazer as taxas de inflação para perto dos centros das metas e criticou o discurso de que um pouco mais de inflação vale a pena para garantir taxas de crescimento mais altas.

Fischer defendeu a idéia de que as metas de inflação fossem fixadas por lei, de forma a evitar pressões políticas sobre os bancos centrais em defesa de mais crescimento à custa de mais inflação.

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