quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Fed mantém juros e sinaliza estabilidade

Regina Cardeal
Da agência AE/Dow Jones

O banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), enfrentando uma crise nos mercados de crédito que já dura um ano, manteve as taxas de juro inalteradas em 2% ao ano, como era esperado. Manifestando preocupação com o aumento dos preços, assim como com o enfraquecimento da economia, o comunicado divulgado não deu sinais de que o banco central planeje mudar sua política monetária no futuro próximo.

A nota divulgada ao término da reunião afirma que a inflação continua sendo uma preocupação "significativa", mas acrescenta que as condições nos mercados de crédito, trabalho e moradia ainda representam um risco para o crescimento econômico. Segundo analistas, o texto sugere que o Fed provavelmente não elevará o juro pelo menos até o fim deste ano.

Observadores do Fed opinaram que o banco central foi muito menos duro do que poderia ter sido, depois de vários membros-votantes do Fed terem dado recentemente tantas declarações agressivas contra a inflação. O Comitê de Mercado Aberto (Fomc), responsável pela política monetária do Fed, votou por 10 a um para que a taxa dos Federal Funds, os títulos que lastreiam os empréstimos entre os bancos no overnight, permanecesse inalterada em 2% pela segunda reunião consecutiva.

REDUÇÃO DE TAXA. A taxa foi reduzida 3,25 pontos porcentuais entre setembro e abril para limitar o contágio da crise nos mercados de crédito e moradia à economia em geral. A taxa de redesconto, juro cobrado pelo Fed em seus empréstimos diretos aos bancos, permaneceu em 2,25% ao ano.

O presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, foi dissidente pela quinta vez consecutiva, ao defender a elevação do juro. Pelo segundo encontro seguido, ele foi o único a discordar da decisão majoritária. Isso sugere que a autoridade monetária está, em sua maioria, unida sobre adotar uma postura cautelosa em relação aos juros.

Elizabeth Duke, que assumiu oficialmente ontem uma das cadeiras do Conselho de Governadores do Fed, após prestar juramento no gabinete do presidente da instituição, Ben Bernanke, votou com a maioria pela manutenção. O comunicado mostra que o Fed continua incerto sobre o futuro da economia e, por isso, pode ter deixado todas as opções em aberto.

"Embora os riscos de baixa do crescimento continuem, os risco de alta da inflação também são uma preocupação significativa", afirma o texto. Com os preços do petróleo caindo nas últimas semanas, o Fed ressaltou que a inflação elevada foi "impulsionada por aumentos anteriores" nos preços de energia e de outras commodities. O banco central manteve sua análise da reunião de junho, de que a inflação deve se moderar mais adiante neste e no próximo ano, embora "o cenário de inflação continue altamente incerto".

ESTRESSE. Ao mesmo tempo, o Fed removeu o trecho do comunicado de junho que indicava que os riscos ao crescimento "pareciam ter de alguma forma diminuído". O comunicado manteve a referência aos temores de que o crescimento poderá ser pressionado nos próximos meses pelo enfraquecimento dos mercados de trabalho e financeiro "sob considerável estresse".

Os cortes no juro que deixaram a taxa dos Fed Funds em 2%, dos 5,25% em que estavam em setembro passado, melhoraram apenas parcialmente as condições de crédito nos EUA. Os juros das hipotecas de 30 anos, por exemplo, estão mais altos agora do que estavam há um ano, porque os bancos tornaram mais rígidos seus critérios de empréstimos e os problemas das agências hipotecárias gigantes patrocinadas pelo governo Fannie Mae e Freddie Mac contribuíram para piorar a turbulência dos mercados.

Ao mesmo tempo, os bancos enfrentam perdas expressivas com as hipotecas. A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor, atingiu 5% em junho em comparação com um ano antes, o maior nível em 17 anos. O principal termômetro de inflação do Fed, o índice de preços de gastos com consumo pessoal, atingiu 4,1%. Excluindo alimentos e energia, a inflação ficou em 2,3% em junho, bem acima da faixa de 1,5% a 2% vista como a zona de conforto do Fed.

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