quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Para analistas, commodity em queda pode levar IPCA à meta

Rafael Rosas, Valor Online, do Rio
A recente queda dos preços das commodities nos mercados internacionais contribuiu para que economistas voltassem a considerar a possibilidade de que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche dentro da meta de 4,5% - com dois pontos percentuais de variação para cima ou para baixo - este ano.

Para o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, já há um período preliminar de inflexão da curva de inflação no Brasil. "Acho que a inflação já parou de subir e agora ela tende a infletir no sentido de redução. Há um período de digestão desse processo pela frente", frisou o executivo, que participou ontem de seminário promovido pela Associação de Bancos no Estado do Rio de Janeiro (Aberj).

Coutinho afirmou que fechar ou não 2008 com inflação dentro do teto da meta perseguida pelo governo (6,5%) não é o mais relevante. Segundo ele, o mais importante é deixar claro que há uma tendência de inflação sob controle. "O importante é o fato de que, aparentemente, estamos ultrapassando o pico das pressões e vamos daqui para frente administrar um processo de redução da inflação", sustentou.

O diretor de Pesquisa e Análise Macroeconômica do Bradesco, Octavio de Barros, acredita que há uma "possibilidade tangível" de que a inflação medida pelo IPCA fique abaixo do teto de 6,5%. "Se considerarmos o patamar de ontem das commodities, com a taxa de câmbio atual, e projetarmos isso até o fim do ano, a inflação pelo IPCA fica abaixo de 6,5%", afirmou Barros, ponderando que a previsão do Bradesco é de IPCA de 6,7% este ano. "Mas confesso que preciso observar um pouco mais, mas existe uma possibilidade tangível de que a inflação em 2008 fique abaixo de 6,5%", ressaltou o executivo do Bradesco.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que abriu o evento, voltou a deixar claro, por sua vez, que a prioridade da autoridade monetária é evitar a persistência da inflação em níveis mais elevados. "Já tivemos essa experiência no Brasil. Então não existe, em última análise, a médio e longo prazos, essa alternativa de tentar manter indefinidamente um desequilíbrio (entre oferta e demanda) via simplesmente aceitar inflações mais elevadas", afirmou Meirelles.

Já o economista-chefe do Banco Santander no Brasil, Alexandre Schwartsman, lembrou que a política fiscal é outro braço essencial para garantir o crescimento sustentável da economia do país. Segundo o ex-diretor do Banco Central, para cada duas unidades adicionadas ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro entre 1994 e 2006, o governo se apropriou de uma. "Do ponto de vista do crescimento, esse arranjo é profundamente prejudicial. A estrutura fiscal brasileira é profundamente perversa do ponto de vista do crescimento", ressaltou Schwartsman.

Também presente ao evento, a presidente da Standard & Poor´s no Brasil, Regina Nunes, criticou a sobrecarga existente em cima da política monetária, que, segundo ela, "faz a lição de casa muito bem feita". Para Regina, o aumento do superávit primário em um cenário de inflação alta como o atual não passa de "obrigação". "Tem-se que tomar medidas mais rígidas", disse, cobrando da iniciativa privada união para pressionar pela aprovação de reformas, como a tributária, que tramitam no Congresso.

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