terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Quanto estrago, até a resposta chegar?

Paul Krugman

16 de Dezembro de 2008 - Então a situação é a seguinte: a economia se depara com seu pior declínio em décadas. A resposta habitual para um período de declínio econômico, cortar as taxas de juros, não está funcionando. A ajuda em grande escala do governo parece ser a única maneira de acabar com o mergulho econômico.

Mas há um problema: os políticos conservadores que se atêm a uma ideologia datada - e, talvez, apostam (errado) que seus eleitores estão relativamente bem posicionados para suportar a tormenta - estão bloqueando o caminho da ação.

Não, não estou falando de Bob Corker, o senador pela Nissan - quero dizer, Tenneessee - e seus colegas republicanos, que torpedearam a tentativa da semana passada de ganhar tempo para o setor automotivo americano. (Por que o plano foi bloqueado? Uma mensagem de e-mail que circulou entre os senadores republicanos declarava que negar um empréstimo para o setor automotivo era a oportunidade para os republicanos "fazerem o primeiro ataque contra o trabalho organizado").

Eu estou, em vez disso, falando de Angela Merkel, e seus altos funcionários da área econômica, que se tornaram os maiores obstáculos para um muito necessário plano de resgate europeu.

A desordem econômica européia não está recebendo muita atenção nos Estados Unidos, porque o país está compreensivelmente concentrado em seus próprios problemas. Mas a outra superpotência econômica do mundo - a América e a União Européia (UE) têm praticamente o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) - está possivelmente tão em apuros quanto os EUA.

Os problemas mais severos estão na periferia da Europa, onde muitas economias menores experimentam crises bastante similares às crises anteriores na América Latina e na Ásia: a Letônia é a nova Argentina; a Ucrânia é a nova Indonésia. Mas o choque já alcançou as grandes economias da Europa Ocidental: Grã-Bretanha, França, Itália e, a maior de todas, a Alemanha.

Como ocorre nos EUA, a política monetária - corte das taxas de juros no esforço para revigorar a economia - está rapidamente chegando ao seu limite. Então resta, como a única maneira de evitar o pior declínio desde a Grande Depressão, o emprego agressivo de política fiscal: ampliar os gastos ou reduzir os impostos para estimular a demanda. Agora mesmo todos vêem a necessidade de se lançar um grande pacote de estímulo fiscal pan-europeu.

Na semana passada, Peer Steinbrück, ministro das Finanças de Angela Merkel, foi ainda mais longe. Não satisfeito com se recusar a desenvolver um plano de estímulo sério para seu próprio país, ele denunciou os planos de outros países europeus. Ele acusou a Grã-Bretanha, em particular, de se envolver em "keysenianismo crasso".

Os líderes da Alemanha parecem acreditar que sua própria economia está em boa forma, e não necessita de grande ajuda. Eles estão quase que certamente errados nesse respeito. O que há de realmente nocivo, no entanto, não é o cálculo errado que eles fazem de sua própria situação; é a forma como a oposição da Alemanha impede que a Europa crie um plano comum para lidar com a crise econômica.

Para entender o problema, pense no que ocorreria se, digamos, New Jersey tentasse estimular sua economia por meio de cortes fiscais ou obras públicas, sem que esse estímulo a nível estadual fosse parte de um programa nacional. Claramente, boa parte desse estímulo "vazaria" para os estados vizinhos, de forma que New Jersey arcaria com todas as dívidas enquanto os outros estados ganhariam muitos, se não todos, os empregos.

Países europeus individuais estão nessa mesma situação. Qualquer governo que atue de forma unilateral enfrenta a forte possibilidade de acumular dívidas sem criar muitos empregos no país.

Para toda a economia européia, no entanto, esse tipo de vazamento não chega a ser um problema: 75% das importações de um membro da UE procedem de outros países europeus, de forma que o continente como um todo não é mais dependente das importações do que os EUA. Isso significa que um esforço de estímulo coordenado, no qual cada país conta com seus vizinhos para igualar seus próprios esforços, oferecerá muito mais impulso para o euro do que os esforços individuais, não coordenados.

Mas não se pode ter um esforço europeu coordenado se a maior economia da Europa não só se recusa a aderir, mas critica as iniciativas de seus vizinhos para conter a crise.

O Grande Nein da Alemanha não vai durar para sempre. Na semana passada, O muito respeitado instituto de pesquisa IFO advertiu que a Alemanha será em breve surpreendida pela pior crise econômica desde os anos 40. Se e quando isso ocorrer, Angela e seus ministros vão certamente reconsiderar suas posições.

Mas na Europa, como nos EUA, o problema é o tempo. Em todo o mundo, as economias estão afundando rápido, enquanto esperamos que alguém, qualquer um, nos apresente uma resposta política eficiente. Quanto estrago será feito antes dessa resposta finalmente chegar?

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