segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Crise se agrava e obriga Paulson a rever discurso

Deborah Solomon The Wall Street Journal, de Washington

O secretário do Tesouro, Henry Paulson, está considerando usar a metade restante do fundo de socorro do setor financeiro, de US$ 700 bilhões, e lançar novos programas em resposta à deterioração das condições do mercado, segundo pessoas a par da questão.

O Departamento do Tesouro está no meio de sua injeção de US$ 250 bilhões nos bancos por meio do Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (na sigla em inglês, Tarp), e Paulson havia sugerido que não planejava fazer muito além disso antes de sair do cargo, em dois meses.

Outros US$ 40 bilhões foram investidos na seguradora American International Group Inc. e US$ 60 bilhões não foram usados, da parcela inicialmente liberada.

Mas a deterioração dos mercados na semana passada aumentou a preocupação no Tesouro de que ele pode precisar adotar medidas adicionais mais cedo para aumentar a confiança. Autoridades discutem agora que programas executar e quando o fazer.

O mercado acionário americano caiu 5,3% na semana passada, enquanto os mercados de crédito deram novos finais de mais aperto. Entre os mais atingidos estava o Citigroup, cuja ação caiu cerca de 60% na semana. O conselho de administração do banco se reuniu na sexta-feira para discutir opções, inclusive a venda de partes da companhia ou a substituição de seu diretor-presidente, Vikram Pandit.

A porta-voz do Tesouro Michele Davis disse ontem que Paulson havia sempre planejado colocar em prática novos programas quando eles estivessem prontos e nunca descartara usar a metade restante do fundo de US$ 700 bilhões. "Estamos avaliando uma variedade de programas para apoiar o mercado e vamos implementá-los assim que estejam prontos", disse.

Não ficou imediatamente claro se, ou em quanto, os problemas do Citigroup foram um fator por trás da avaliação pelo Tesouro de usar mais recursos do Tarp.

A seleção de Timothy F. Geithner para ser o secretário do Tesouro do presidente eleito Barack Obama está dando algum conforto aos funcionários do departamento de que eles poderiam ir adiante com novos programas que não seriam desfeitos depois que Obama assumir, em janeiro. Geithner foi uma voz importante na elaboração da resposta do governo de George W. Bush à crise financeira e apoiou muitas das medidas tomadas pelo Tesouro.

O foco imediato do Tesouro é estabelecer uma linha de crédito com o Federal Reserve, o banco central, que Paulson acredita que ajudará a aliviar as tensões no mercado de crédito ao consumidor ao aumentar a disponibilidade de financiamentos de veículos, estudantis e cartões de crédito.

Uma pessoa a par do planejamento disse que o Tesouro e o Fed chegaram a um acordo para a estrutura de um programa desses, que encorajaria os investidores a comprar títulos lastreados por cartões de crédito, financiamento de veículos e mesmo créditos imobiliários. Essa pessoa disse que as agências estão trabalhando nos detalhes operacionais, definindo, por exemplo, se o Fed deveria comprar os ativos ele próprio ou fornecer empréstimos para estimular investidores privados a comprar os papéis. O Tesouro deve contribuir com US$ 25 bilhões a US$ 100 bilhões para essa linha.

O programa pode ser anunciado em algumas semanas.

O Tesouro continua a procurar um meio de prevenir mais execuções judiciais de casas, inclusive com a tentativa de melhorar uma proposta aventada por Sheila Bair, a presidente da Federal Deposit Insurance Corp., a agência de seguro-depósito. Parlamentares democratas têm pressionado Paulson a usar parte dos US$ 700 bilhões para ajudar mutuários em risco de perder a casa.

O Tesouro também tem elaborado outro programa de injeção de capital voltado para instituições financeiras que não sejam bancos, além de considerar tornar mais dinheiro disponível a bancos que já receberam dinheiro do governo.

Os mercados parecem ter se assustado com a afirmação de Paulson no Congresso, na semana passada, de que o Tesouro não estava planejando iniciar nenhum novo programa de injeção de capital e sua indicação de que não planeja usar os US$ 350 bilhões restantes do Tarp. Também havia preocupação em Wall Street sobre a decisão de Paulson de abandonar a compra de créditos podres e outros ativos de liquidação duvidosa que entopem os livros das instituições financeiras, um propósito original do Tarp.

Paulson disse aos parlamentares na semana passada que o Tesouro havia concluído "que era apenas prudente reservar nossa capacidade do Tarp, manter não apenas nossa flexibilidade, mas a do futuro governo".

Muitos em Wall Street tomaram aquilo como indicação de que o governo Bush havia terminado de intervir e não tomaria nenhuma medida adicional para sustentar o setor financeiro. Isso motivou uma onda de ligações a funcionários do Tesouro na última semana de participantes do mercado furiosos porque o governo parecia estar abandonando seu plano de realizar um resgate financeiro amplo, segundo participantes do mercado e outras pessoas a par das ligações.

"Havia uma expectativa de uma intervenção significativa e, embora isso vá acontecer no final, não está claro agora que direção tomará", disse Alec Phillips, um analista de política econômica da Goldman Sachs. "Também há preocupação sobre se os próximos US$ 350 bilhões vão mesmo se materializar, embora seja difícil que o Congresso rejeite isso."

Dentro do Tesouro, ganha força a idéia de que os mercados podem não ser capazes de esperar dois meses até que um novo governo esteja instalado, e que Paulson pode ter de tomar medidas adicionais logo para aliviar as pressões. Mas, mesmo que o Tesouro lançasse algum novo programa, levaria provavelmente semanas até que o dinheiro entrasse no setor financeiro.

Phillips disse que os mercados receberiam bem qualquer esforço adicional para amenizar os atuais problemas.

"Acho que houve um tempo em que o mercado estava receoso de que as autoridades estavam agindo com atraso e, de repente, entre a ação agressiva do Fed e o Tarp, ficou claro que eles estavam ficando muito mais agressivos", disse. "Agora estamos de volta a um período em que há pelo menos um vácuo na política econômica."

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