sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ata do Copom.

138ª Reunião

Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas fixadas pelo governo para a inflação.

Evolução recente da economia

1. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou em setembro para 0,26%, ante 0,28% em agosto e 0,53% em julho. Com isso, a inflação alcançou 4,76% nos primeiros nove meses de 2008 a maior variação nesses meses desde 2004 ante 2,99% em igual período de 2007. Em doze meses, a inflação deslocou-se de 6,17% em agosto para 6,25% em setembro (4,15% em setembro de 2007), voltando a aumentar. Sob esse critério de comparação, a aceleração do nível de preços ao consumidor reflete tanto o comportamento dos preços administrados por contrato e monitorados quanto o dos preços livres. Com efeito, os incrementos dos preços livres e dos administrados alcançaram, respectivamente, 7,66% e 3,05% em doze meses até setembro, ante 5,07% e 2,12% até setembro de 2007. Além disso, note-se que, a despeito da apreciação cambial observada até então, os preços de bens comercializáveis mostraram aceleração e variaram 6,78% em doze meses até setembro (4,92% em setembro de 2007). No que se refere aos itens não comercializáveis, em grande parte impulsionada pelo comportamento dos preços de alimentos in natura e de serviços, a inflação acumulada em doze meses foi ainda mais elevada (8,49%), evidenciando a influência de fatores domésticos sobre a dinâmica inflacionária. No caso dos serviços, por exemplo, a inflação acumulada em doze meses passou de 4,79% em setembro de 2007 para 5,19% em dezembro e para 6,27% em setembro de 2008. Evidências preliminares relativas a outubro apontam inflação ao consumidor em patamar superior ao observado em setembro. Em síntese, ainda não se consolidou o processo de reversão da tendência de progressivo afastamento da inflação em relação à trajetória de metas, que vem se verificando desde o final de 2007.

2. As três principais medidas de inflação subjacente calculadas pelo Banco Central do Brasil têm evoluído em dissonância com o índice pleno. Os núcleos por exclusão de monitorados e de alimentos no domicílio e pelo critério de médias aparadas com suavização aceleraram de 0,50% e 0,36% em agosto para 0,62% e 0,43% em setembro, respectivamente, enquanto o núcleo por médias aparadas sem suavização variou 0,41%, ante 0,42% em agosto. Assim como no caso do índice pleno, a inflação acumulada nos primeiros nove meses de 2008 pelas três medidas de núcleo exibiu sensível elevação frente às taxas verificadas no mesmo período de 2007, com deslocamentos de 2,70%, 2,81% e 2,43% para 4,83%, 3,71% e 3,94%, para o índice por exclusão, médias aparadas com e sem suavização, respectivamente. No que se refere ao acumulado em doze meses, o núcleo por exclusão continua a mostrar substancial elevação, deslocando-se de 5,70% em julho para 5,87% em agosto e para 6,26% em setembro. Os núcleos por médias aparadas, com e sem suavização, também mostraram aceleração, ainda que mais comedida, sob esse critério, nos últimos meses. O núcleo por médias aparadas com suavização deslocou-se de 4,89% em julho, para 4,85% em agosto e para 4,94% em setembro, ao passo que o núcleo por médias aparadas sem suavização avançou de 4,92% em julho para 4,91% em agosto e 5,15% em setembro. Com isso, todas as medidas de núcleo permanecem acima do valor central para a meta de inflação. Cabe destacar, adicionalmente, que o comportamento do índice de difusão do IPCA, cuja média no ano é a maior desde 2004, continua apontando para um processo inflacionário relativamente disseminado, corroborando análise constante em Notas de reuniões anteriores deste Comitê.

3. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) deslocou-se de 1,12% em julho para -0,38% em agosto e 0,36% em setembro. No acumulado em doze meses, a variação do IGP-DI recuou de 14,81% em julho para 12,80% em agosto e para 11,90% em setembro, ante 6,16% em setembro de 2007. A aceleração do IGP-DI em doze meses até setembro refletiu o comportamento de seus três principais componentes. O Índice de Preços ao Consumidor Brasil (IPC-Br) variou 5,60% (4,50% em setembro de 2007), enquanto o Índice de Preços no Atacado Disponibilidade Interna (IPA-DI) teve incremento de 14,33% (6,92% em setembro de 2007). Na mesma base de comparação, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) variou 11,88% (5,46% em setembro de 2007). No que se refere especificamente ao IPA agrícola, a variação atingiu 15,84% (19,50% em setembro de 2007). Cabe destacar, ainda, a continuidade das pressões altistas sobre os preços industriais no atacado, processo que teve início no segundo semestre de 2007 e que não dá sinais consistentes de acomodação. Nos primeiros nove meses do ano, os preços industriais no atacado tiveram elevação de 11,72%, ante 2,54% em igual período de 2007. Note-se, adicionalmente, que a inflação dos preços industriais no atacado, acumulada em doze meses, subiu de 4,42% em dezembro de 2007 para 13,78% em setembro de 2008. Conforme destacado em Notas de reuniões anteriores, o Copom avalia que os efeitos do comportamento dos preços no atacado sobre a inflação para os consumidores dependerão das condições atuais e prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da inflação.
4. A média móvel trimestral da série de produção industrial geral, segundo dados dessazonalizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), avançou 1,0% em agosto, após alta de 1,1% no mês anterior. Ainda considerando a série dessazonalizada, na comparação mês a mês, após a expansão de 1,4% verificada em julho, a produção física da indústria recuou 1,3% em agosto, desempenho que em parte se explica pela distribuição atípica de dias úteis no corrente ano. Note-se, ainda, que a produção da indústria geral mostra crescimento de 6,0% no ano até agosto, sendo 6,0% na indústria de transformação e 7,1% na extrativa. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção industrial exibiu expansão de 2,0% em agosto (contando com um dia útil a menos), com crescimento de 8,5% na indústria extrativa e de 1,6% na de transformação. Os dados já divulgados referentes aos últimos meses apontavam, em suma, para a continuidade do ciclo de crescimento industrial, ainda que possa ocorrer acomodação na margem, em função de restrições à expansão da oferta em certos segmentos, bem como dos efeitos da mudança de postura da política monetária no Brasil e da turbulência financeira internacional.

5. Entre as categorias de uso, segundo dados dessazonalizados pelo IBGE, a produção de bens de consumo duráveis cresceu 2,1% em agosto. No que se refere às demais categorias de uso, a produção de bens intermediários recuou 2,7%; a de semiduráveis, 0,3%, enquanto a produção de bens de capital se manteve estável. Em termos de expansão acumulada no ano, o setor de bens de capital lidera, com 18,1%, seguido pelo setor de bens duráveis (11,8%). O dinamismo da produção de bens de capital até agosto vem refletindo a consolidação das perspectivas favoráveis à continuidade da estabilidade macroeconômica. Por sua vez, a expansão da produção de bens duráveis tem refletido, em grande parte, as condições de crédito, que até recentemente permaneciam mais favoráveis do que o padrão histórico.

6. O mercado de trabalho permanece com desempenho bastante favorável. A taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) recuou de 8,1% em julho para 7,6% em agosto, patamar que foi mantido em setembro, ante 9% em setembro de 2007. Com isso, a taxa média de desemprego nos primeiros nove meses do ano foi 1,6 p.p. inferior à observada em igual período de 2007. Considerando dados dessazonalizados pelo Banco Central, a taxa de desemprego deslocou-se de 7,4% em agosto para 7,6% em setembro, mostrando nos últimos meses relativa estabilidade em patamares historicamente reduzidos. O rendimento médio nominal da população ocupada teve elevação de 13,0%, em agosto, e acelerou para 13,7% em setembro, na comparação interanual. Em agosto, o rendimento médio real habitualmente recebido teve alta de 2,1% ante julho (elevação de 5,7% frente a agosto de 2007). Já em setembro, a elevação do rendimento médio real foi de 0,9% frente ao mês anterior e de 6,4% na comparação interanual (o maior para essa base de comparação desde julho de 2006), comportamento que evidencia o aquecimento do mercado de trabalho. Nos primeiros nove meses do ano, o rendimento médio real teve alta de 3,2%, enquanto o pessoal ocupado cresceu 3,9%. Em conseqüência, a expansão da massa salarial real atingiu 7,3% (expansão de 10,0% em setembro, ante o mesmo mês de 2007), continuando a constituir fator-chave para o crescimento da demanda doméstica. Por sua vez, o emprego na indústria de transformação aumentou 0,1% em agosto (ante 0,6% em julho e 0,5% em junho), segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), dessazonalizados pelo Banco Central. Comparativamente ao mesmo mês do ano anterior, o incremento do pessoal empregado atingiu 4%, com variação em doze meses alcançando 4,4%. Segundo dados do IBGE, o pessoal ocupado na indústria caiu 0,1% em agosto (ante alta de 0,7% em julho e de 0,6% em junho), na série com ajuste sazonal, acumulando 2,9% em doze meses e alta de 2,5% comparativamente a agosto de 2007. Ainda sobre emprego, dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam continuidade do forte dinamismo da geração de vagas no setor formal neste ano, com a criação de 239,1 mil postos de trabalho em agosto e de 282,8 mil em setembro, o melhor resultado da série histórica para o período, seja considerado o mês, o acumulado no ano ou em doze meses. Nos nove primeiros meses do ano, o saldo de empregos atingiu o recorde histórico de 2.086,6 mil contratações para o período, superior em 25% ao do último recorde, registrado em 2004, evidenciando robusta demanda por trabalho. Dados dessazonalizados mostram crescimento de 0,6% no nível de emprego formal em setembro, e dados observados apontam incremento de 6,3% em doze meses. Em setembro, o setor que mais admitiu foi o da indústria de transformação, com a abertura de 114,0 mil postos, seguido pelo setor de serviços (104,7 mil vagas) e pelo comércio (53,3 mil empregos). Já a agropecuária, por motivos sazonais relacionados à entressafra no Centro-Sul do país, foi o único setor que apresentou redução no emprego (perda de 25,3 mil postos).

7. O volume de vendas do comércio varejista ampliado, de acordo com os dados dessazonalizados pelo IBGE, recuou 1,6% em agosto, após altas de 0,3% em julho e 1,1% em junho. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve crescimento de 7,0%, acumulando 13,5% no ano. A média móvel trimestral da taxa de crescimento do comércio varejista ampliado recuou 0,1% entre agosto e julho, interrompendo uma seqüência de 27 aumentos consecutivos do indicador. Na comparação com o mês anterior, pela série com ajuste sazonal, destacam-se as vendas no segmento livros, jornais, revistas e papelaria (3,2%), seguido por hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,1%) e móveis e eletrodomésticos (1,0%). No ano até agosto, o crescimento acumulado foi maior nos segmentos de livros, jornais, revistas e papelaria (31,3%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (20,6%) e veículos e motos, partes e peças (19,8%). Note-se que a queda do comércio ampliado em agosto era esperada, devido à sinalização dos dados de vendas de veículos da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que apresentaram recuo de 11,1% no mês, na série com ajuste sazonal. Em setembro, o comércio ampliado deve registrar alta, influenciado pelo comportamento de veículos (dados da Fenabrave apontaram alta de 8,6%, comparativamente a agosto, na série dessazonalizada). O sólido desempenho do comércio varejista vinha, em suma, refletindo tanto o comportamento dos segmentos mais sensíveis à expansão da renda e do emprego quanto o daqueles mais sensíveis às condições de crédito. Nos próximos trimestres, a trajetória do comércio varejista continuará sendo impulsionada pelas transferências governamentais e pelo crescimento dos níveis de emprego e da renda, mas será também afetada, caso persistam, pela mudança nas condições de acesso ao crédito, que não deve ser integralmente atribuída às decisões de política monetária, e pela deterioração da confiança dos consumidores.

8. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação atingiu 83,1% em agosto, próximo ao patamar observado em junho, após ter subido para 83,7% em julho, segundo dados da CNI dessazonalizados pelo Banco Central. A série dessazonalizada pela própria CNI mostra ligeira tendência de elevação, tendo atingido 83,5% em agosto, o ponto máximo desde 2003. Considerando a série sem ajuste sazonal, em agosto o Nuci se situou 0,4 p.p. acima do patamar registrado no mesmo mês de 2007. Com isso, a taxa média dos primeiros oito meses do ano foi 0,9 p.p. superior à observada em igual período de 2007. Por sua vez, o Nuci mensal sem ajuste sazonal, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), atingiu 86,4% em setembro, 0,3 p.p. acima do patamar observado no mesmo mês de 2007. Essa elevação das taxas de utilização da capacidade, na comparação interanual, também se verifica na indústria de material de construção (5,4 p.p.), bens de consumo (3,5 p.p.) e bens de capital (1,9 p.p.). Para bens intermediários, o Nuci situou-se 1,5 p.p. abaixo do nível de setembro de 2007. A manutenção das taxas de utilização em patamares historicamente elevados manifesta-se em diversos setores (máximos históricos foram observados em setembro nas indústrias de bens de consumo e de material de construção) e ocorre a despeito dos investimentos realizados nos últimos doze meses. De fato, dados recentes sobre a absorção de bens de capital ainda não permitiam inferir que a tendência de expansão do investimento estaria sofrendo uma inflexão. A absorção de bens de capital apresentou crescimento de 1,3% em agosto, dados dessazonalizados, e de 19,7% no acumulado do ano, dados observados, ante -1,3% e 20,9%, em julho, nas mesmas bases de comparação. Por outro lado, a produção de insumos para a construção civil mostrou estabilidade, na margem, em agosto, após crescer 2,4% em julho, mantendo crescimento de 10,5% no acumulado do ano. Em suma, as evidências sugerem que, embora o investimento venha contribuindo de maneira importante para suavizar a tendência de elevação das taxas de utilização da capacidade, a maturação de projetos não tem até o momento sido suficiente para circunscrever de forma significativa os descompassos entre a evolução da oferta e da demanda doméstica. A propósito, como assinalado em Notas anteriores das reuniões do Copom, a trajetória da inflação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e de serviços para o adequado atendimento à demanda.

9. A balança comercial continua registrando perda de vigor na margem, tendência já antecipada e que está em consonância com avaliações expressas em Relatórios de Inflação e em Notas de reuniões anteriores do Copom. O saldo acumulado nos doze meses até setembro totalizou US$28,7 bilhões (33,5% inferior ao verificado em setembro de 2007). Esse resultado adveio de US$194,9 bilhões em exportações e US$166,2 bilhões em importações, com crescimento de 27,0% e de 50,7%, respectivamente, em relação aos doze meses findos em setembro de 2007. Como observado em Notas de reuniões anteriores, as importações vêm crescendo em ritmo mais acelerado do que as exportações, em razão tanto do fortalecimento do real como, em especial, da forte expansão da absorção doméstica, a despeito dos patamares historicamente elevados das cotações de diversas commodities características da pauta exportadora brasileira (este fator de sustentação do valor exportado pode se alterar caso persistam tendências recentes dos preços de matérias-primas). A redução dos superávits comerciais contribuiu para que o saldo em transações correntes registrasse déficit de US$25,2 bilhões em doze meses até setembro de 2008, equivalente a 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Por sua vez, os investimentos estrangeiros diretos chegaram, nos doze meses até setembro, a US$37,4 bilhões, equivalentes a 2,4% do PIB.

10. O período desde a reunião anterior do Copom foi marcado pela severa intensificação do estresse nos mercados financeiros internacionais, com origem nos Estados Unidos e na Europa, mas cujas repercussões sobre as economias emergentes se tornaram mais significativas. O aumento da aversão ao risco, a partir de meados de setembro, após a quebra de importante instituição financeira norte-americana, levou as autoridades nos EUA, Europa e Oceania a intervir de forma inédita em seus sistemas financeiros, utilizando ampla gama de instrumentos, com vistas a assegurar condições mínimas de funcionamento e liquidez nos mercados monetários. Ainda que siga elevada a percepção de risco sistêmico, tais iniciativas, acompanhadas por programas de reforço da base de capital de instituições financeiras relevantes, parecem ter logrado restabelecer o funcionamento dos mercados interbancários. A contração da liquidez internacional contribuiu para um processo de desalavancagem por parte de administradores de recursos, o que, por sua vez, vem exercendo influência baixista generalizada sobre os preços de ativos. Em ambiente de maior aversão ao risco e fluxos de capitais mais escassos, as pressões sobre moedas de economias emergentes se intensificaram. Nesse contexto, o recente anúncio de acordos de swaps de moedas entre o Federal Reserve dos EUA e o Banco Central do Brasil, assim como com a Autoridade Monetária de Cingapura, o Banco da Coréia e o Banco do México, deve contribuir para mitigar sem, contudo, eliminar por completo os impactos da turbulência financeira internacional sobre os mercados emergentes.

11. No que se refere ao cenário macroeconômico global, as tendências contracionistas parecem estar gradativamente prevalecendo sobre as pressões inflacionárias, que, todavia, continuam. A visão dominante continua apontando para a expansão, em ritmo moderado, da economia mundial em 2008 e em 2009, mas os dados divulgados nas últimas semanas apontam para um enfraquecimento mais intenso e generalizado da atividade nas economias maduras. Há evidências de que a debilitação mais pronunciada da atividade econômica na Europa e em partes da Ásia deveu-se, em importante medida, ao choque negativo de termos de troca ocasionado pela elevação dos preços de commodities, que poderia estar sendo revertido. Por outro lado, os problemas do sistema financeiro vêm sendo agravados por uma deterioração cíclica na qualidade do crédito, o que tende a reforçar a contração das condições financeiras e, por conseguinte, o risco de intensificação da desaceleração. Especificamente, a economia dos EUA entrou em período de desaceleração desde o último trimestre de 2007 e continua sofrendo o impacto da crise no setor imobiliário, com efeitos sobre o mercado de trabalho, cujo enfraquecimento, em combinação com o efeito riqueza negativo associado às quedas dos preços de ativos financeiros, tem afetado a confiança dos consumidores, contribuindo de forma importante para deprimir o dispêndio. A avaliação predominante é de que a atividade na Europa e no Japão deve continuar apresentando perda de dinamismo nos próximos meses. Nas economias maduras, onde a ancoragem das expectativas de inflação é mais forte e a atividade econômica vem se enfraquecendo consideravelmente, as pressões inflacionárias têm mostrado redução relativamente rápida. Já nas economias emergentes, onde os efeitos secundários da elevação dos preços de matérias-primas sobre os preços ao consumidor e as pressões da demanda aquecida sobre a capacidade de expansão da oferta vinham sendo mais intensos, as pressões inflacionárias têm mostrado maior persistência. Nesse contexto, as políticas monetárias adquiriram caráter majoritariamente expansionista nas economias maduras, enquanto a situação nas economias emergentes, que, além dos fatores citados acima, tem sido influenciada pela tendência de depreciação cambial, parece mais heterogênea.

12. Os preços do petróleo continuam altamente voláteis, mas recuaram de forma expressiva desde a última reunião deste Comitê. As cotações nos mercados futuros têm acompanhado o comportamento dos preços de petróleo para pronta entrega. Entretanto, a incerteza que envolve essas cotações é marcadamente elevada, uma vez que o cenário prospectivo depende da evolução da demanda, especialmente nas economias emergentes, da resposta da oferta aos estímulos derivados de mudanças de preços relativos ocorridas, além das questões geopolíticas que atuam sobre os preços dessa mercadoria. Não obstante, a despeito da considerável incerteza inerente às previsões sobre a trajetória dos preços do petróleo, o cenário central de trabalho adotado pelo Copom, que prevê preços domésticos da gasolina inalterados para o acumulado de 2008, permanece plausível. Cabe assinalar, entretanto, que, independentemente do comportamento dos preços domésticos da gasolina, a redução dos preços internacionais do petróleo pode eventualmente se transmitir à economia doméstica tanto por meio de cadeias produtivas, como a petroquímica, quanto pelo efeito potencial sobre as expectativas de inflação. Os preços de outras commodities também mostraram reduções importantes desde a última reunião do Copom, reagindo tanto ao maior pessimismo sobre as perspectivas para o crescimento da economia mundial, quanto à intensificação da turbulência nos mercados financeiros globais.

Avaliação prospectiva das tendências da inflação

13. Os choques identificados e seus impactos foram reavaliados de acordo com o novo conjunto de informações disponível. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses:
a) as projeções de reajustes nos preços da gasolina e do gás de bujão foram mantidas em 0% para o acumulado de 2008;
b) as projeções de reajustes das tarifas de energia elétrica e telefonia fixa permaneceram inalteradas, para o acumulado de 2008, em 1,1% e em 3,5%, respectivamente;
c) a projeção, construída item a item, de reajuste para o conjunto de preços administrados para o acumulado de 2008 foi alterada para 3,8%, ante os 4,0% considerados na reunião de setembro. Esse conjunto de preços, de acordo com os dados publicados pelo IBGE, correspondeu a 29,71% do total do IPCA de setembro;
d) a projeção de reajustes dos itens administrados por contrato e monitorados para 2009 foi alterada de 4,8% para 5,5%. Essa projeção baseia-se em modelos de determinação endógena de preços administrados, que consideram, entre outros, componentes sazonais, variações cambiais, inflação de preços livres e inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP); e
e) a trajetória estimada para a taxa do swap de 360 dias indica spread sobre a taxa Selic, no cenário de referência, de 147 p.b. no quarto trimestre de 2008 e de 85 p.b. no último trimestre de 2009. Os choques identificados e seus impactos foram reavaliados de acordo com as novas informações disponíveis.

14. Em relação à política fiscal, as projeções levam em conta a hipótese de trabalho do cumprimento da meta legal de superávit primário de 3,8% do PIB em 2008 e em 2009, incrementada em 0,5 p.p. As demais hipóteses consideradas na reunião anterior foram mantidas.

15. Desde a última reunião do Copom, realizada em setembro, houve relativa estabilidade na mediana das expectativas coletadas pela Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) para a variação do IPCA em 2008, que passou de 6,27% para 6,29%. As expectativas para os próximos doze meses sofreram ligeira elevação, de 5,22% para 5,29%, levando-se em conta a composição das medianas das taxas mensais esperadas pelos analistas. Para 2009, as expectativas de inflação permaneceram em 5,00%.

16. Considerando-se as hipóteses do cenário de referência, que leva em conta a manutenção da taxa de câmbio em R$2,25 e da taxa Selic em 13,75% em todo o horizonte de previsão, a projeção para a inflação em 2008 elevou-se em relação ao valor considerado na reunião do Copom de setembro, e permanece acima do valor central de 4,50% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No cenário de mercado, que leva em conta as trajetórias de câmbio e de juros apuradas pela Gerin junto a analistas no período imediatamente anterior à reunião do Copom, a projeção de inflação para 2008 também sofreu elevação em relação ao valor considerado na última reunião do Copom, e permanece, portanto, acima do valor central para a meta de inflação. Em relação a 2009, a projeção do cenário de referência elevou-se em relação ao valor previsto na reunião de setembro, enquanto a projeção do cenário de mercado sofreu ligeira redução, mas, em ambos os casos, permanecem acima do valor central de 4,50% para a meta.

Implementação da política monetária

17. O Copom avalia que a política monetária deve contribuir para a consolidação de um ambiente macroeconômico favorável em horizontes mais longos. Os dados disponíveis referentes à atividade econômica indicam que o ritmo de expansão da demanda doméstica continua bastante robusto, respondendo, ao menos parcialmente, pela tendência de aceleração da inflação, a despeito do forte crescimento das importações e do comportamento benigno do investimento. Note-se, adicionalmente, que o aumento da aversão ao risco e o aperto, inédito nas últimas décadas, das condições de liquidez prevalentes nos mercados internacionais impõem algum ajuste no balanço de pagamentos que, a despeito do aumento da resiliência externa da economia brasileira, pode ocasionar incremento das pressões inflacionárias, especialmente no curto prazo. Assim, em linhas gerais, a influência do cenário externo sobre a trajetória prospectiva da inflação brasileira continua sujeita a efeitos contraditórios, que podem atuar com intensidade distinta ao longo do tempo, e envolta em considerável incerteza. Por um lado, uma desaceleração mais generalizada da atividade ao longo dos próximos trimestres aponta para uma acomodação tanto dos preços de commodities quanto da demanda externa, influenciando negativamente também as condições financeiras locais. Por outro lado, essa tendência de desaquecimento tem ocasionado aumento da aversão ao risco, afetando a demanda por ativos brasileiros e ocasionando depreciação de seus preços. Nesse cenário, pode ocorrer redução adicional das exportações líquidas, com efeito similar sobre o comportamento dos preços de certos ativos brasileiros. Note-se, também, que a trajetória dos índices de preços ainda evidencia a presença de riscos inflacionários, em diversas economias, mesmo que com intensidade notadamente menor do que em meados do ano. Diante da deterioração ocorrida nos últimos meses nas perspectivas para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Comitê avalia que o risco de materialização de um cenário inflacionário menos benigno segue elevado. O Copom enfatiza que o principal desafio da política monetária nesse contexto é garantir que os resultados favoráveis obtidos nos últimos anos sejam preservados. Em particular, cabe à política monetária atuar para que impactos inicialmente localizados sobre os índices de inflação não levem, por meio de uma consolidação da piora das expectativas, a uma deterioração persistente da dinâmica inflacionária.

18. O Copom reafirma que se mantém elevada a probabilidade de que pressões inflacionárias inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação. O aquecimento da demanda doméstica e do mercado de fatores, ainda que sujeito a maior incerteza, bem como a possibilidade do surgimento de restrições de oferta setoriais podem ensejar o aumento no repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor. O Comitê avalia que a materialização desse repasse, bem como a generalização de pressões inicialmente localizadas sobre preços ao consumidor, depende de forma crítica das expectativas dos agentes econômicos para a inflação, que permanecem em patamares incompatíveis com a trajetória de metas e que continuam sendo monitoradas com particular atenção. Adicionalmente, cabe notar que, embora o setor externo viesse exercendo alguma disciplina sobre a inflação no setor de transacionáveis, o aquecimento da demanda doméstica tem pressionado os preços dos itens não transacionáveis, como por exemplo, os serviços. Nesse contexto, o Copom conduzirá suas ações de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à inflação em anos recentes sejam permanentes. Para tanto, irá acompanhar atentamente a evolução da inflação e das diferentes medidas do seu núcleo, assim como das expectativas de inflação dentro do horizonte de projeção, estando pronto a ajustar a postura de política monetária de forma a evitar a consolidação de um cenário no qual reajustes pontuais se transformem em reajustes persistentes ou generalizados de preços.

19. A manutenção de taxas de inflação consistentes com a trajetória de metas e a resultante consolidação de um cenário de estabilidade macroeconômica duradoura contribuirão para a redução progressiva da percepção de risco macroeconômico. O Copom avalia que a persistência de uma atuação cautelosa e tempestiva da política monetária é fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação no Brasil volte a evoluir segundo a trajetória de metas já em 2009. Para que essa maior probabilidade continue se traduzindo em resultados concretos, entretanto, é preciso que os indicadores prospectivos de inflação, em particular a evolução esperada da demanda e da oferta agregadas, convirjam ao longo do período relevante para a política monetária.

20. O Copom considera importante ressaltar, mais uma vez, que há defasagens importantes entre a implementação da política monetária e seus efeitos tanto sobre o nível de atividade como sobre a inflação. Dessa forma, a avaliação de decisões alternativas de política monetária deve concentrar-se, necessariamente, na análise do cenário prospectivo para a inflação e nos riscos a ele associados, em vez de privilegiar os valores correntes observados para essa variável. Tais considerações ganham ainda mais relevância em momentos cercados por maior incerteza.

21. As perspectivas para a evolução da atividade econômica tornaram-se mais incertas desde a última reunião do Copom. Em particular, os efeitos da crise internacional sobre as condições financeiras internas indicam que a contribuição do crédito para a sustentação da demanda doméstica pode arrefecer de forma mais intensa do que o que seria determinado exclusivamente pelos efeitos da política monetária. Adicionalmente, a intensificação da crise internacional parece ter tido efeito negativo sobre a confiança dos consumidores e empresários. Caso persista tal situação, o dinamismo da atividade passaria a depender crescentemente da expansão da massa salarial real e dos efeitos das transferências governamentais esperadas para este e para os próximos trimestres. Essas ponderações tornam-se ainda mais relevantes quando se leva em conta os sinais de demanda doméstica ainda aquecida ao final do terceiro trimestre, a disseminação de pressões derivadas de ajustes de preços relativos, inclusive sobre o mercado de trabalho, e o fato de que as decisões de política monetária terão impactos concentrados em 2009.

22. O Comitê assinala a importante contribuição do investimento para ampliar a capacidade produtiva. Note-se, adicionalmente, que a acomodação dos preços de commodities, da qual surgiram evidências consistentes nas últimas semanas, poderia contribuir para evitar que as pressões inflacionárias se intensificassem ainda mais. Entretanto, o Copom avalia que o ritmo de expansão da demanda doméstica segue colocando riscos importantes para a dinâmica inflacionária, aos quais se somam, particularmente no curto prazo, os riscos derivados da trajetória dos preços de ativos brasileiros, em meio a um processo de estreitamento das fontes de financiamento externo. Nesse contexto, a redução pronta e consistente do descompasso entre o crescimento da oferta de bens e serviços e o da demanda continua sendo central na avaliação das diferentes possibilidades que se apresentam para a política monetária.

23. A evidência internacional, bem como a experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas levam ao aumento dos prêmios de risco, ao encurtamento dos horizontes de planejamento e, conseqüentemente, à redução do potencial de crescimento da economia, além de ter efeitos regressivos sobre a distribuição de renda. Além disso, nas atuais circunstâncias, existe o risco de que os agentes econômicos passem a atribuir maior probabilidade a que elevações da inflação sejam persistentes, o que implicaria redução da eficácia da política monetária. Assim sendo, a estratégia adotada pelo Copom visa trazer a inflação de volta à meta central de 4,5%, estabelecida pelo CMN, tempestivamente, isto é, já em 2009. Tal estratégia, que terá seus resultados evidenciados ao longo do tempo, leva em conta as defasagens do mecanismo de transmissão e é a mais indicada para lidar com a incerteza inerente ao processo de formulação e de implementação da política monetária.

24. O Copom avalia que, diante dos sinais de aquecimento da economia, no que se refere, por exemplo, aos dados disponíveis sobre o mercado de trabalho e taxas de utilização da capacidade na indústria, e do comportamento das expectativas de inflação, continuam sendo relevantes os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual o IPCA voltaria a evoluir de forma consistente com a trajetória das metas. De fato, um cenário prospectivo desfavorável ainda se manifesta nas projeções de inflação consideradas pelo Comitê. O Copom considera, também, que a persistência de descompasso importante entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregadas continua representando risco para a dinâmica inflacionária, mas avalia que a trajetória esperada dos gastos domésticos em consumo e investimento tornou-se mais incerta. Nessas circunstâncias, a política monetária deve atuar, na medida em que o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer, por meio do ajuste da taxa básica de juros, ainda que não necessariamente de forma contínua, visando, por um lado, reduzir tal descompasso e, por outro, evitar que pressões originalmente isoladas sobre os índices de preços levem à deterioração persistente das expectativas e do cenário prospectivo para a inflação. Finalmente, o Comitê entende que a consolidação de condições financeiras mais restritivas poderia ampliar os efeitos da política monetária sobre a demanda e, ao longo do tempo, sobre a inflação.

25. Nesse contexto, avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Copom decidiu por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 13,75% a.a., sem viés.

26. No regime de metas para a inflação, o Copom orienta suas decisões de acordo com os valores projetados para a inflação, a análise de diversos cenários alternativos para a evolução das principais variáveis que determinam a dinâmica prospectiva dos preços e o balanço dos riscos associado às suas projeções. A demanda doméstica continua se expandindo a taxas robustas e sustenta o dinamismo da atividade econômica, inclusive em setores pouco expostos à competição externa, quando os efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda, ainda estão agindo sobre a economia. Por sua vez, a contribuição do setor externo para um cenário inflacionário favorável, diante da forte depreciação de preços de ativos brasileiros, e da aparente redução na capacidade de importar, tornou-se menos efetiva, em um momento no qual os efeitos do investimento sobre o potencial produtivo da economia ainda precisam se consolidar. Nesse ambiente, cabe à política monetária atuar para trazer a inflação de volta à trajetória de metas já em 2009, de forma a evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos. Evidentemente, na eventualidade de se verificar alteração no perfil de riscos que implique modificação do cenário prospectivo básico traçado para a inflação pelo Comitê neste momento, a postura da política monetária será prontamente adequada às circunstâncias.

27. Ao final da reunião, foi registrado que o Comitê voltará a se reunir em 9 de dezembro de 2008, para as apresentações técnicas, e no dia seguinte, para deliberar sobre a política monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado 16.051, de 3/9/2007.

SUMÁRIO DOS DADOS ANALISADOS PELO COPOM

Inflação

28. O IPCA variou 0,26% em setembro, mesmo resultado do IPCA-15, ante 0,28% em agosto. Pelo segundo mês consecutivo, o grupo alimentação e bebidas registrou variação negativa, -0,27%, ante -0,25% em agosto, contribuindo com -0,06 p.p. para a taxa no mês. Os preços livres aumentaram 0,30% em setembro, ante 0,25% no mês anterior, registrando-se elevações de 0,22% para os preços dos produtos comercializáveis e de 0,36% para os não comercializáveis. Os preços monitorados aumentaram 0,17%, ante 0,35% em agosto. O índice de difusão atingiu 60,94% em setembro, ante 63,02% em agosto, com média de 63,05% em 2008. Em doze meses, o IPCA acumulou expansão de 6,25% em setembro, ante 6,17% em agosto, resultado de elevações de 7,66% nos preços livres e de 3,05% nos preços monitorados.

29. As taxas mensais dos núcleos de inflação referentes ao IPCA registraram elevação em doze meses, até setembro, sendo que os núcleos por exclusão e médias aparadas com suavização apresentaram aceleração no período. O núcleo por exclusão (sem alimentos no domicílio e monitorados) variou 0,62% em setembro, ante 0,50% em agosto, acumulando alta de 6,27% em doze meses, ante 5,87% no mês anterior. A variação do núcleo por médias aparadas sem suavização passou de 0,42% em agosto para 0,41% em setembro, enquanto a variação em doze meses passou de 4,91% para 5,15%, no mesmo período. Pelo critério de médias aparadas com suavização, o núcleo alcançou 0,43% em setembro, ante 0,36% em agosto, totalizando alta de 4,94% em doze meses, ante 4,85% no mês anterior.

30. O IGP-DI cresceu 0,36% em setembro, após variação negativa de 0,38% em agosto, acumulando 11,90% em doze meses. Dos componentes do índice, apenas o IPA mostrou aceleração, 0,44%, ante diminuição de 0,80% em agosto, totalizando alta de 14,33% em doze meses. O IPC-Br variou -0,09%, após elevação de 0,14% no mês anterior, acumulando crescimento de 5,60% em doze meses. O INCC variou 0,95% em setembro, ante 1,18% no mês anterior, e 11,88% em doze meses.

31. A menor variação do IPC-Br em setembro refletiu a intensificação do recuo do grupo alimentação e a desaceleração das taxas dos demais grupos, exceto vestuário. O núcleo do IPC-Br variou 0,22%, ante 0,30% em agosto, acumulando elevação de 3,71% em doze meses.

32. O resultado do IPA, em setembro, refletiu a queda menos acentuada dos preços agrícolas, enquanto os preços industriais mostraram desaceleração. O IPA-agrícola recuou 0,46% ante -5,09% em agosto, acumulando variação de 15,84% em doze meses. O IPA-industrial cresceu 0,77%, ante 0,86% no mês anterior, totalizando 13,78% em doze meses. Por estágios de processamento, em setembro, o IPA acusou desaceleração na variação mensal dos preços dos bens intermediários, 0,95% ante 1,35% em agosto, enquanto os preços dos bens finais diminuíram 0,29%, após ligeira elevação de 0,07%, no mês anterior. Os preços das matérias-primas brutas aumentaram 0,51%, revertendo resultado negativo de 4,84% registrado em agosto. Em doze meses, ainda considerando o IPA por estágios de processamento, registraram-se elevações de 17,41%, 8,13% e 17,89%, respectivamente.

33. Índices parciais sobre a evolução da inflação em outubro apontam aceleração em relação aos resultados de setembro, tanto dos preços no atacado, quanto ao consumidor. O IPCA-15 variou 0,30%, refletindo a maior alta do grupo vestuário e a reversão de queda dos preços dos alimentos e bebidas. No atacado, conforme resultado do IGP-M para o segundo decêndio, tanto os preços dos produtos agrícolas como dos industriais apontam crescimentos mais acentuados do que no mês anterior.

Atividade econômica

34. Segundo os dados dessazonalizados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o volume de vendas varejistas registrou recuo de 1,6% em agosto, em relação ao mês anterior, considerado o conceito ampliado, que incorpora os segmentos de material de construção e veículos e motos, partes e peças. A despeito do recuo do indicador ampliado, seis dos dez segmentos pesquisados pelo IBGE registraram crescimento das vendas, destacando-se o acréscimo de 3,2% em equipamentos e materiais para escritório. As vendas de veículos e motos, partes e peças recuaram 3,7% no mês.

35. Considerando-se as comparações entre idênticos períodos de 2008 e 2007, a elevação nas vendas atingiu 7% em agosto, no conceito ampliado, acumulando 13,5% no ano. Observou-se crescimento generalizado em todos os segmentos, consideradas essas duas bases de comparação, com destaque para equipamentos e materiais para escritório, outros artigos de uso pessoal e doméstico, e móveis e eletrodomésticos. O índice referente a veículos e motos, partes e peças, a despeito do acentuado crescimento no acumulado do ano, 19,8%, revelou desaceleração expressiva em agosto, ao registrar variação de 2,9% em comparação com o mesmo mês do ano anterior.

36. Conforme os dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), referentes à capital paulista, dessazonalizados pelo Banco Central, as consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) registraram elevação de 3,7% em setembro, em relação ao mês anterior. As consultas direcionadas ao Usecheque apresentaram decréscimo de 0,2%, no mesmo tipo de comparação. No ano, até setembro, esses indicadores registraram altas respectivas de 8,3% e de 5,6%, comparativamente ao mesmo período de 2007.

37. Em relação aos indicadores de investimento, a produção de bens de capital e de insumos típicos da construção civil manteve-se praticamente estável em agosto, comparativamente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal. Em comparação com agosto de 2007, esses indicadores cresceram 12,1% e 9,4%, respectivamente. De janeiro a agosto deste ano, a produção de bens de capital aumentou 18,1% e a de insumos típicos da construção civil, 10,5%, comparativamente a igual período de 2007.

38. As importações de bens de capital cresceram 3,7% em setembro, em relação a agosto, quando registraram alta de 19,7% na mesma base de comparação, de acordo com os índices de quantum da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), dessazonalizados pelo Banco Central. O indicador de setembro apontou expansão de 41,3% em relação ao do mesmo mês de 2007, percentual ainda superior aos registrados para os acumulados do ano até setembro, 40%, e em doze meses, 39%, denotando o dinamismo recente das importações de bens de capital e sua contribuição para o atual ciclo de investimentos na economia brasileira.

39. Indicadores da CNI apontaram ritmo da atividade industrial relativamente estável em agosto, com a elevação de 0,6% nas horas trabalhadas, contrastando com a redução de 0,7% na utilização da capacidade instalada, conforme dados dessazonalizados pelo Banco Central. A forte queda de 6,8% no faturamento real dessazonalizado, em relação a julho, ocorreu após variação positiva acumulada no bimestre anterior, resultando em crescimento de 4% no trimestre terminado em agosto, relativamente ao trimestre encerrado em maio. Relativamente a iguais períodos de 2007, o faturamento real aumentou 0,8% em agosto e 8,2% nos primeiros oito meses do ano, enquanto as horas trabalhadas na produção cresceram 3% e 5,7%, nas mesmas bases de comparação. O Nuci situou-se em 83,1% em agosto, 0,6 p.p. abaixo do nível de julho, considerados dados dessazonalizados.

40. De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a produção da indústria decresceu 1,3% em agosto, na série dessazonalizada, comparativamente a julho. Quinze das vinte e sete atividades pesquisadas registraram declínio na produção no mês, com destaque para o desempenho negativo de outros produtos químicos, -5,5%, refino de petróleo e produção de álcool, -4,1%, influenciado por paralisação técnica em uma das unidades de refino, e alimentos, -3,1%. Por categorias de uso, o desempenho desfavorável da indústria refletiu, fundamentalmente, a retração na produção de bens intermediários, 2,7%, em comparação com julho, na série dessazonalizada, sendo a maior queda desde outubro de 2001. A produção de bens de consumo duráveis expandiu 2,1% e a de bens de consumo semi e não duráveis registrou ligeiro recuo, -0,3%.

41. Em comparação com agosto de 2007, a produção industrial cresceu 2%, percentual significativamente inferior aos que vinham sendo observados nos meses anteriores. À exceção da produção de bens de consumo semi e não duráveis, que recuou 1,1%, pressionada pelo setor de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico, todas as categorias de uso apresentaram expansão, destacando-se bens de capital, 12,1%. Por segmentos, doze setores registraram crescimento, sobressaindo-se os de veículos automotores, 9,9%, farmacêutica, 16,3%, e indústria extrativa, 8,6%. No ano, até agosto, o crescimento da produção industrial alcançou 6%, com destaque para a expansão da produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis, 18,1% e 11,8%, respectivamente. No mesmo período, o acréscimo na produção de bens intermediários e de bens de consumo semi e não duráveis atingiu 5% e 1,7%, na ordem. A expansão da atividade industrial, acumulada em doze meses, alcançou 6,8% em julho e 6,5% em agosto, indicando desaceleração na margem.

42. A produção de autoveículos atingiu 298,4 mil unidades em setembro, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 18,2% superior à registrada no mesmo mês de 2007. Considerando dados dessazonalizados pelo Banco Central, a produção de autoveículos apresentou queda de 1,5% em setembro, comparativamente a agosto. No ano, até setembro, a produção de autoveículos aumentou 20% e a de máquinas agrícolas, 32,6%, comparativamente ao período de janeiro a setembro de 2007. Na mesma base de comparação, as vendas de autoveículos no mercado interno cresceram 26%, enquanto as exportações recuaram 4,6%.

43. De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), realizado em setembro pelo IBGE, a área plantada em 2008 deverá crescer 4,6% relativamente à de 2007. A safra de grãos foi estimada em 145,3 milhões de toneladas, 9,1% superior à do ano anterior. Esse resultado incorpora aumentos de 9,2% na produção de arroz, 13% na de milho e 3,4% na de soja, culturas que respondem, conjuntamente, por cerca de 90% da produção de grãos. O LSPA estimou, ainda, acréscimos de 13,7% na produção de cana-de-açúcar e de 28,3% na produção de café.

Expectativas e sondagens

44. Segundo a pesquisa mensal da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em outubro recuou 0,7%, em relação ao mês anterior, traduzindo a retração de 1,5% no Índice das Expectativas do Consumidor (IEC) e a expansão de 0,5% no Índice das Condições Econômicas Atuais (Icea). Em relação a outubro de 2007, o ICC apresentou elevação de 3,6%.

45. A Sondagem de Expectativas do Consumidor da FGV registrou retração de 10% no ICC em outubro, em relação ao mês anterior, tendo o índice atingido o menor nível desde junho de 2006. Tanto as avaliações sobre a situação atual como as expectativas em relação aos próximos meses mostraram-se desfavoráveis em relação ao observado no mês anterior, com quedas respectivas de 12,7% e de 8,5%. Em relação aos índices de outubro de 2007, registraram-se decréscimos de 10,1% no ICC, de 2,3% no Índice da Situação Atual e de 14% no Índice de Expectativas.

46. Ainda segundo a FGV, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) manteve-se em patamar elevado, ao atingir 120,3 pontos em setembro, ante 123 em agosto. O indicador situou-se 2,3 p.p. abaixo do nível registrado em igual mês de 2007, refletindo as retrações respectivas de 3,2 p.p. e de 1,3 p.p. nos componentes relativos à situação atual e às expectativas. Dos quesitos relacionados à situação presente, o nível de demanda global e a situação atual dos negócios continuaram em patamar elevado. Por setores de atividade, o segmento relativo a material de construção foi o único a registrar aumento efetivo no índice, 3,3%, em comparação a agosto, e 8,8%, em comparação a setembro de 2007. Em relação ao emprego industrial, apesar de mais cautelosos do que em setembro de 2007, 32% dos empresários projetaram aumento do contingente de mão de obra a ser contratado nos próximos três meses.

47. Conforme a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, realizada pela FGV, o Nuci atingiu 86,4% em setembro, menor em 0,2 p.p. em comparação ao de agosto, e maior em 0,3 p.p. ao registrado em igual mês de 2007. Em setembro, foram registrados recordes em duas categorias de uso: bens de consumo, que atingiu 88,1%, superando em 3,5 p.p. o observado em setembro de 2007; e material para a construção, cujo nível, 92,1%, apresentou variação interanual de 5,4 p.p.

Mercado de trabalho

48. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do MTE, foram criados 282,8 mil postos de trabalho formais em setembro, melhor resultado da série histórica do Caged para o período, seja considerado o mês, o acumulado do ano ou o acumulado em doze meses. Nos primeiros nove meses do ano, o saldo do emprego atingiu 2.086,6 mil contratações. Os dados dessazonalizados mostraram crescimento mensal de 0,6% no nível de emprego. Houve expansão em todos os setores, destacando-se a construção civil, com taxa de 1,5%, e o setor da indústria de transformação, pelo número de vagas criadas no mês, 114 mil. Considerando a série observada, houve aumentos de 6,5% no acumulado do ano e de 6,3% no acumulado em doze meses.

49. Conforme a PME, realizada pelo IBGE nas seis principais regiões metropolitanas, a taxa de desemprego aberto atingiu 7,6% da População Economicamente Ativa (PEA), em setembro, assinalando estabilidade na comparação com agosto. Em relação ao mesmo mês de 2007, a taxa apresentou declínio de 1,4 p.p. A pesquisa apontou estabilidade no contingente de desocupados no total das seis regiões analisadas. Comparativamente a setembro do ano passado, a ocupação cresceu 3,4%, enquanto a PEA aumentou 1,9%. Considerando o contingente de pessoal ocupado por posição na ocupação, o número de trabalhadores do setor privado aumentou 0,9% de agosto para setembro, representando 112 mil postos de trabalho, refletindo, principalmente, a elevação de 104 mil postos de trabalho com carteira. O número de trabalhadores por conta própria recuou 0,4%, enquanto o número de empregadores cresceu 4,7%. Em relação a setembro de 2007, os trabalhadores com carteira no setor privado lideraram o crescimento da ocupação, com alta de 6%, os empregadores e os empregados sem carteira aumentaram 0,2% e 3,2%, respectivamente, enquanto o número de trabalhadores por conta própria recuou 0,1%. Os empregados no setor público cresceram 5,1%, no mesmo tipo de comparação.

50. De acordo com a mesma pesquisa, o rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas aumentou 0,9% em setembro, em relação a agosto, e 6,4% comparativamente a setembro de 2007. A massa salarial real cresceu 1,7% em setembro, ante o mês anterior, e 10% relativamente a setembro de 2007.

51. Segundo dados da CNI, o contingente de pessoal empregado na indústria de transformação manteve-se estável em agosto, após o aumento mensal de 0,6% em julho, resultando em crescimento de 1,1% no trimestre terminado em agosto, relativamente ao trimestre anterior, segundo a série dessazonalizada pelo Banco Central. Em comparação com agosto de 2007, o pessoal empregado e a massa salarial real paga pelo setor industrial cresceram 4% e 3,6%, respectivamente. Nos primeiros oito meses de 2008, ante o mesmo período de 2007, o pessoal empregado no setor aumentou 4,4% e a massa salarial real paga, 5,1%.

Crédito e inadimplência

52. O saldo dos empréstimos do sistema financeiro atingiu R$1.149 bilhões em setembro, estabelecendo novo recorde na relação com o PIB, 39,1%. No mês, o saldo cresceu 3,5%, acumulando expansão de 34% em doze meses. Consideradas as mesmas bases de comparação, as operações com recursos livres cresceram 3,5% e 37,1%, respectivamente, enquanto as realizadas com recursos direcionados, 3,4% e 26,6%. Entre as operações de crédito com recursos livres, registre-se a manutenção do dinamismo das operações de arrendamento mercantil, cujos saldos contratados nos segmentos de pessoas físicas e pessoas jurídicas elevaram-se, na ordem, 148,5% e 61,9%, em doze meses. Entre as operações com recursos direcionados, assinalem-se, na mesma base de comparação, as expansões de 34,4% nos créditos destinados à habitação, e de 27,4% ao setor rural. Considerada a segmentação por atividade econômica, o saldo dos empréstimos à indústria, em setembro, registrou aumentos de 5,4% em relação a agosto e de 40,1% em doze meses.

53. A taxa média de juros ativa, incidente sobre as operações de crédito referenciais, aumentou para 40,4% a.a., ante 40,1% a.a. em agosto e 35,5% a.a. em setembro do ano anterior. A taxa média das operações com pessoas físicas aumentou 1 p.p. em setembro ante o mês anterior, atingindo 53,1%. Nos empréstimos contratados com pessoas jurídicas, observou-se estabilidade em setembro, com a taxa média de juros mantendo-se em 28,3% a.a. Em setembro de 2007, as taxas médias encontravam-se nos patamares de 46,3% e 23,1%, respectivamente.

54. O prazo médio das operações de crédito referenciais situou-se em 378 dias em setembro, ante 372 dias no mês anterior e 341 dias em setembro de 2007. Nas operações com pessoas jurídicas, o prazo médio atingiu 303 dias, enquanto nas operações realizadas com pessoas físicas, 480 dias, ante 269 dias e 420 dias, respectivamente, em setembro de 2007.

55. A taxa de inadimplência das operações de crédito referenciais, correspondente a atrasos superiores a noventa dias, situou-se em 4% em setembro, recuando 0,6 p.p. em relação ao mês correspondente de 2007. Por segmentos, as taxas relativas a operações com pessoas jurídicas e pessoas físicas atingiram, na ordem, 1,6% e 7,3%, comparativamente a 2,3% e 7,1% em setembro de 2007.

56. A taxa líquida de inadimplência no comércio, calculada pela ACSP, atingiu 5,9% em setembro, ante 5,2% no mesmo mês do ano anterior. No ano, até setembro, a taxa média situou-se em 6,8%, ante 6,2% no mesmo período de 2007.

Ambiente externo

57. Após a declaração de insolvência do Lehman Brothers, aumentou a instabilidade dos sistemas financeiros internacionais, visto que a aversão ao risco e a falta de liquidez nos mercados interfinanceiros passaram a afetar de forma mais decisiva o financiamento da economia real, principalmente nos Estados Unidos. A crise financeira assumiu contornos mais generalizados ao redor do mundo, com ampla dispersão geográfica. Os canais de crédito ficaram obstruídos pela incerteza e pelos problemas de liquidez e solvência que emergiram em seqüência. Além disso, o movimento de desvalorização cambial, simultâneo em diversas economias, encontrou o comércio internacional em contração ou, na melhor das hipóteses, em desaceleração importante.

58. Com o recrudescimento da crise financeira internacional e a ampliação do risco de recessão global, os governos e os bancos centrais das economias desenvolvidas engajaram-se em agressivo movimento de defesa da solidez dos respectivos sistemas financeiros. Nesse sentido, ampliaram as garantias de depósitos, estendendo garantias governamentais a operações interfinanceiras, comprometeram-se a sustentar todos os bancos considerados sistemicamente importantes, inclusive com aportes de capital, e aumentaram a atuação dos bancos centrais via operações de liquidez (maior aceitação de colaterais, maior volume de intervenção e mais prazo para saldar os empréstimos).

59. A adoção dos planos de garantia de estabilidade e solidez dos sistemas financeiros iniciou-se com a aprovação do Programa para Alívio de Ativos Problemáticos (Troubled Asset Relief Program - TARP) dos Estados Unidos, instrumento que deu ao tesouro local a autoridade para comprar até US$700 bilhões de ativos "tóxicos" junto às instituições financeiras, num esforço para recapitalizar o setor, minorar as preocupações sobre a viabilidade do sistema e encorajá-lo a retomar sua função de emprestador.

60. Na Europa, planos de resgate para recapitalizar os bancos e descongelar o mercado de crédito estão sendo aprovados. Destaque-se que os recursos terão origem nos orçamentos de cada país, não havendo previsão de criação de um fundo único, apenas de regras de intervenção uniformizadas que, definidas pela União Européia, visam evitar distorções no mercado regional de bancos.

61. Dados recentes apontam para a redução das pressões inflacionárias na economia global. Com o substancial recuo dos preços do petróleo e das commodities agrícolas, e o aumento do desemprego, verifica-se que o processo inflacionário já apresenta inflexão na maioria das economias maduras. Nos Estados Unidos, soma-se a esses fatores a valorização do dólar. Para o Reino Unido, ainda com pressão de preços em alimentos e serviços, e Noruega, a previsão é de pico inflacionário em setembro, assim como para a Austrália e Nova Zelândia (3º trimestre). Na China, a desinflação se confirma, apesar do aumento interno do preço da energia.

Comércio exterior e reservas internacionais

62. O saldo da balança comercial atingiu US$2,8 bilhões em setembro, acumulando superávits de US$19,6 bilhões no ano e de US$28,7 bilhões em doze meses. No ano, até setembro, as exportações atingiram US$150,9 bilhões e as importações, US$131,2 bilhões, com expansões respectivas de 29,4% e de 53,2%, comparativamente ao mesmo período de 2007. A corrente de comércio atingiu US$282,1 bilhões de janeiro a setembro e acumulou US$361,1 bilhões em doze meses.

63. Em setembro, as exportações atingiram US$20 bilhões, com média diária de US$909,9 milhões, valor 22% superior ao observado no mês correspondente de 2007. As importações registraram US$17,3 bilhões, ou média diária de US$784,7 milhões, 39,5% superior a setembro do ano anterior.

64. As reservas internacionais no conceito de liquidez totalizaram US$207,5 bilhões em setembro, com aumentos de US$2,4 bilhões no mês e de US$27,2 bilhões na comparação com o final de 2007.

Mercado monetário e operações de mercado aberto

65. Após a reunião do Copom de setembro, a curva de juros futuros apresentou forte elevação, com aumento da inclinação. O período foi marcado por alta volatilidade e maior aversão ao risco nos mercados internacionais, decorrentes dos desdobramentos da crise financeira nos EUA e na Europa e do receio de desaceleração da economia mundial. A aversão ao risco estimulou a redução generalizada de posições alavancadas em diversos mercados, ocasionando fortes perdas nas bolsas de valores internacionais e apreciação do dólar. Nesse cenário, as taxas de juros futuros no mercado doméstico registraram elevação acentuada, intensificada pela desvalorização do real frente ao dólar. No final do período, as atuações do Banco Central no mercado de câmbio e os leilões de compra e venda de títulos de rentabilidade prefixada promovidos pelo Tesouro contribuíram para atenuar esse movimento. Entre 8 de setembro e 27 de outubro, as taxas de um, de três e de seis meses subiram, respectivamente, 0,47 p.p., 0,38 p.p. e 0,72 p.p.. As taxas para os prazos de um, dois e três anos se elevaram em 1,46 p.p., 2,68 p.p. e 3,59 p.p., respectivamente. A taxa real de juros, medida pelo quociente entre a taxa nominal de um ano e a expectativa de inflação (suavizada) para os próximos doze meses, elevou-se de 8,96%, em 8 de setembro, para 10,33%, em 27 de outubro.

66. Em 29 de setembro, o Banco Central realizou leilão de swap cambial reverso destinado à rolagem do vencimento de 1º de outubro. A operação totalizou o equivalente a US$ 0,5 bilhão, representando 26% do total vincendo. A partir de 6 de outubro, o Banco Central ofertou diariamente contratos de swap cambial tradicional, nos quais assume posição ativa em taxa de juros doméstica e passiva em variação cambial. Até 27 de outubro, o total dessas operações somou o equivalente a US$19,1 bilhões.

67. Na administração da liquidez do mercado de reservas bancárias, o Banco Central realizou, no período de 9 de setembro a 27 de outubro, operações compromissadas longas, tomando recursos por prazos de cinco e de sete meses. O saldo diário médio do estoque dessas operações alcançou R$57,9 bilhões, dos quais R$40,3 bilhões em operações de sete meses. No mesmo período, o Banco Central atuou em 36 oportunidades como tomador de recursos por meio de operações compromissadas de curtíssimo prazo. Realizou, ainda, operações de nivelamento, ao final do dia, com prazo de um e de dois dias úteis. As operações de curtíssimo prazo, incluídas as de nivelamento, tiveram saldo diário médio tomador de R$60,5 bilhões. Em 11, 15, 22 e 29 de setembro e em 1º e 6 de outubro, o Banco Central tomou recursos com prazos de 10 a 28 dias úteis, nos montantes de R$20,0 bilhões, R$7,0 bilhões, R$5,7 bilhões, R$4,7 bilhões, R$2,7 bilhões, R$38,9 bilhões e R$2,2 bilhões, respectivamente. Além disso, em 11 de setembro, retirou do mercado, também por meio de operação compromissada, R$127,3 bilhões por 35 dias úteis. No período, o saldo diário médio dessas operações tomadoras de curto prazo foi de R$172,0 bilhões.

68. Entre 9 de setembro e 27 de outubro, as emissões do Tesouro Nacional referentes aos leilões tradicionais somaram R$12,2 bilhões. A colocação de títulos de remuneração prefixada alcançou R$7,5 bilhões, sendo R$5,9 bilhões em Letras do Tesouro Nacional (LTN) de vencimento em 2009, 2010 e 2011, e R$1,6 bilhão em Notas do Tesouro Nacional - Série F (NTN-F) de vencimento em 2012 e 2017. As vendas de Letras Financeiras do Tesouro (LFT) totalizaram R$2,8 bilhões, com a colocação de títulos de vencimento em 2012 e 2014. Nos leilões de Notas do Tesouro Nacional - Série B (NTN-B), foram vendidos títulos de vencimento em 2011, 2013, 2017, 2024, 2035 e 2045, em um montante total de R$1,9 bilhão.

69. No mesmo período, o Tesouro realizou leilões de venda de LTN de vencimento em julho e outubro de 2009 conjugada à compra de LTN de vencimento em outubro de 2008 e janeiro de 2009, em um total de R$2,1 bilhões. As vendas de NTN-B liquidadas mediante a entrega de outros títulos somaram R$2,1 bilhões e envolveram títulos de vencimento em 2011, 2013, 2017, 2024, 2035 e 2045. O Tesouro efetuou, também, leilões de compra de LTN e de NTN-B, que alcançaram R$1,0 bilhão e R$0,1 bilhão, respectivamente.

70. Nos dias 23, 24 e 27 de outubro foram realizados leilões simultâneos de compra e de venda de NTN-F de vencimentos em 2012, 2014 e 2017. O resultado das compras desses títulos pelo Tesouro Nacional totalizou R$1,6 bilhão, enquanto o das vendas, R$0,1 bilhão.

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