terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sob a neblina, a economia real

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/579/sob-a-neblina-a-economia-real-as-vendas-seguem-em-114035-1.htm
As vendas seguem em alta, o desemprego é o menor em dez anos e, se tudo der errado, o Brasil ainda crescerá 3% em 2009
Por Leonardo Attuch
FABIANO CERCHIARI
OBRA DO RODOANEL: cronograma antecipado, apesar da turbulência internacional

BASTA O DIA RAIAR PARA que 11 mil trabalhadores assumam suas posições nos canteiros do Rodoanel. A espessa neblina que encobre as manhãs de São Paulo não diminui o ritmo de trabalho. Ao contrário. Para cortar gastos, o cronograma de construção do trecho Sul foi reduzido de 48 meses para 35 meses. Orçada em R$ 4,2 bilhões, a obra é o maior projeto rodoviário da América Latina. "A antecipação reduzirá o custo em mais de 4%", disse à DINHEIRO o engenheiro Paulo Vieira de Souza, diretor da Dersa, a estatal que toca o projeto. A dois mil quilômetros dali, em Salvador, os lojistas já estão recrutando dez mil pessoas - é o maior volume de contratações temporárias da história. "Mantemos a previsão de um aumento de 9% nas vendas do Natal, sobre um resultado de 2007 que já foi muito bom", diz o empresário Paulo Motta, presidente do Sindilojas baiano. Em todo o Brasil, as contratações de vendedores em novembro e dezembro serão de 113 mil pessoas, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Empresas Terceirizáveis e Trabalho Temporário. Dados assim se somam à última pesquisa de emprego e desemprego do Dieese, que apontou o melhor resultado dos últimos dez anos. A taxa do mês de setembro caiu para 14,1%, com a abertura de 72 mil postos nas principais regiões metropolitanas - no ano, já foram criados mais de dois milhões de empregos com carteira.

Assim como no Rodoanel, há também uma bruma sobre os mercados financeiros, capaz de turvar a visão de alguns analistas, e ninguém sabe precisar seus efeitos na economia real - o único consenso é que virá uma desaceleração em 2009. Mas basta olhar com atenção os indicadores macroeconômicos para enxergar o problema sob novos ângulos. Nas apresentações que tem feito, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, descarrega slides com uma profusão de números. O ritmo atual do crescimento do PIB, pela taxa acumulada em quatro trimestres, ainda é de 6%. E a produção industrial avança 6,6% - no setor de bens de capital, que antecipa grandes investimentos, a taxa chega a 18%. "O Brasil vem num ritmo tão forte que, por maior que seja a freada, ela não será capaz de produzir um crescimento abaixo de 3% em 2009", prevê Francisco Lopes, ex-presidente do BC. Para um país que já tem um PIB superior a US$ 1,3 trilhão, 3% não seria nada mal - aliás, essa tem sido a média do governo Lula. A perspectiva favorável continua animando investidores de longo prazo. Na semana passada, em São Paulo, um leilão de concessões rodoviárias movimentou R$ 11,5 bilhões, com deságios de quase 55% nos pedágios. No Salão do Automóvel, a Toyota também confirmou a construção de uma segunda fábrica no Brasil. "Essa crise não deve ser importada", diz o economista Roberto Macedo, da USP. A mensagem implícita é uma só: quem não souber dirigir na neblina, ficará para trás.

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