quarta-feira, 5 de novembro de 2008

IPOs em baixa: crise pune estreantes e afasta chance de novas ofertas no Brasil

http://economia.uol.com.br/ultnot/infomoney/2008/11/04/ult4040u15453.jhtm


SÃO PAULO - Se até o ano passado os investidores brasileiros se deparavam com uma enxurrada de empresas abrindo capital na Bolsa de Valores de São Paulo, o mesmo não se pode dizer de 2008. Preocupadas com as deterioradas condições do mercado em função da crise e vítimas da escassez de crédito, diversas companhias têm adiado seus planos de realizar um IPO (Initial Public Offering).


Para se ter uma idéia da discrepância, basta olharmos para os números. Em 2006 e 2007, quando o cenário se apresentava altamente promissor para a renda variável, nada menos que 90 empresas começaram a negociar suas ações na Bolsa brasileira. Já neste ano, diante do conturbado momento para a economia global, somente 4 companhias foram corajosas o suficiente para ingressar no mercado acionário doméstico.

Além de confirmarem a tendência de que, quando os mercados caem, há pouca oferta de ações, as estatísticas também mostram que a "seca" não se restringe ao Brasil. Segundo o professor de Finanças da Universidade da Flórida, Jay R. Ritter, os Estados Unidos terão o menor nível anual de IPOs desde 1979, enquanto na Europa, também há um forte recuo nas ofertas iniciais. Mas este não é o principal ponto de preocupação.

Desempenhos desde a estréia impressionam

Deixando um pouco de lado a escassez de ofertas no mercado brasileiro, o que realmente chama a atenção é o desempenho muito aquém do esperado da grande maioria das empresas que abriram capital nos últimos anos: das 94 que ingressaram na Bovespa desde o início de 2006, somente 9 apresentam uma performance acima da registrada pelo Ibovespa desde a época de suas respectivas estréias.

Explicações não faltam para as surpreendentes desvalorizações, que em alguns casos beiram o impressionante - e impossível - patamar de 100%. Deterioração das condições dos mercados, intervalo inicial da oferta acima do valor justo e até falhas na administração das empresas são apontadas para justificar o comportamento destes papéis.

O pior deles, com um diferencial acumulado para o Ibovespa negativo em quase 98 pontos percentuais desde quando deu início às negociações na Bolsa, é o da Abyara. Os ativos da incorporadora encabeçam o fraco desempenho das estréias advindas do setor imobiliário, líder absoluto em IPOs nos últimos anos.

Das 10 empresas que constam na tabela abaixo, nada menos que 5 pertencem ao ramo de imóveis. Segundo analistas, a explicação mais plausível para a performance é que com o grande volume de recursos captados nas ofertas, as empresas pecaram pela expectativa de manutenção das condições de crédito e estabilidade do mercado.

Piores desempenhos em relação ao Ibovespa
CompanhiaAtivoValor de EstréiaValor Atual*% Acumulada% Acumulada IbovespaDiferencial acumulado (em p.p.)
AbyaraABYA3R$ 25,00R$ 1,58-93,68%+4,24%-97,92
MMXMMXM3R$ 40,25**R$ 4,25-89,57%+7,42%-96,99
Brasil EcodieselECOD3R$ 12,00R$ 0,86-92,83%-8,31%-84,52
GP InvestmentsGPIV11R$ 34,27R$ 6,90-79,87%+4,34%-84,21
CSU CardSystemCARD3R$ 18,00R$ 2,20-87,78%-5,41%-82,37
Klabin SegallKSSA3R$ 15,00R$ 2,76-81,60%+0,66%-82,26
Medial SaúdeMEDI3R$ 21,50R$ 6,49-69,81%+9,92%-79,73
CompanyCPNY3R$ 16,00R$ 3,30-79,38%-2,62%-76,75
Camargo CorrêaCCIM3R$ 14,50R$ 2,15-85,17%-13,34%-71,83
TecnisaTCSA3R$ 13,00R$ 2,71-79,15%-14,54%-64,62
*com base no pregão de 3/11 **valor ajustado em função do desdobramento

O desempenho dos papéis da mineradora MMX desde a estréia também deixa a desejar. Mesmo contando com boas perspectivas, as ações da empresa nunca engataram a performance esperada por diversos analistas. E para piorar, encontraram nas recentes acusações da Polícia Federal ao controlador Eike Batista o estopim para figurar como o segundo pior IPO em relação ao índice acionário.

Apesar de não aparecerem na relação, também merecem destaque os casos de Agrenco e Laep. A primeira já perdeu mais de 97% de seu valor de mercado desde a estréia, movimento que ganhou força após a suspeita de participação da companhia em um esquema de fraudes em Santa Catarina e São Paulo. Já a segunda, que caiu mais de 94% em menos de um ano, teve sua governança questionada por ter aplicado os recursos obtidos no IPO de forma diferente do que havia prometido aos investidores quando se apresentou ao mercado.

Adicionalmente, existe um aspecto comum a boa parte das estreantes que também ajuda a compreender a razão de tamanha performance negativa frente ao Ibovespa: os altos patamares dos preços fixados a tais papéis ainda nos trâmites da oferta, por meio do procedimento de bookbuilding.

Por fim, embora não constem entre as que mais caíram desde a data de estréia na Bolsa, os casos de Bovespa Holding e BM&F, que se fundiram recentemente e formaram a BM&F Bovespa, também são dignos de serem lembrados. Depois de marcarem inícios bombásticos, tanto em termos de volume quanto de rentabilidade, as companhias não conseguiram ficar imunes ao pessimismo generalizado dos mercados e também viram seus ativos sofrer forte penalização por parte dos investidores.

Casos de sucesso são raros nos últimos anos

Mas apesar do imenso leque de novatas que têm visto seus papéis derreterem na Bolsa brasileira, é importante lembrar que, mesmo em meio ao conturbado momento para a renda variável, ainda é possível vermos alguns raros casos de sucesso no mercado doméstico, já que apenas 9 dos 94 IPOs desde 2006 apresentam uma performance acima do Ibovespa desde a data de estréia.

Dentre as bem-sucedidas, o grande destaque fica por conta da GVT, do setor de telecomunicações, que estreou na Bolsa em fevereiro de 2007 com valorização de mais de 27% e apresenta desde então um diferencial acumulado para o Ibovespa positivo em mais de 48 pontos percentuais. A companhia é reconhecida pelo mercado como de extrema eficiência operacional, com resultados surpreendentes e, por conta disso, é presença constante nas carteiras recomendadas de diversas instituições.

Melhores desempenhos em relação ao Ibovespa
CompanhiaAtivoValor de EstréiaValor Atual% acumulada*% acumulada Ibovespa*Diferencial acumulado (em p.p.)*
GVTGVTT3R$ 18,00R$ 23,82+32,33%-16,60%+48,93
RedecardRDCD3R$ 27,00R$ 24,19-10,41%-33,46%+23,05
HypermarcasHYPE3R$ 17,00R$ 13,01-23,47%-40,96%+17,48
TotvsTOTS3R$ 32,00R$ 38,00+18,75%+2,80%+15,95
SLC AgrícolaSLCE3R$ 14,00R$ 12,20-12,86%-28,68%+15,82
AmilAMIL3R$ 14,00R$ 10,20-27,14%-40,36%+13,22
OdontoprevODPV3R$ 28,00R$ 28,000,00%-8,59%+8,59
AnhangueraAEDU11R$ 18,00R$ 15,89-11,72%-13,15%+1,43
*com base no pregão de 3/11

Logo em seguida aparece a Redecard, que captou nada menos que R$ 4,6 bilhões em um dos maiores IPOs da história do País, realizado em julho do ano passado. Após subirem 24% no primeiro dia de negócios, as ações da empresa mantiveram desempenho superior ao do Ibovespa e apresentam atualmente ganhos de 23,05 pontos percentuais acima do benchmark.

A Nutriplant completa a lista de empresas que acumulam performance superior à do principal índice acionário brasileiro desde que estrearam no mercado. A companhia não consta no ranking, pois negocia suas ações na Bovespa Mais - plataforma de negociações para empresas de pequeno porte - mas nem por isso deixa de ser destaque, já que soma um desempenho quase 58 pontos percentuais acima do índice.

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