Vanessa Adachi e Raquel Balarin, de São Paulo
Os banqueiros Pedro Moreira Salles e Roberto Setubal são vizinhos. Ambos moram na charmosa praça Pereira Coutinho, na Vila Nova Conceição. Foi ali, no coração deste bairro nobre da capital paulista, na sala de estar do apartamento de Moreira Salles, que os dois aventaram, pela primeira vez, em julho do ano passado, a hipótese de unir seus bancos numa reação ao avanço do Santander no Brasil. Depois disso, embora os edifícios fiquem um de frente para o outro, Setubal jamais cruzou a praça novamente para conversar com Moreira Salles para tratar da fusão entre Itaú e Unibanco, anunciada ontem.
As reuniões que selaram o negócio, e mesmo a assinatura dos contratos, se deram vários quilômetros longe dali, numa mansão com um suntuoso jardim, forrado de obras de arte, no bairro do Morumbi. O dono do casarão é Israel Vainboim, o presidente do conselho da Unibanco Holding, que ingressou no banco em 1969 e tornou-se um dos executivos de maior confiança de Moreira Salles. Sua casa já foi palco de inúmeras outras negociações já tocadas pelo Unibanco. Foi lá que Unibanco e Bradesco quase fecharam, em 1999, fusão praticamente idêntica à anunciada agora com o Itaú.
Salles e Setubal evitaram frequentar um a casa do outro para não despertar a desconfiança da vizinhança em geral, formada, em grande parte, por gente do mercado financeiro. Mas um vizinho em particular preocupava os banqueiros. Apenas alguns andares separam o apartamento de Setubal do de José Luiz Acar Pedro, vice-presidente do Bradesco e um dos candidatos à sucessão de Márcio Cypriano na presidência da instituição. A estratégia deu certo. O Bradesco não soube de nada até a noite de domingo, quando Moreira Salles ligou para Lázaro Brandão, presidente do conselho.
Na maior fusão bancária brasileira de todos os tempos, não participaram banqueiros de investimento, nem advogados terceirizados. Tudo foi feito dentro de casa, o que colaborou para que a informação fosse mantida no mais absoluto sigilo. No domingo, apenas pouco mais de 20 pessoas - acionistas das famílias Moreira Salles, Setubal e Villela e os executivos mais importantes dos dois grupos - participaram da reunião de assinatura dos contratos.
Embora os dois bancos tenham informado que as negociações começaram há quinze meses, elas de fato se intensificaram nas últimas semanas. A crise financeira foi um catalisador importante. A saúde financeira do Unibanco vinha sendo alvo de boatos - todos desmentidos. As ações do banco sofreram com isso mais do que qualquer outra grande instituição brasileira, o que levou o Unibanco a antecipar a divulgação dos resultados do terceiro trimestre e, no mesmo dia, lançar um grande programa de recompra dos seus papéis. Em 24 de outubro, o banco adquiriu R$ 226 milhões em ações, quase o mesmo volume movimentado por seus papéis ontem na bolsa. O Itaú também antecipou os números trimestrais e recomprou seus papéis.
O executivo de uma instituição concorrente se mostrou surpreso com o formato final da transação. "As duas partes mostraram um grande desprendimento", disse, a respeito da estrutura acionária, que deu 50% das ações ordinárias da holding que vai controlar o novo banco à família Moreira Salles e os outros 50% aos atuais controladores do Itaú, as famílias Setubal e Villela, embora o Itaú seja muito maior.
No mercado, o Unibanco era visto como uma instituição a ser engolida por alguém maior. Por outro lado, Pedro Moreira Salles sempre relutou em vender simplesmente o banco da família, fundado por seu pai. Segundo pessoas ligadas aos dois bancos, de olho em um movimento estratégico para o Itaú, Setubal aceitou um desenho que deu conforto a Moreira Salles. Dois aspectos do desenho confirmam essa percepção. Em primeiro lugar, porque, embora dividam meio a meio as ONs, o ramo Itaú ficou com 100% das ações preferenciais da IU Participações, empresa que vai controlar a Itaú Unibanco Holding. Além disso, uma participação de 36% das ONs do novo banco, pertencente ao ramo Itaú (Itaúsa), foi deixada de fora da IU.
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