sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Espírito do desenvolvimento

Delfim Netto

Finalmente nesta quarta-feira o secretário do Tesouro dos EUA anunciou que o governo vai comprar participação no capital de instituições financeiras para influir diretamente no restabelecimento da fluidez do crédito interbancário. Paulson reconheceu que, mesmo fornecendo liquidez à vontade, não estava conseguindo que as linhas se recompusessem voluntariamente, diante da desconfiança generalizada.

Temos uma corrida contra o tempo para que o sistema financeiro mundial volte a funcionar e aos poucos consiga reduzir os efeitos que a constrição do crédito está causando na economia real dos países desenvolvidos. O rescaldo da patifaria financeira já está fazendo grandes estragos nos níveis da atividade industrial, no comércio, com a conseqüente redução da oferta de empregos e a reação defensiva dos consumidores.

A questão, para o Brasil, é agir em tempo hábil para criar condições de neutralizar os efeitos da retração econômica dos países desenvolvidos sobre a nossa economia real, procurando manter a oferta de emprego na maior amplitude em todos os setores da atividade produtiva e dar sustentação aos níveis de consumo que a sociedade brasileira alcançou nos últimos dois ou três anos. Nos comentários que tenho feito sobre essa crise, venho insistindo que se tivermos inteligência e um pouco de ousadia, isto é perfeitamente atingível. O governo Lula demonstrou agilidade e competência ao enfrentar (e neutralizar em boa parte) os efeitos da tormenta nos mercados externos sobre as nossas instituições financeiras. Para surpresa de muitos, elas comprovaram uma higidez às vezes insuspeitada.

Se olharmos a economia real brasileira, aquela que tem a ver com o cidadão que ganha a vida com o seu trabalho e que depende da produção e do emprego, vemos que hoje ela apresenta condições de resistência à turbulências como não se verificavam há pelo menos 25 anos. Temos estabilidade monetária, inflação baixa, crescimento robusto do PIB e das exportações acima da média mundial, reservas superiores a US$ 200 bilhões e nossa dívida externa tornou-se desprezível. Se olharmos o longo prazo, as condições para o desenvolvimento sustentado estão dadas para os próximos 25 anos pelo menos, na medida em que nos libertamos de duas limitações fundamentais: a) a ameaça de crises de energia, afastada com a descoberta do pré-sal, com a auto-suficiência a vista em petróleo e a retomada da construção das hidrelétricas; b) das crises de financiamento dos déficits em conta-corrente.

Nessas condições, não há razão para que o setor privado suspenda seus planos de investimentos, pois a constrição do crédito terá que ser eliminada em curto prazo pela ação conjunta do Estado e do setor bancário. O governo Lula tem demonstrado grande empenho em preservar o espírito do desenvolvimento dos empresários, recuperado nos últimos três anos a partir dos projetos do PAC. Desde o início da crise tem reiterado que não cortará o investimento público; que manterá todas as obras prioritárias de ampliação da infra-estrutura e os programas sociais, pois não aceita a idéia que é preciso parar o crescimento ou reduzir o consumo dos brasileiros para pagar as patifarias financeiras do primeiro mundo.

É preciso apoiar esta política anti-cíclica (como a definiu a ministra-chefe da Casa Civil) pois é a forma correta e inteligente de enfrentar os efeitos da importação da crise financeira.

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