quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O que fazer com os investimentos em bolsa?

Flavio Sznajder

Com os recentes eventos no mercado financeiro mundial e a forte desvalorização da bolsa brasileira, diversos clientes fazem a mesma pergunta: "O que fazer?" Para melhor entendimento dos leitores, tentamos estruturar a resposta em duas partes: (i) dado o cenário atual, o que a história nos indica como os eventos mais prováveis para os próximos cinco anos; e (ii) partindo do portfólio de investimentos existente, o que deve ser feito?

A história nos ensina que a compra de ações após grandes quedas - aqui definidas como superiores a 35% -, e sua manutenção por períodos de três a cinco anos, gera retornos bastante elevados. Identificamos seis períodos com tais características nos últimos 15 anos no Brasil. Caso tivéssemos comprado a carteira do Índice Bovespa todas as vezes que ela chegasse a 35% de queda, na média, teríamos um retorno de 160% em três anos e 325% em cinco anos.

Dentre estes seis períodos, apenas um não trouxe retorno expressivo em cinco anos. Entretanto, esse período, que começou em 1997, enfrentou outra crise no seu aniversário de cinco anos, em 2002 com as eleições presidenciais. Já, o maior retorno para um mesmo intervalo de cinco anos - 600% - foi de 1995 até 2000. Observa-se que devido à estabilidade do mercado local, a tendência é que tais eventos venham a se tornar menos freqüentes e mais relacionados a crises internacionais, como a atual.

Sabemos, portanto, que o retorno do investimento em bolsa em momentos de crise tem alta probabilidade de ser elevado no longo prazo. Dessa forma, é recomendado que o investidor considere a realocação ou o aumento da sua exposição em ações hoje ou em algum momento nos próximos meses.

Para aqueles que não tinham uma exposição elevada em ações, a pergunta passa a ser quando entrar no mercado. Uma resposta correta seria agora, já que o potencial de alta no longo prazo justifica o investimento. Outra seria aplicar o capital de forma disciplinada ao longo de um período, como, por exemplo, 12 meses. Nesse caso, o dinheiro seria dividido em 12 parcelas e investido em ações em uma determinada data de cada mês. Dessa forma, o investidor poderá fazer preço médio ao longo de um período de alta incerteza para o mercado acionário.

Para aqueles investidores que já estão com parte relevante dos seus ativos em bolsa, uma análise diferente deve ser feita. Como houve grande alteração no preço de negociação de praticamente todos ativos, houve também grande variação relativa de preços. Algumas ações caíram mais que outras, vis-à-vis seus valores intrínsecos. Nesse caso, seria recomendado avaliar uma mudança de posição de algumas ações mais caras para outras mais baratas. É possível, por exemplo, vender uma companhia que está sendo negociada a 5 vezes a geração de caixa e comprar outra que esteja sendo negociada a 3 vezes a geração de caixa. Dessa forma, é possível potencializar o ganho no longo prazo.

O preço de negociação de diversos ativos está incrivelmente baixo. Em alguns casos, é possível adquirir participações em companhias pelo valor de seu caixa, levando todo o negócio de graça. Em outros casos, se paga uma ou duas vezes a geração de caixa da companhia. Não estamos falando de companhias quebradas ou que foram gravemente afetadas pelos últimos eventos. Estamos falando de companhias sadias, com negócios lucrativos que sofreram fortes desvalorizações em seus preços de negociação.

O que ocorreu nas últimas semanas foi um forte desequilíbrio entre a oferta e demanda de algumas ações. Em alguns momentos não existia comprador para determinadas ações. As vendas ocorreram principalmente devido à necessidade de gerar caixa por diversos participantes do mercado, tanto para honrar saques em seus fundos como para reequilibrar seus portfólios.

Esses grandes desequilíbrios geram grandes oportunidades para os investidores de valor, já que, invariavelmente, a dinâmica da maioria das empresas não acompanha o pânico do mercado financeiro.

Apesar do sofrimento coletivo e da alta incerteza no curto prazo, deve-se começar a pensar nos assuntos aqui discutidos. A história nos mostra que o investimento em ações baratas gera retornos elevados e consistentes ao longo do tempo. É aconselhável que aproveitemos tais momentos, pois não são muito freqüentes e, possivelmente, acontecerão cada vez menos.

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