quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Investidor teme "déjà vu" da crise da Rússia

Daniele Camba

No dia da divulgação do balanço da Petrobras, que trouxe expectativas bastante positivas, os investidores foram surpreendidos com uma deterioração importante na economia de um dos principais produtores de petróleo do mundo: a Rússia. Numa tentativa desesperada de estancar a saída de recursos do país, que vem ocorrendo de forma intensa nos últimos meses, acompanhando a queda do preço do petróleo, o Banco Central russo aumentou a taxa de juros pela quinta vez este ano, de 11% para 12% ao ano. Além disso, ampliou em cerca de 1% o sistema de bandas entre o rublo e uma cesta de moedas formada por euro e dólar, permitindo o enfraquecimento da moeda russa. A bolsa russa caiu 10,67% e os negócios foram suspensos até amanhã.

O temor de que a economia da Rússia esteja entrando numa de suas piores fases desde a crise de outubro de 1998 já foi sentido pelos demais mercados, especialmente os emergentes. Para sorte dos investidores em ações brasileiras, a Bovespa foi ontem o único mercado que não sofreu entre os dos quatro países que formam os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Para se ter uma idéia, o Índice Bovespa, depois de muito subir e cair, fechou em alta de 1,32%, aos 37.261 pontos. Já o principal índice da bolsa da Índia caiu 6,61% e o índice Xangai, da bolsa da China, se desvalorizou 1,66%.

Mas alguns analistas avaliam que o mercado brasileiro dificilmente continuará resistindo quando os investidores se derem conta da gravidade dos problemas enfrentados pela economia russa. "A Bovespa conseguiu descolar, em parte, pelo volume financeiro pequeno (R$ 3,3 bilhões), que fez com que a valorização de algumas ações ganhasse peso, caso das elétricas", diz o gestor de renda variável da Infinity Asset Management, George Sanders. Ontem foi feriado nos EUA, Dia dos Veteranos, o que reduziu os negócios aqui.

Sanders lembra que muitos investidores estrangeiros costumam comparar o Brasil com a Rússia. Primeiro, porque os dois são países emergentes e estão juntos na sigla Bric. E, segundo, porque ambos são grandes produtores de petróleo. "Na hora em que o mercado entra em pânico, os investidores esquecem que há diferenças significativas entre os dois países, a maior delas, a superioridade dos fundamentos da economia brasileira ante a fragilidade da russa", diz Sanders.

A enorme fuga de recursos comprova a desconfiança cada vez maior que o mercado internacional tem com relação à solidez da Rússia. Desde agosto, o país perdeu nada menos que US$ 112 bilhões de reservas internacionais, que hoje se encontram na casa dos US$ 485 bilhões. "É uma perda muito grande num curto espaço de tempo", diz o sócio da Pentágono Asset Management Marcelo Ribeiro. A experiência com outros países, entre eles o Brasil, mostra que a mudança de ontem na banda cambial é o prenúncio de uma crise financeira. "O mercado não é bobo e, assim que percebe que o governo não tem mais forças para manter o câmbio onde estava, vai até as últimas conseqüências, testando o poder de fogo da autoridade monetária", afirma Ribeiro.

Ele, no entanto, acalma aqueles que acreditam que esta crise possa ser um "déjà vu" da crise russa que assolou os mercados dez anos atrás. No caso do Brasil, a única semelhança é que os dois países são produtores de commodities, enquanto Índia e China, também no grupo dos Bric, são consumidores de tais matérias-primas. Sem contar que, em 1998, o contágio se deu principalmente com a quebra do fundo Long Term Capital Management (LTCM). Vale lembrar que o Brasil pende muito mais para o lado da China do que da Rússia. Portanto, se o pacote de US$ 586 bilhões de estímulo à economia chinesa surtir efeito, o Brasil deve se beneficiar, vendendo uma parte importante da sua produção de commodities para esse país.

Após o fechamento do pregão, a Petrobras divulgou o lucro do terceiro trimestre, de R$ 10,852 bilhões, o maior da sua história. O resultado também é 96% maior que o do mesmo período de 2007. Já o lucro da Eletrobrás no trimestre passado foi de R$ 2,1 bilhões, para prejuízo de R$ 174 milhões no mesmo período de 2007.

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