quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Políticas anti-recessivas

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

O MUNDO caminha para a recessão? Infelizmente, o risco parece ser muito real. A crise financeira iniciada nos Estados Unidos está provocando uma deterioração acentuada das perspectivas de crescimento e de geração de empregos em escala internacional.
As últimas projeções do FMI, divulgadas há uma semana, não deixam dúvidas quanto a esse risco. Em 2009, todos os países do G7, exceto o Canadá, registrarão queda do PIB, segundo o FMI. Os países desenvolvidos, em seu conjunto, terão queda de 0,3% no PIB -a primeira contração anual desde a Segunda Guerra Mundial.
As projeções do Fundo para os países em desenvolvimento são mais favoráveis. Nossos países serão praticamente a única fonte de crescimento na economia mundial em 2009. Mas a redução no ritmo de expansão é muito expressiva. O conjunto dos países em desenvolvimento crescerá 6,6% em 2008 e 5,1% em 2009, de acordo com o Fundo, depois de ter crescido 8% em 2007.
Note-se que essas projeções pendem para o lado favorável, como indica o próprio FMI. É bem possível que a recessão seja mais profunda nos países desenvolvidos e se generalize ainda mais em 2009. As medidas tomadas nos EUA e na Europa evitaram um colapso do sistema financeiro, mas a crise ainda não foi resolvida. A recessão nos países desenvolvidos pode exacerbar a fragilidade dos bancos e outros intermediários, realimentando a instabilidade. E, nos meses recentes, os países em desenvolvimento sentiram com mais força o impacto da desordem financeira nos EUA e na Europa.
O que fazer? Cresce a percepção, mesmo em meios mais apegados à ortodoxia econômica, de que os governos terão de agir para afastar o risco de uma recessão mundial. Isso significaria adotar políticas monetárias e fiscais anti-recessivas. Essa é, por exemplo, a posição do FMI, expressa publicamente em mais de uma ocasião (ver, por exemplo, "World Economic Outlook Update", dia 6 deste mês, www.imf.org).
Na avaliação do FMI, o estímulo proporcionado pelas políticas macroeconômicas ainda é insuficiente.
É claro que as circunstâncias variam de país para país. Nem todos os governos têm condições de recorrer a políticas expansivas. Mas há espaço, em muitas economias, para atuar de forma anticíclica.
No momento, o instrumento mais relevante talvez seja a política fiscal. A política monetária parece ter alcançado seu limite em vários países -seja porque as taxas de juro básicas já estão muito próximas de zero, seja porque a crise financeira obstrui a eficácia do instrumento monetário.
Diversos países, alguns deles de importância sistêmica como os Estados Unidos e o Japão, chegaram a uma situação keynesiana em que a política fiscal expansionista é o instrumento mais eficaz contra uma contração nos níveis de atividade e de emprego. Essa política fiscal anti-recessiva pode tomar várias formas, incluindo expansão do investimento público em infra-estrutura, ampliação do seguro-desemprego, diminuição de impostos etc.
Melhor seria se os governos pudessem atuar de forma mais ou menos simultânea e coordenada. A experiência mostra que medidas conjuntas têm impacto maior do que iniciativas nacionais isoladas.
A reunião dos chefes de Estado do G20, que se realizará aqui em Washington no sábado, talvez seja a oportunidade para dar início a uma ação anti-recessiva de âmbito internacional.

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