Sergio Lamucci, de São Paulo
Apesar das críticas ácidas de alguns economistas, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano foi bem recebida por um grupo considerável de analistas. Até a reunião de janeiro, argumentam eles, o Banco Central (BC) terá à disposição mais uma série de indicadores econômicos, o que permitirá um diagnóstico mais preciso da atividade econômica e da inflação.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, diz que havia espaço para um corte da Selic no encontro do Copom de anteontem, mas não considera que o BC tenha errado ao manter os juros. Para ele, é compreensível que o BC queira esperar um pouco mais para ver o impacto da desvalorização do câmbio sobre os preços. "A manutenção da Selic era tecnicamente defensável", afirma Vale, para quem foi interessante a solução adotada no comunicado da decisão, informando que a maior parte dos integrantes do Copom discutiu a possibilidade de redução dos juros já na reunião de anteontem.
Segundo ele, os números sobre a atividade econômica que devem surgir nas próximas semanas tendem a ser "assustadores". Vale estima, por exemplo, que a produção industrial em novembro tenha caído 5,5% em relação ao mesmo mês de 2007. Com isso, o BC deve cortar os juros em 0,25 a 0,5 ponto percentual em janeiro, acredita ele.
O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, também diz que as condições da economia possibilitavam a redução da Selic já nesta semana, mas avalia, como Vale, que o BC tinha argumentos para não mexer nos juros. O cenário atual, segundo ele, ainda é de muita incerteza, e é defensável aguardar mais informações antes de iniciar um ciclo de afrouxamento monetário.
De qualquer modo, ele acredita que o BC vai baixar a Selic em 0,5 ponto percentual já em janeiro. Até lá, dados como a produção industrial de novembro já terão sido divulgados, provavelmente mostrando um quadro bastante desolador da atividade econômica, diz Salomon. Com uma demanda fraca, fica menor o espaço para as empresas repassarem os aumentos de custos provocados pela alta do dólar. Para completar, a queda dos preços das commodities também deverá aliviar o quadro inflacionário, observa ele.
O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, também não vê motivos para criticar a decisão do BC. Para ele, a instituição deve esperar alguns meses antes de cortar a Selic, para poder analisar melhor qual força vai prevalecer sobre os preços - se o enfraquecimento da demanda ou o impacto da desvalorização do câmbio. No primeiro trimestre de 2009, o efeito baixista produzido pela queda das commodities deverá perder força, e será possível ver mais claramente como ficará o balanço entre a atividade em desaceleração e o dólar em alta, avalia Romão. Para ele, é possível que o BC corte os juros no começo do segundo trimestre.
O ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, considera que o BC deveria até mesmo aumentar os juros, por conta do efeito do câmbio desvalorizado sobre a inflação. Para ele, no começo do ano deverá haver repasses da alta do dólar para os preços, mesmo num ambiente de demanda mais fraca. Schwartsman avalia que elevar os juros, ou pelo menos mantê-los por um bom tempo, é importante para que as expectativas de inflação não saiam do controle - um dos pilares do regime de metas inflacionárias.
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Há 4 dias
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