sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Que seja eterno enquanto dure

Luiz Carlos Mendonça de Barros

O CRESCIMENTO da economia brasileira nos primeiros nove meses de 2008 foi realmente extraordinário. Não só pelo número quase chinês do aumento do PIB -6,8% ao ano- mas, também, por sua qualidade. O investimento privado expandiu-se em quase 20% em um ano, mostrando de forma clara o tipo de resposta que o empresário pode dar a um ciclo consistente de crescimento econômico.
Não fosse a chegada brusca da crise internacional em outubro e novembro, os números fechados para o ano poderiam fazer parte de um quadro a ser exibido com orgulho. Nome sugerido para essa pintura poderia ser algo na linha de "Como a tartaruga virou uma lebre".
Essa mudança radical em relação ao passado recente pode ser explicada por dois grupos de fatores. O primeiro, de natureza estrutural, foi construído ao longo da segunda metade dos anos 90 com reformas e mudanças de valores da sociedade, como a repulsa à inflação institucionalizada e o descontrole fiscal. Mas, para explicar o sucesso brasileiro dos últimos anos, temos que reconhecer os efeitos do ciclo de crescimento que ocorreu no mundo a partir de 2003. Se o primeiro grupo de fatores criou as condições necessárias para a aceleração de nosso crescimento, o ciclo de expansão fora de nossas fronteiras representou a condição suficiente para chegarmos ao PIB dos primeiros nove meses de 2008.
Ora, se isso é verdade, a mudança radical no ciclo econômico mundial que estamos vivendo -e vamos viver por mais dois anos- tem que ser incorporada em nossas expectativas. Vale aqui uma observação que ouvi de um atento analista de mercado: "Vento que empurra o barco para um lado, quando muda de direção, empurra também para o outro".
Palavras sábias, apesar de sua aparente falta de profundidade. Traduzindo essa imagem para o caso de nossa economia: as cotações das principais commodities exportadas pelo Brasil voltaram hoje aos preços de 2003.
Outro vento forte que estufou as velas do barco Brasil durante os últimos anos -a entrada de bilhões de dólares em investimentos e créditos ao setor privado- também mudou em 180 nos últimos meses. Hoje, temos saídas expressivas desses recursos, e a rolagem da dívida externa privada pode ser muito baixa nos próximos meses. Além da pressão sobre o real, esse movimento implica uma redução expressiva da disponibilidade de crédito para as empresas brasileiras. Mesmo os grandes nomes, como a Petrobras, estão sendo obrigados a recorrer a empréstimos em reais no sistema bancário, pressionando as taxas para cima e expulsando os tomadores de maior risco. A taxa de juros, para as empresas médias e pequenas, é hoje superior a 5% ao mês. E não culpem a taxa Selic por isso.
Diante desses obstáculos externos e sobre os quais o governo Lula não tem nenhuma influência, não existe outra saída senão moderar de forma importante a taxa de crescimento da economia. Boa parte desse recuo já está sendo provocada pelos agentes econômicos privados, que reagem de forma racional às mudanças na direção do vento externo. Empresas e consumidores já entenderam os novos tempos e tomam as decisões rapidamente. Falta agora o governo aceitar os tempos menos favoráveis e agir de forma consistente e responsável para tornar menos dolorida a mudança na velocidade de crescimento. Se não fizer isso, ou se errar a mão, o ano de 2009 poderá ser bem mais difícil e incerto do que o necessário.

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