sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

À espera da Opep, Petrobras se salva

Daniele Camba

Fazia tempo que não se via uma semana tão benigna para as ações da Petrobras. Muito pelo contrário. Com o processo de queda livre do preço do petróleo, que chegou a ser negociado acima dos US$ 140 o barril não faz muito tempo, os papéis da companhia vêm sofrendo muito. Esse movimento mudou de rota e ontem as preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal, que chegaram a subir mais de 7% durante o pregão, fecharam em alta de 1,77% e as ordinárias (ON, com direito a voto), 1,01%. Só nos dois últimos dias, as PN se valorizaram 11,04% e as ON, 11,28%. Como a Petrobras ainda é a companhia mais importante dentro do Índice Bovespa, ontem o indicador passou o dia no campo positivo e só caiu nos últimos minutos de pregão, logo após o anúncio do pacote de medidas do governo para incentivar a economia. O Ibovespa fechou em queda de 1,24%, aos 38.519 pontos.

Exatamente ontem, a Agência Internacional de Energia disse que o consumo diário de petróleo este ano ante 2007 deve cair 200 mil barris ou cerca de 0,2%. É uma queda imperceptível, mas que se torna preocupante já que é a primeira redução nos últimos 25 anos. Contraditório as ações da Petrobras subirem logo ontem, não? Seria se houvesse apenas essa notícia, o que não ocorreu.

Ontem, o petróleo subiu de forma acentuada e foi isso que falou mais alto no comportamento dos papéis da Petrobras. O contrato futuro mais líquido da commodity do tipo WTI, negociado em Nova York, subiu 10,47%, aos US$ 50,84 o barril. É a maior alta percentual desde 21 de outubro de 1999, quando o petróleo subiu 11,93%. Além disso, é a maior cotação desde 28 de novembro, quando fechou negociado a US$ 55,82. A commodity voltou a subir com a expectativa crescente de que na próxima reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), no dia 17 deste mês, o bloco faça um corte significativo na produção. Com uma oferta bem menor, é provável que haja um aumento de preços mesmo com a intensa desaceleração da economia mundial.

Na última reunião apenas dos produtores árabes, em novembro, já se esperavam cortes na produção, que acabaram não ocorrendo. "Essa decisão só acentuou as quedas do preço do petróleo", diz o chefe de análise da Link Investimentos, Andrés Kikuchi. Ele acredita que a Opep também fará reuniões extraordinárias antes mesmo do primeiro encontro marcado para o ano que vem, em 15 de março, para executar outros cortes na produção. "Os países produtores não têm interesse em deixar o petróleo cair abaixo da casa dos US$ 40 e vão começar a agir para que isso não aconteça", diz. Ele acredita que a commodity pode voltar para níveis de US$ 60 nos próximos 12 meses.

A questão é saber se a reversão da atual tendência de queda do petróleo é suficiente para carregar junto as ações da Petrobras. Qualquer resposta depende de outros fatores, entre eles, como ficará o plano de investimentos da companhia para os próximos anos, cuja decisão está marcada para o dia 19 deste mês. Se o petróleo permanecer em níveis mais baixos, a Petrobras terá um fluxo de caixa menor para bancar os seus investimentos, o que em última instância pode significar a necessidade de novas captações de recursos e até de um aumento de capital. "Essa é a hora de a empresa avaliar quais investimentos são interessantes para serem feitos nesse momento adverso", diz Kikuchi. Com todas essas incertezas, ele não recomenda as ações da Petrobras neste momento.

Varejo em destaque

Faltando menos de uma hora para o fim do pregão, o quadro da bolsa mudou bastante graças ao anúncio de medidas do governo para estimular a economia. Entre as iniciativas estão: criação de duas alíquotas de Imposto de Renda para pessoa física, redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis, queda do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em operações de crédito para pessoa física, além da autorização para o Banco Central emprestar parte de suas reservas a bancos que direcionem o dinheiro para empresas com dívida externa. Com a expectativa de que o pacotão surta efeito, as ações ligadas ao mercado interno, como varejo e setor imobiliário, foram as maiores altas do Ibovespa, roubando o lugar que até então era da Petrobras.

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