sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pagamos demais

Delfim Netto

Não é de hoje que insisto em demonstrar que a economia brasileira, para funcionar normalmente, não precisa da overdose de juros a que está submetida. Há mais de uma década praticamos as maiores taxas de juros do planeta, desde que passamos a financiar a dívida pública com papéis de curtíssimo prazo e sujeitos à correção monetária. Em lugar de defender a utilização de uma política fiscal austera, aceitamos conviver com uma política monetária que resultou em altos custos para a sociedade produtiva e em gordos lucros para a comunidade financeira internacional. Em todo o período em que fomos campeões de taxas de juros, o Brasil tornou-se o único peru com farofa a freqüentar a mesa dos especuladores mundiais fora do Dia de Ação de Graças.

Durante esses anos, nem o Banco Central teve a coragem de fazer o que devia nem os governos adotaram as políticas fiscais que nos libertariam da armadilha. Não está em questão nem a autonomia nem o sistema de metas de inflação. A autonomia dos bancos centrais é útil e necessária, pois foi a forma encontrada de restringir os exageros dos poderes incumbentes quando não resistem à tentação de usar a moeda para fazer demagogia em períodos eleitorais.

É o mecanismo de financiamento da dívida pública que tem que ser corrigido. E isso começa pelo corte das taxas de juro. Em 2008, além de sustentarmos o nível mais alto dos juros na escala mundial, ainda aceitamos que se fizesse o maior aumento de taxas de juro do planeta durante o processo de crescimento da crise financeira. E o nosso Banco Central se "orgulha" de ter sido um dos raros a subir as taxas nesses últimos oito meses, quando o resto do mundo as reduzia!

A reunião do Copom desta quarta-feira manteve a Selic em 13,75%, o que significa uma taxa real de juros de 8% ao ano. Não é a Selic que comanda a economia e sim a taxa de juros estabelecida pelo mercado (a swap 360) que está abaixo da taxa básica. Uma pequena redução da Selic não agrediria a boa técnica e daria um sinal capaz de influenciar psicologicamente os consumidores, cuja atitude será fundamental para a superação das dificuldades nos próximos meses.

Do alto de sua "sabedoria", porém, o nosso Banco Central dirá que não é de sua alçada demonstrar sensibilidade diante de problemas "secundários" tais como a conservação dos empregos no melhor nível possível durante o período de dificuldades. Soberanamente, contudo, concede em transmitir aos mortais comuns que a decisão contém implícita um viés "informal" de baixa, quem sabe na próxima reunião, em janeiro.

Na medida em que finalmente retomarmos o processo de redução dos juros, vamos tornar disponíveis para investir no crescimento da economia os recursos que hoje servem à dívida: estamos gastando de 7% a 8% do PIB com juros, para rolar uma dívida em torno de 40% do Produto, enquanto países cuja dívida pública chega a 140% do PIB, não gastam mais de 4% para servi-la! Estou convencido que temos margem para baixar em 2% ou 3% do PIB os gastos com o serviço da dívida pública. E mais convencido ainda que não existem argumentos sólidos para retardar o início desse processo.

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