sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Crise pode fazer empresa brasileira avançar no exterior

Cibelle Bouças, de São Paulo

As empresas brasileiras devem alcançar, no médio e longo prazos, maior representatividade no mercado internacional do que possuíam antes de se agravar a crise financeira externa. A conclusão faz parte do estudo Multipolar World II, realizado pela Accenture com base em entrevistas a representantes de 70 multinacionais, sendo 40 grupos de países emergentes, e traz uma análise sobre o avanço de empresas brasileiras no exterior.

O presidente da Accenture, Roger Ingold, estima que, após a crise externa, as companhias brasileiras terão melhores condições de fazer aquisições do que concorrentes estrangeiras. E os setores que provavelmente estarão mais bem preparados para ganhar espaço no mercado global são os de siderurgia, mineração, alimentos e serviços de infra-estrutura. "O Brasil está em situação mais sólida que no passado e que outras economias neste momento. Se as empresas conseguirem ganhar eficiência mantendo o nível de empregos, elas sairão da crise em condição privilegiada", afirma. Para que isso ocorra, será necessário que o governo acelere os investimentos públicos em infra-estrutura e invista em educação e o setor privado controle custos, preserve o giro de caixa e o nível de emprego no curto prazo. No longo prazo, a exigência é investir em pesquisa e desenvolvimento.

O otimismo não é infundado. Um dos fatores citados pela consultoria é macroeconômico. "Mesmo as revisões recentes do PIB apontam que o Brasil terá um desempenho melhor que os países desenvolvidos, o que indica que o efeito da crise será menor", aponta Marcelo Gil de Souza, líder global para área de consultoria em direcionamento corporativo da Accenture. Ele também observa que o mercado financeiro brasileiro mostra-se mais saudável que o internacional - no início do ano os três maiores bancos americanos valiam 18 vezes mais que os três maiores brasileiros e hoje essa diferenças é de 4,5 vezes.

Gil observa ainda que as multinacionais brasileiras que atuam com commodities têm rentabilidade maior que as concorrentes. As siderúrgicas, por exemplo, têm margem média de 35%, enquanto a média global é de 15%. "Se o preço da commodity cai, o efeito sobre a rentabilidade é menor nas empresas brasileiras", compara.

Além disso, diz, o valor relativo das empresas brasileiras pode se tornar maior no médio prazo, o que possibilitará a aceleração dos processos de fusões e aquisições. Segundo Gil, as ações de empresas negociadas nas bolsas da Ásia tiveram uma queda próximo a 70% por conta da crise. O câmbio no Brasil subiu 30% e as ações caíram na Bovespa, mas o saldo ainda é positivo no Brasil. "As empresas no mundo perderam valor, mas as brasileiras se desvalorizaram menos, o que significa que, tendo condições de financiamento, elas terão oportunidades de fazer aquisições e ganhar mais peso no mercado internacional", afirma.

O ex-diretor do Banco Central e sócio da Ciano Investimentos, Ilan Goldfajn, acredita que a economia brasileira sofrerá impacto significativo da crise, mas concorda que se as empresas se mantiverem estáveis, poderão sair da crise mais valorizadas. Ele observa que, no período da crise russa e dos Tigres Asiáticos, no fim dos anos 90, as empresas brasileiras estavam mais endividadas em dólar e o governo estava mais vulnerável nas contas externas. "Hoje o passivo líquido está em real, isso deixa o país mais forte", compara.

Na década passada, acrescenta, a relação dívida/PIB era ascendente e fortemente afetada pelas oscilações cambiais. Hoje a alta do dólar reduz a dívida como proporção do PIB, já que o Brasil é credor líquido em moeda estrangeira. "Nesses dois meses de crise mais forte, essa relação caiu 4% (em setembro estava em 38,3%)", salienta.

O sócio do grupo Advento e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Juan Quirós, faz parte da ala otimista. O grupo negocia a aquisição de uma empresa do setor petroleiro que fatura por ano US$ 220 milhões. Quirós conta que fez uma oferta à empresa o ano passado, quando o petróleo estava a US$ 140 o barril e foi rechaçado. "Falei para o empresário, quando o petróleo for para US$ 85, você vai me procurar", diz. Segundo ele, os empresários o procuraram quando chegou a US$ 90, mas agora o valor da empresa é mais baixo. "Na crise há os que choram e o que vendem lenço. É preciso aproveitar o momento para investir em ativos produtivos, sobretudo pequenas e médias empresas", afirma Quirós.

Gil, da Accenture, confirma que, enquanto em 1999 as empresas que procuravam a consultoria buscavam eminentemente soluções para sobreviver à crise, hoje uma boa parcela das empresas está focada no reposicionamento de mercado e em fusões e aquisições. Outros dois fatores diferenciam a situação das multinacionais de países emergentes: a especialização nos mercados de commodities e energia, que seguirão demandantes nas próximas décadas, e a decisão desses grupos de investirem sobretudo em países emergentes. Conforme o estudo, 96% dos investimentos feitos por múltis brasileiras e indianas têm como destino economias emergentes. No caso da China, esse índice vai para 98%, e no caso da Rússia, 99%.

Em 2020, de acordo com o estudo, as economias dos países emergentes superarão o Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos. Em 2007, o PIB dos países ricos somava US$ 52 trilhões, contra US$ 48 trilhões dos emergentes. Em 2020, essa relação muda para US$ 43 trilhões e US$ 57 trilhões, respectivamente. A explicação está na expansão do consumo nos países emergentes. Os mercados de Brasil, China, Índia, Rússia, México e Coréia do Sul, que hoje correspondem a menos da metade dos mercados consumidores do G-6 (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão), devem superá-los em mais de 30% até 2025, segundo a Accenture.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dica de leitura...Textos ácidos e sarcásticos, pra quem quer ficar por dentro dos assuntos políticos e dos últimos acontecimentos de forma leve.


www.mosaicodelama.blogspot.com

Boa leitura!


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