segunda-feira, 30 de junho de 2008

Bovespa tem saída recorde de recursos estrangeiros

Investidores deixaram a Bolsa mesmo com o grau de investimento dado ao país
Saída líquida de estrangeiros somou R$ 7,4 bilhões, recorde para um mês; no ano, saldo negativo bateu em R$ 6,64 bilhões

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A recente promoção do Brasil a grau de investimento não foi suficiente para evitar a debandada de capital externo do mercado acionário local. Com o cenário internacional pouco favorável, o que se tem visto neste mês é a saída recorde de investimento estrangeiro da Bovespa -fator fundamental para explicar a queda expressiva sentida pelas ações brasileiras nas últimas semanas.
No dia 24, o saldo mensal das operações dos estrangeiros apontava saída líquida de R$ 7,4 bilhões -cifra recorde para um mês. Isso significa que nunca antes a diferença entre o volume de ações compradas e vendidas pelos estrangeiros foi tão grande. No balanço anual, que está com saldo negativo de R$ 6,64 bilhões, a situação é a mesma, sendo este, até o momento, o pior ano do real.
Esse movimento ajuda a explicar por que a Bolsa de Valores de São Paulo está com queda acumulada de 11,39% em junho, até a última sexta-feira, muito próxima de ter o seu pior mês desde setembro de 2002, quando caiu 16,95%.
Porém, naquele período, as incertezas em relação ao futuro do país, desencadeadas pelo processo eleitoral que elegeu o presidente Lula, deixaram os investidores mais avessos quando o assunto era aplicar em ativos brasileiros.
Agora, o cenário é bem distinto, com o Brasil promovido a grau de investimento por duas das maiores agências de classificação de risco do mundo. Em outras palavras, o Brasil nunca foi, aos olhos desses avaliadores internacionais, tão seguro para se investir.
Como o capital externo é responsável por cerca de 35% de toda a movimentação da Bovespa, o fato de essa categoria de investidor estar vendendo ações de forma expressiva não tem como passar despercebido.
"Há um cenário global complicado desde meados do ano passado, quando começou a crise do "subprime", que depois se espalhou. Nunca confiei na hipótese de o Brasil ter conseguido se descolar do cenário externo. E o que vemos agora é que a contaminação era questão de tempo", afirma o economista Luis Fernando Lopes, do Pátria Investimentos.
"Com o aumento da aversão, os estrangeiros buscam zerar suas posições aqui para mandar dinheiro para fora. O mês de junho tem sido particularmente ruim. Não é um padrão, mas o ambiente é difícil, com muito mais risco", diz o economista.
Lá fora, as economias têm sido assombradas por dois fatores: o risco de inflação e as expectativas de crescimento moderado. Desde que a crise do "subprime" (crédito habitacional americano de alto risco) passou a abalar os resultados e as perspectivas dos grandes bancos, no ano passado, o clima no mercado internacional vem piorando a cada mês.
A Bovespa vinha demonstrando força para ser menos contaminada pela crise internacional. A perspectiva de que o país poderia receber o grau de investimento -concedido primeiramente pela Standard & Poor's em 30 de abril- vinha favorecendo a Bolsa paulista. Tanto que, em 20 de maio, ela atingiu a maior pontuação de sua história, ao encerrar a 73.516 pontos. Mas, com a persistência na piora do cenário internacional, perdeu o fôlego.
"O cenário internacional só tem piorado e o "investment grade" não foi suficiente para manter a Bovespa em alta enquanto o mundo declinava. Um ajuste no mercado local era inevitável. Como as perdas ainda são grandes lá fora, vemos investidores se desfazendo de papéis aqui para fazer caixa e cobrir buracos", afirma José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

Futuro incerto
Se os Estados Unidos voltarem a subir sua taxa básica de juros, que está em 2% ao ano, a saída de capital do mercado acionário doméstico pode se aprofundar. Isso porque, se os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, considerados os mais seguros do mundo, passarem a render juros maiores, cresce a possibilidade de grandes investidores migrarem de aplicações mais arriscadas (como é o caso das ações) para eles. A concretização de um cenário desse poderia ser ainda mais punitivo à Bolsa local.
Para os estrangeiros, a Bovespa ainda tem gordura para queimar. É que em dólares a Bolsa ainda registra ganhos de 10,93% acumulados em 2008.

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