terça-feira, 1 de julho de 2008

O fantasma de 1998-2002

Delfim Netto


Diante das enormes incertezas que assombram a economia mundial e das não menores que dominam a nacional, talvez seja interessante explorar como, em apenas cinco anos, a situação brasileira passou da prática insolvência à bonança atual, revelada na tabela Avanços Visíveis.

Em virtude da dramática (mas esperada e advertida) “virada” da situação externa em 2008, quando já se espera um déficit em conta corrente digno da octaetéride fernandista e de previsões mais sombrias para 2009, é legítima a preocupação com a possibilidade de voltarmos a ter problemas com o financiamento externo, se, ou quando, as forças que determinaram a melhora espetacular cessarem de exercer ou reduzirem a sua pressão. Quais são essas forças?

O gráfico Brasil – Exportações dá uma indicação dos fatores que impulsionaram o valor das vendas externas nos dois períodos. Ambos revelam a mediocridade da expansão do quantum exportado, resultado produzido por uma igual e duvidosa política monetária, que, com exceção de um breve interregno de 1998-2002, tem utilizado a valorização da taxa de câmbio como o principal instrumento de controle da inflação. E o tem feito sempre à custa da maior taxa real de juro do mundo, acumulando lentamente condições catastróficas para o equilíbrio fiscal, se a taxa de crescimento do PIB voltar ao nível lamentável de 1998-2002.

Vemos que o quantum exportado em 2003-2007 cresceu apenas 1,5% ao ano com relação a 1995-2002 e que os preços aumentaram 15%. O resultado final é que o aumento da taxa anual de crescimento do valor das exportações pode ser grosseiramente assim distribuído: 90% de efeito preço e 10% de efeito quantidade. Por outro lado, a taxa média de aumento das importações entre os mesmos períodos foi de 26,5%, que pode ser assim distribuída: aumento do quantum de 14% e efeito preço de 11%. Na importação, o efeito quantidade produzido pelo maior crescimento (e pela supervalorização cambial) domina o efeito preço.

O movimento dos preços internacionais que produziu o bom resultado exportador está completamente fora do nosso alcance. O mais provável é que, no futuro, haja um movimento de moderação dos preços e que seu ritmo de crescimento (não o seu nível) se estabilize. Isso significa que o efeito preço no aumento das nossas exportações será menor. Com relação ao quantum das exportações, ele dependerá não apenas do aumento da nossa produtividade, da expansão mundial e, fundamentalmente, da relação salário/câmbio, a qual temos tratado muito mal.

As importações, nunca é demais insistir, são um fator de produção, exatamente como o trabalho e o capital, e a aceleração do nosso crescimento deve continuar a estimulá-la, mesmo sem a política monetária suicida dos últimos 15 anos, que está arruinando, ao mesmo tempo, a nossa estrutura industrial (pela supervalorização cambial) e preparando um futuro desequilíbrio fiscal.

Sem uma política fiscal mais razoável, sem o sucesso da política industrial-exportadora e sem a aceleração da exploração das novas reservas de petróleo, é bom pôr as barbas de molho para 2008-2012.

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