segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

De olho no Mercado

Paulo Guimarães
Ibovespa

O índice permanece na zona de congestão entre os 43.753 pontos e os 29.435, fechando a semana passada em 36.595 pontos. O primeiro suporte está na faixa dos 34.000. Mais abaixo, há outro em 31.080 pontos. Se este não for perdido, e havendo uma nova formação de fundos ascendentes a partir dele, bem como de topos acima do fechamento da semana passada, poderemos então estar caminhando para uma saída desta zona de congestão, para cima. A próxima importante resistência está nos 41.000 pontos, após o que teríamos a decisiva 43.753. Em contra-partida, dependendo do que surgir no panorama econômico global, nada impede que a mínima de três anos, nos 29.435, volte a ser visada.

A queda no preço das commodities e a desvalorização do dólar são incompatíveis

Uma peça chave para se decifrar como o mundo se re-arrumará após este conturbado momento financeiro-econômico é, sem dúvida, o novo papel que a moeda americana assumirá. Atrelado ao seu valor está a sua referência para transações comerciais internacionais, a sua função de lastro das reservas em última instância do sistema financeiro mundial. Pouco mais de 60% do estoque de reservas do planeta estão em dólares americanos, enquanto a segunda moeda mais utilizada, o euro, representa apenas algo como 26%. China, Japão, Europa, Oriente Médio, Índia, Brasil e por aí afora, têm financiado a prosperidade do povo norte-americano, principalmente nos últimos 25 anos, através da ininterrupta aquisição de dólares e de bônus do Tesouro dos Estados Unidos. Existe um raro consenso entre economistas de diferentes estirpes, ao apontarem o padrão dólar, surgido após a Segunda Guerra Mundial, e a subseqüente conferência regulatória de Bretton Woods, como o mais importante pilar de sustentação do poderio dos EUA. Segundo a maioria dos estudiosos, o dólar tem sido mais relevante do que a força militar mais desproporcional em relação ao resto do mundo, que já existiu na história humana, e superaria também Hollywood, Harley-Davidson, Coca Cola, McDonalds e as agências de notícias, entre outros propagadores da sua cultura, massificada pelo planeta, impregnada em nossos corações e mentes.

O vai e volta do dinheiro

A China acaba de assumir o status de maior credora dos EUA, alcançado em muito pouco tempo. Está bem próxima ao Japão, agora o segundo maior credor, ambos com algo próximo a US$ 580 bilhões em títulos do Tesouro da maior potência, em seus respectivos cofres. Os chineses conseguem esse dinheiro, que emprestam aos EUA, vendendo todo tipo de bugiganga que o americano consome. A China produz para os EUA gastarem. Essa tem sido a louca matemática que fecha as contas da economia global. O mesmo ocorre, por exemplo, com a Arábia Saudita, que vende seu petróleo aos EUA e usa boa parte do pagamento recebido para adquirir bônus do tio Sam, financiando assim gastos (como a gasolina) do povo americano. Segundo Paul Craig Roberts, ex-secretário assistente do Tesouro na administração Ronald Reagan, Washington parece acreditar que pode confiar indefinidamente em governos como o chinês, o japonês, ou o saudita, entre outros, para financiar uma América que vai vivendo (ou ia) acima dos seus meios. Convenhamos que as alavancagens das instituições financeiras e hipertrofia de ativos (como imóveis), ajudaram bastante a bancar a farra. Recentemente, partiu do mago dos mercados, Warren Buffet, o seguinte comentário: "Nos últimos anos, os Estados Unidos vêm consumindo consideravelmente mais do que produzem. Temos dependido do trabalho de outros, que nos provém coisas básicas, as quais utilizamos todos os dias. Porque esse país é tão rico, isto pode ser feito em larga escala, e por tanto tempo. Mas não para sempre".

Dependência de dólares no Brasil

O economista Paulo Passarinho, vice-presidente do Corecon-RJ, explica porque o modelo econômico construído em nosso país é dependente da moeda americana. De acordo com sua análise, desde o início dos anos 90, e especialmente a partir do Plano Real, a economia brasileira se desenvolve dentro de um novo padrão de funcionamento, baseado nos processos de liberalização financeira - com a abertura da conta de capitais - e maior abertura comercial. A paridade entre a nova moeda - o real - e o dólar, em combinação com a liberalização financeira, permitiu que houvesse na prática uma integração financeira entre o mercado doméstico e o mercado financeiro externo que, entre outras conseqüências, produziu o fim do ciclo inflacionário. Contudo, para que esse sistema possa funcionar é indispensável a garantia de disponibilidade permanente de dólares, em um volume suficiente para garantir as importações, que passam a ser crescentes, e para a remuneração dos capitais que somos obrigados a atrair. É dentro desse quadro que a manutenção de altas taxas de juros reais torna-se fundamental, para a garantia da funcionalidade do sistema. Juros altos atraem o capital externo e nos ajuda a formar reservas. Entretanto esse é um custo muito alto pago pelo "fim da inflação". É isso o que explica a explosão da dívida pública em títulos do governo. Em janeiro de 1995, quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência, a dívida mobiliária se encontrava em R$ 62 bilhões. Quando o próprio FHC deixa o governo, essa dívida já se encontra próxima dos R$ 700 bilhões, e hoje já ultrapassa a cifra de R$ 1,2 trilhão. Com déficits crescentes em conta corrente, fechamos a nossa conta com o exterior atraindo recursos externos especulativos, ou através dos investimentos externos diretos, que causam uma desnacionalização produtiva e elevam as remessas de lucros ao exterior.

Reféns da moeda

Até o meio desse ano, o valor do dólar caía no mundo, enquanto o barril de petróleo e o preço de todas as commodities, negociadas em dólar, batiam recordes de alta históricos. Vários exportadores, de diversos outros produtos que não commodities, em países distintos, que também tinham seus preços indexados ao dólar, para não ficarem defasados ou terem que ficar praticando reajustes (para cima) nas suas tabelas de venda, começaram a escolher outras moedas, como o Euro ou o Yen, para precificar seus produtos. O dólar veio assim, perdendo terreno num movimento consistente e integrado. Chegou a crise e com ela a constatação da fragilidade e comprometimento do sistema de precificação das commodities (e do comércio mundial), baseado na indexação ao dólar. Os preços das matérias primas não conseguiram se manter na espiral crescente, que acompanhava a descida ininterrupta da moeda americana em todo o planeta, e a engrenagem travou. Este fato reforça a opinião de que o mundo necessita uma desindexação do dólar. A outra conclusão é que a corrida para os títulos americanos na hora da incerteza sobre o tamanho da recessão global, e para o dólar, nos diversos segmentos do mercado de câmbio, tem um fundamento o qual não vem sendo muito debatido: a percepção de que num cenário de declínio das cotações das commodities, devido à indexação, se o dólar não segurar a peteca, tendo a sua desvalorização contida, a própria viabilidade de produção destas commodities pode ser comprometida, causando um temerário choque no lado da oferta global.

Para onde vai o US dollar?

O débito nacional dos EUA é hoje de US 10,6 trilhões. Com a gastança referenciada pelos presidentes em transição, em breve esse número deverá equivaler ao tamanho do PIB, que está em US$ 14,4 trilhões. O déficit orçamentário, em escalada, estabeleceu um novo recorde, indo de US$ 162 bilhões no ano fiscal de 2007, para US$ 455 bilhões em 2008. Em outubro, primeiro mês do ano fiscal 2009, o rombo nas contas públicas, que começa a repercutir o resgate de grandes instituições, bateu também o recorde mensal, alcançando US$ 237,18 bilhões, mais do que quatro vezes o déficit em outubro de 2007, de US$ 56,84 bilhões. Isso nos faz imaginar para onde irá o buraco no orçamento em 2009. Para agravar a situação, podemos juntar outros dois dados inquietantes: a inexistência de uma taxa de poupança individual e o maior déficit disparado em conta corrente do planeta, do qual o maior responsável é o comércio exterior. Os EUA vêm importando mensalmente, em média, há anos, mais de US$ 60 bilhões em produtos do que o total de suas exportações, o que se traduz num déficit comercial que ultrapassa 5,5% do PIB (quase US$ 800 bilhões anuais). Para financiar este déficit em conta corrente e seus vultosos investimentos no exterior, os Estados Unidos têm que importar capital externo, na ordem de US$ 1 trilhão ao ano ou US$ 4 bilhões por dia de trabalho. Os pacotes de salvação da economia, conforme anunciados, exigirão que o governo dos EUA pegue mais dinheiro emprestado com os sócios-amigos e/ou imprima mais dólares. Num painel como esse, de clara expansão monetária e tendência de desvalorização mais acentuada da moeda, as questões que se colocam é como impedir o simultâneo afundamento do valor das commodities e que novo papel atribuir à greenback.

Importações limitam crescimento

Ainda segundo Paulo Passarinho, a partir de 2002/2003, começamos a respirar um pouco mais aliviados em decorrência do boom nos preços das commodities (e da demanda internacional bastante aquecida), com muito peso em nossa pauta de exportações. Os saldos comerciais que passamos a acumular foram suficientes para termos saldos positivos em nossas transações correntes com o resto do mundo. Foi esta circunstância que permitiu que houvesse um pouco de folga para o próprio crescimento interno. Entretanto, a partir de 2006 começamos a observar a redução dos saldos em conta corrente, e neste ano de 2008 voltamos a ter déficit em conta corrente. Já em 2007, a redução do saldo das transações correntes era explicada pela acelerada expansão das despesas com importações (estimuladíssimas pela acentuada valorização do real frente ao dólar), em um ritmo muito superior à expansão das exportações (que continuavam a crescer), ao mesmo tempo em que as remessas de lucros e dividendos das empresas estrangeiras não paravam de se expandir, conseqüência direta da maior participação do capital estrangeiro na economia brasileira. Este cenário explica a razão - muito antes dos sintomas mais graves da crise internacional terem se manifestado - das preocupações dos economistas de orientação liberal, ou vinculados aos interesses do governo Lula, com o ritmo de crescimento da economia brasileira. Há clareza para esses setores que, neste modelo, um crescimento econômico de mais de 4,5% ao ano se torna inconveniente, pois as importações que tal ritmo impõe acabariam por comprometer o saldo comercial, além de agravar o déficit estrutural da conta de serviços do país.

Movimentos inversos

O Reuters/Jefferies CRB Index é o índice mais utilizado para aferir-se o valor das commodities no mundo, composto atualmente por dezenove produtos, que vão de petróleo a suco de laranja. Já o Dollar Index mede o peso do dólar contra uma cesta de moedas, hoje formada por seis diferentes divisas. Se compararmos os dois gráficos, notamos claramente a relação inversa entre os valores das commodities e do dólar. Desde julho desse ano, a moeda americana se valorizou na mesma proporção da queda nos preços das commodities.
Para olhar durante a Semana


Segunda-feira

Brasil: Pesquisa Focus (Bacen)/semanal; Balança Comercial/nov (MIDIC); Indicadores de Inadimplência e Crédito/nov (ACSP); Vendas Domésticas de Automóveis/nov (FENABRAVE); IPC-S/nov (FGV); Carga de Energia Verificada/nov (ONS); Vcto Opções s/ Contratos IBrX-50 Fut (BM&F).

EUA: Gastos em Construção/out; ISM Indústria/nov; Discursos de Bem Bernanke em Austin e de Henry Paulson em Washington.

Canadá: PIB

Zona do Euro: PMI Manufaturados/nov.

Alemanha: Vendas no Varejo/out; PMI Manufaturados/nov.

Reino Unido: Crédito Líquido ao Consumidor/out; PMI Manufaturados/nov.

Terça-feira

Brasil: IPC/nov (Fipe); Pesquisa Industrial Mensal/out (IBGE).

EUA: Vendas de Veículos/nov; Discurso de Henry Paulson em Washington.

Zona do Euro: PPI (Índice de Preços ao Produtor)/out.

Reino Unido: Índice de Confiança do Consumidor/nov.

Quarta-feira

Brasil: Fluxo Cambial/semanal (Bacen).

EUA: Custo Unitário do Trabalho/3º tri 08 (prévia); Dados do Setor Hipotecário/semanal; Produtividade do Setor Não Agrícola/3º tri 08 (prévia); ISM Serviços/nov; Estoques de Petróleo e Derivados/semanal; Livro Bege.

Zona do Euro: PMI Serviços/nov; Vendas no Varejo/out.

Alemanha: PMI Serviços/set; Vendas no varejo.

Austrália: PIB

Quinta-feira

Brasil: Indicadores Industriais/out (CNI); Produção e Vendas de Veículos/nov (ANFAVEA).

EUA: Pedidos Iniciais de Auxílio Desemprego/semanal; Encomendas à Indústria/out; Vendas das Redes de Lojas/out; Discurso de Ben Bernanke em Conferência do FED.

Zona do Euro: PIB/3º tri 08; Anúncio da Taxa de Juros pelo BCE; Discurso de Trichet em Bruxelas.

França: Índice ILO de Desemprego.

Reino Unido: Anúncio da Taxa de Juros pelo BoE.

Sexta-feira

Brasil: Pesquisa Industrial Mensal Regional/out (IBGE); IPCA/nov (IBGE); INPC/nov (IBGE); Leading Indicator/out (OCDE).

EUA: Taxa de Desemprego/nov; Rendimento Médio por hora/nov; Média de horas trabalhadas na semana/nov; Variação da folha de pagamento/nov; Crédito ao Consumidor/out.

Canadá: Dados do Mercado do Trabalho e Taxa de Desemprego.

Alemanha: Encomendas à Indústria/out.

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