O ex-presidente do Banco Central (BC) e co-CEO da Rio Bravo, Gustavo Franco, defendeu que o governo precisa, neste momento, incentivar o investimento do setor privado por meio da redução de impostos que incidem sobre o faturamento e dos encargos sobre a folha de pagamento; e aprofundar as medidas para levem à normalização do crédito. A íntegra da entrevista está no site da gestora Rio Bravo.
Na entrevista, Franco afirmou que essas medidas são necessárias para que o "setor privado não reduza suas intenções quanto a gastos de capital e investimentos nos próximos tempos. Isso será uma fronteira importante de manutenção do emprego, o que não depende do gasto público e sim do gasto privado".
Para Franco, é importante incentivar o setor privado, que deve ser o "protagonista do próximo ciclo de crescimento da economia brasileira e não o setor público, por meio do PAC". Nesse sentido, recomendou ao governo pensar na redução de impostos como o PIS e o Cofins, que incidem sobre o faturamento; e na diminuição dos encargos sobre a folha de pagamentos para "ampliar o emprego e a carteira assinada".
Em relação ao crédito, Franco classificou como intensas as medidas tomadas pelo BC para lidar com a redução da oferta. O fenômeno do empoçamento da liquidez e do crédito reflete, segundo ele, um pouco do que se passa lá fora. O fato é que as liberações de compulsórios ainda não permitiram a volta à situação anterior. Além disso, aumentou muito o volume de recursos sobrando no overnight. "Parece-me que o próximo passo do BC para lidar com esse problema pode ser inclusive atuar no oversold, não remunerando os recursos que enxuga com a taxa Selic inteira ou mesmo passar a dar garantia para as transações interbancárias. Isso foi feito lá fora e também pode ser feito aqui", afirmou.
Segundo o ex-presidente do BC, o crescimento do crédito observado neste ano tem características saudáveis. O primeiro motivo é que o sistema financeiro está saneado, desde a segunda metade da década de 90, quando houve um forte ajuste patrimonial no sistema e a remodelação da estrutura regulatória. "Nós entramos praticamente no primeiro mundo em matéria de regulação bancária, sem abandonar nossa tradição de mão um pouco mais pesada na regulação."
Em segundo lugar, a regulação bancária brasileira não foi pró-cíclica. Os depósitos compulsórios, por exemplo, cresceram bastante depois de dezembro de 2006, passando de R$ 170 bilhões para R$ 270 bilhões, quando então começam as liberações. "Os compulsórios atuaram como um mitigante da expansão que é como esse tipo de regulamentação deve funcionar."
A expansão do credito foi muito forte na pessoa física, mais do que em qualquer outro grupo de tomadores e, dentro de pessoa física, o crédito consignado tem uma importância muito grande. No consignado, a taxa de inadimplência é muito pequena, praticamente residual pela própria natureza do crédito, e tampouco tem qualquer variação cíclica. "Portanto não é o tipo de crédito cujo crescimento possa ser problemático no momento de reversão do ciclo econômico", disse Franco.
E por último, o ex-presidente do BC lembrou que quando houve a janela das ofertas de ações (IPOs, na sigla em inglês) mais de uma dezena de bancos de médio porte abriu o capital e, cada um, captou cerca de R$ 1,5 bilhão de capital novo, o que possibilitou uma alavancagem segura, sobre uma base de capital sólida. Por isso, é compreensível que esses bancos tenham sido o foco principal do crescimento do crédito nos últimos tempos, afirmou.
"Portanto não acho que tenha havido excesso por aí", disse Franco. Para ele, o problema foi a maior aversão a risco, maior seletividade na compra do CDB, aumento do custo de captação dos bancos, concentração da liquidez nos grandes e com isso os menores encolhem as suas carteiras no middle market, que sofre mais a pessoa jurídica de pequeno porte e muito da originação em consignado e veículos acaba sendo feita exclusivamente para ser cedida.
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