quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A prova de que lá fora é quem dita o rumo

Daniele Camba

O comportamento do mercado ontem é a prova cabal de que o cenário internacional ainda é quem dita o rumo das bolsas no mundo inteiro. No Brasil, houve a divulgação de números bastante negativos sobre a economia local. O principal deles sobre a produção industrial, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que caiu 1,7% em outubro ante ao mês anterior, sendo que a previsão da maioria dos analistas era de que o número ficasse estável. Alguns bancos e corretoras mais otimistas acreditavam até num crescimento, tímido mas que ocorresse. A queda na atividade foi registrada em 15 dos 27 setores que fazem parte da pesquisa do IBGE. Ninguém tinha a ilusão de que a desaceleração das principais economias do mundo não chegaria no Brasil. A questão é que os primeiros reflexos chegaram mais cedo do que se imaginava. O mais interessante é que a bolsa brasileira praticamente ignorou as más notícias locais e o Índice Bovespa subiu 0,75%, fechando aos 35 mil pontos. Isso graças à bolsa americana, cujo Índice Dow Jones subiu 3,31%.

O comportamento dos mercados na segunda-feira também já era um sinal de que quem manda mesmo são os EUA, só que na ponta contrária de ontem. Mesmo sem nenhuma grande notícia negativa que justificasse, o Ibovespa começou a semana caindo 5%. Sem dúvida, o grande motivo foi a queda de 7,70% do Índice Dow Jones - a segunda maior desvalorização neste ano -, que por sua vez estava refletindo os preocupantes dados sobre a economia daquele país, que já se encontra em recessão, o que tecnicamente significa dois trimestres seguidos com retração do Produto Interno Bruto (PIB).

Os números negativos sobre a economia brasileira também têm uma dose de participação na recuperação da Bovespa no pregão de ontem. A interpretação de investidores e analistas é que o Banco Central não terá mais argumento suficiente para adiar mais uma vez o início do processo de afrouxamento da política monetária. A percepção de vários profissionais de mercado ontem era que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 9 e 10, o governo já deve cortar a taxa básica Selic, hoje em 13,75% ao ano, em pelo menos 0,25 ponto percentual. Apesar do motivo não ser nada positivo - a necessidade de estimular a economia para que ela não seja ainda mais contaminada pela paralisia que já afeta os principais países desenvolvidos -, tradicionalmente as ações sobem quando a taxa de juros cai.

A explicação é o reflexo positivo de tal movimento na economia real, portanto, no dia-a-dia das companhias. Com juros menores, as pessoas ficam mais pendentes a consumir, o que aumenta as vendas das empresas, seus lucros e, conseqüentemente, o valor de suas ações em bolsa. Existe também o próprio fluxo positivo de recursos para o pregão. Com retornos menores nas aplicações de renda fixa, os investidores migram para a bolsa em busca da possibilidade de ganhos maiores na renda variável. O palpite de alguns analistas é que o Banco Central tem uma responsabilidade dupla neste momento em que o mercado anda bastante debilitado. "Se o governo insistir no conservadorismo de não baixar os juros será o responsável pela piora da economia e da bolsa que se recuperou um pouco na expectativa de corte na Selic", diz o diretor de uma corretora.

Esperanças em Obama

Os analistas ainda mantêm a idéia de que a bolsa passará por uma recuperação entre os últimos pregões deste ano e os primeiros de 2009. O principal empurrão deve ser a esperança de que o novo presidente dos EUA, Barack Obama, que toma posse em 20 de janeiro, guarda na manga cartas decisivas para debelar a crise e a recessão, diz o estrategista de renda variável para pessoa física da Itaú Corretora, Flávio Conde. "Só um tipo de notícia importante como essa terá forças para fazer o Ibovespa romper o nível psicológico dos 40 mil pontos", diz Conde. No que depender das ações das grandes companhias brasileiras, essa valorização pode ficar comprometida. Um bom exemplo é a Petrobras. "Assim como a empresa tinha uma espada na cabeça para reajustar os combustíveis quando o petróleo estava em alta, agora também será pressionada a rebaixar os preços junto com a queda da commodity", completa.

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