Brasília, 1 de Dezembro de 2008
A retração da economia brasileira deve aparecer a partir último trimestre de 2008, quando os efeitos da política de aperto monetário, iniciado em abril pelo Banco Central, e o agravamento da crise financeira internacional se tornarem mais significativos no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Essa é a percepção do economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Leonardo Mello de Carvalho.
Segundo ele, no terceiro trimestre deste ano (de julho a setembro), o PIB deve crescer 5,2% sobre igual etapa de 2007. Já na comparação com o segundo trimestre de 2008, o avanço deve ser apenas de 3,2% - estima o economista do IPEA. Enquanto que para o quarto trimestre ele assegura que o crescimento ficará bem abaixo do terceiro, mas não arrisca previsão.
Os dados do IBGE relativos ao terceiro trimestre serão anunciados amanhã. Segundo o economista, esses números não devem trazer os reflexos da crise, já que são relativos ao período entre julho e setembro e não capturam a aceleração da crise a partir de meados de setembro. Além disso, o aumento da taxa Selic tem uma defasagem de tempo de seis a oito meses para impactar a economia. Dessa forma, a combinação desses dois fatores deve ser sentida na economia a partir do quarto trimestre de 2008 com maior intensidade.
O crescimento econômico de 5,2% no terceiro trimestre fica abaixo dos 6,1% registrados no segundo trimestre deste ano. Segunda avalia Carvalho, trata-se apenas "uma pequena desaceleração" do PIB que já era previsto pelo governo este ano. No entanto, Carvalho disse que a crise pegou o governo de surpresa os efeitos devem aparecer neste quarto trimestre.
"Nós aguardamos o momento de virada (do crescimento da economia brasileira) que ainda não aconteceu de forma clara. Os efeitos ainda não são perceptíveis na economia", analisou Carvalho, responsável pela pesquisa Indicador Ipea de produção industrial mensal. Para ele, a retração econômica será mais forte no quatro trimestre em relação ao terceiro. Porém, acredita ele, o resultado não deve comprometer o crescimento entre 5% e 5,3% previsto para 2008.
O economista considerou em suas projeções dois dos principais indicadores usados pelo IBGE para mensurar o PIB: os investimentos na economia que representam a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e o consumo das famílias.
A previsão é que a FBCF, a preços correntes, chegue a 19,1% do PIB, crescendo 16,3%, sobre o mesmo trimestre do ano passado, quando correspondia a 18,4% do produto. E, assim, mantenha a robustez apresentada no segundo trimestre, quando cresceu 16,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Na comparação com o segundo trimestre deste ano, Carvalho acredita que a FBCF deve crescer 0,5 ponto percentual.
O crescimento das despesas de consumo das famílias deve aumentar 6,5% sobre o terceiro trimestre de 2007, após crescer 6,7% no segundo trimestre, na mesma base de comparação. Sobre o segundo trimestre deste ano, o consumo brasileiro familiar deve subir 1,2%, mantendo-se no ritmo apresentado no segundo trimestre (+1%), sobre o anterior.
A produção industrial já refletiu em outubro os reflexos da crise, que se agravou em setembro. O Indicador IPEA de produção industrial mensal, divulgado sexta-feira prevê crescimento zero para a produção industrial em outubro, em relação à setembro. Se comparar com outubro de 2007, entretanto, o IPEA estima incremento de 3,3% do setor. Tal estudo antecipa os dados da Produção Física Industrial, do IBGE que também será anunciada amanhã.
O responsável pelo estudo do IPEA disse que os efeitos da crise mundial, por enquanto, são mais evidentes na produção de veículos, setor que sentiu fortemente a retração do crédito na praça. A produção de tal segmento deve cair 1,6% na comparação com setembro deste ano e 0,3% sobre outubro do ano passado. Carvalho explica que antes do agravamento da crise, que secou as fontes de financiamento no mercado, os estoques de veículos nos pátios da indústria brasileira já eram altos, o que demonstrava "acomodação da produção de veículos".
Já para a produção de papelão, termômetro que mensura o desempenho dos produtos embalados na indústria, espera-se um aumento de 0,9% sobre setembro e de 4,3% em relação a outubro do ano passado. No mesmo cenário positivo, o uso de energia nas indústrias do Brasil, que reflete a produção desse setor, deve crescer 0,4% sobre setembro e 3,1% sobre outubro de 2007.
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