quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Recuo na indústria eleva risco de recessão

Cibelle Bouças e Sérgio Lamucci, de São Paulo

A forte queda de 1,7% na produção industrial de outubro em relação a setembro e os resultados de exportação e importação, sobretudo no que se refere ao setor de bens de capital, levaram economistas a revisar uma vez mais as projeções para a economia brasileira. E fez crescer a preocupação com o risco de uma recessão técnica no Brasil, com quedas consecutivas do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre deste ano e no primeiro de 2009, em relação aos trimestres anteriores, feito o ajuste sazonal.

As previsões para o quarto trimestre variam desde um incremento de 0,6% (com viés de baixa) a uma queda de 0,5% em comparação com o terceiro trimestre. Se as estimativas de queda se confirmarem, será o primeiro recuo no PIB desde o terceiro trimestre de 2005, quando houve retração de 0,68%. As projeções para o primeiro trimestre de 2009 são de crescimento zero até queda de até 1%. Mesmo o crescimento zero já representa uma desaceleração significativa em relação ao terceiro trimestre, cujo PIB será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima semana e a média das projeções aponta para uma alta de 1,2% na comparação com o segundo trimestre.

O Morgan Stanley apresenta as estimativas mais pessimistas, que levam em consideração não apenas o cenário macroeconômico atual, mas o comportamento da economia brasileira em relação aos ciclos globais. O economista-chefe do banco, Marcelo Carvalho, observa que em anos anteriores a 2003, o PIB brasileiro cresceu entre zero e 3%, enquanto a economia global teve expansão de 2% a 4%. Nos últimos seis anos, enquanto a economia global cresceu de 4% a 6% ao ano, a brasileira variou entre 3% e 6%. Em época de recessão mundial, diz, o país também deve sofrer.

O Morgan Stanley prevê para o quarto trimestre crescimento zero ou queda de 0,5%. Para o primeiro trimestre de 2009, queda de até 1%, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior, feito o ajuste sazonal. "A desaceleração vai ser generalizada e mais evidente na área de investimentos [formação bruta de capital fixo], que neste ano devem crescer 15% e no próximo ano devem apresentar taxa zero ou negativa", afirma. Para o economista, nem as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal impedirão o processo. "O investimento do setor público representa em torno de 2% do PIB e ainda que cresça, não compensa a queda do investimento privado, muito mais representativo."

A LCA Consultores também prevê um forte risco de recessão na virada de 2008 para 2009. Para os três últimos meses de 2008, a consultoria estima queda de 0,5% feito o desconto sazonal, com retração de 2,5% na formação bruta de capital fixo. "O primeiro trimestre também deve vir negativo, já que praticamente todos os elementos do PIB apresentarão desaceleração no quarto trimestre sem perspectiva de melhora no curto prazo, com exceção dos gastos do governo", avalia Bráulio Borges, economista-chefe da LCA.

Além da queda nos investimentos em relação ao terceiro trimestre, Borges prevê retração na produção industrial de 1% no último trimestre deste ano, com uma redução do PIB industrial de 2%, número que ainda pode ser revisado para baixo. Entre os fatores que justificam a redução, ele cita o encarecimento do crédito, a dificuldade das indústrias para exportar, o desaquecimento da demanda interna e a redução dos índices de confiança de empresários e consumidores. Para a LCA, no atual ano o PIB ainda cresce 5,5%, mas no próximo a expansão deve ficar entre 2,5% e 3%.

O banco Santander revisou sua projeção para o quarto trimestre de uma retração de 0,1% sobre o terceiro trimestre para variação negativa de 0,5% - também com possibilidade de resultado negativo no primeiro trimestre de 2009. A projeção, afirma a economista Luiza Rodrigues, é explicada sobretudo pelo desempenho ruim da indústria, que deve registrar queda em seu PIB de 0,3% a 0,4%. O setor responde por 27% do PIB brasileiro do lado da oferta.

Outro que terá desempenho negativo é o setor agropecuário, para o qual ela prevê queda de 2% no quarto trimestre, devido à safra menor, ao alto endividamento dos produtores e às perdas causadas pela diferença entre os gastos de produção e os preços para a venda da safra. "O comércio também sofre desaceleração, principalmente o de veículos, e o setor de bancos, que representa 10% do PIB, também será prejudicado."

Para o primeiro trimestre de 2009, diz, alguns fatores também pesam contra a expansão do PIB. Entre eles está a inflação ainda elevada, o dólar alto, a venda de veículos em queda, a desaceleração do consumo, o crédito ainda caro, o aumento do nível de inadimplência. O Santander não tem projeção de crescimento sobre o quarto trimestre, mas prevê para o período crescimento de 2,1% sobre o primeiro trimestre de 2008. Para o ano, a projeção é de que o PIB cresça 2,5% ante 5,3% neste ano.

A Tendências Consultoria Integrada vai esperar sair o dado do IBGE do terceiro trimestre para revisar os dados, mas já vê possibilidade de saldos negativos na margem nos dois trimestres. Até agora, a consultoria estava trabalhando com alta de 0,6% na margem no quarto trimestre. O PIB do ano está projetado em 5,4%, e o de 2009, em 2,6%.

A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, também considera provável uma retração do PIB no quarto trimestre, na comparação com o terceiro. "A produção industrial de outubro foi muito ruim e as vendas de automóveis em novembro foram bem negativas", diz ela. Números da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que, no mês passado, o licenciamento de automóveis e comerciais leves caiu 16% em relação a outubro, na série livre de influências sazonais. "Houve um retorno aos patamares de fevereiro de 2007", diz Thaís, lembrando que a confiança dos empresários e dos consumidores também está em queda livre.

Para ela, a possibilidade de uma "recessão técnica" também não está descartada. Com um quarto trimestre ruim, as empresas tendem a começar o ano que vem com estoques elevados, o que é uma má notícia para a produção, nota ela, lembrando que os inventários já estão em níveis altos.

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