quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Indústria sente crise e faz juro desabar

Luiz Sérgio Guimarães

Os indicadores efetivos sobre a economia brasileira desqualificam os cenários traçados pelo Banco Central em seus documentos oficiais para justificar a intenção de reapertar ainda mais a política monetária. Um a um, os pressupostos elencados pelo BC para escorar sua ameaça de alta da taxa Selic estão ruindo. Divulgado ontem, o IPC FIPE de novembro confirmou o viés indicado na semana passada pelo IGP-M: o repasse da disparada do dólar para os preços é muito suave. Isso representou um tranco forte num dos pilares centrais da ultraortodoxia cimentados na última ata do Copom. A pesada queda registrada pela produção industrial - pior que a mais pessimista das expectativas - abala o outro pilar do conservadorismo monetário: o de que a crise financeira externa não iria derrubar a demanda a ponto de dispensar o rigor monetarista. A realidade soterrou a ciência econômica do BC e os juros despencaram ontem no mercado futuro da BM&F.

O contrato mais negociado, para janeiro de 2010, tombou de 14,12% para 13,93%. O CDI estimado para janeiro de 2011 recuou de 14,70% para 14,28%. E a taxa para janeiro de 2012 refluiu de 14,83% para 14,33%. Mas essas quedas não sinalizam a possibilidade de o Copom já reduzir a Selic na sua reunião agendada para a semana que vem. Elas apenas embutem o fim da expectativa de alta do juro básico criada pela rigidez da ata da reunião de outubro e pelas declarações oficiais de dirigentes do BC. Não há mais razão para o BC temer a inflação. O problema econômico principal do país hoje é igual ao do resto do mundo: como evitar a recessão ou como suavizar os seus efeitos. Todos os outros bancos centrais do mundo sabem a resposta na ponta da língua. O da Austrália baixou ontem o juro básico em 1 ponto. O do Brasil, o mais conservador entre todos, não fará uma baixa sem antes sinalizar. Isso pode acontecer no dia 10: mantém a taxa em 13,75% mas avisa que estudará o corte no primeiro encontro de 2009. Isso poderá apaziguar o pessoal da Fazenda.

Garantia atribuída ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, segundo a qual a economia brasileira não entrará em recessão técnica, alimentou o desabamento do juro futuro. O raciocínio desenvolvido por tesoureiros foi de que isso só não acontecerá se forem vencidas as resistências do Copom e a Selic assumir trajetória de baixa já na reunião do dia 10, nem que seja pela imposição de um viés informal. Após a divulgação da queda registrada pela produção industrial de outubro, consolidou-se entre os analistas a previsão de que o PIB registrará crescimento negativo no quarto trimestre de 2008. E, sem o uso de um desfibrilador monetário , a economia não irá ressuscitar já no primeiro trimestre de 2009. O choque capaz de reavivar a indústria seria um comunicado pós-Copom alertando para o corte iminente.

A extemporânea valorização registrada ontem pelo dólar não atenuou a queda sofrida pelos juros futuros. Isso porque a arrancada foi desprovida de fundamentação técnica ou macroeconômica. O dólar subiu 3,10%, cotado a R$ 2,3920 pela conjugação de dois fatores especulativos. O primeiro foi a relutância do BC em vender swaps cambiais. A autoridade parece ter-se convencido de que tais instrumentos de venda de dólar a futuro mais contribuem para expandir a liquidez, a volatilidade e a especulação do que para inibir a alta da moeda no segmento à vista. O BC não ofereceu swaps nem ontem, nem segunda-feira, interrompendo uma seqüência iniciada no dia 6 de outubro. Antes, só não vendia tais papéis em dias de notória iliquidez por causa de feriados locais ou internacionais, o que não aconteceu nem ontem, nem anteontem. Isso revoltou os bancos que ainda carregam swaps reversos e querem se livrar deles a preços convidativos. A puxada de ontem visaria a "chamar" o BC ao mercado. Mas ele não foi. Apenas anunciou a realização, hoje, de leilão de até US$ 2 bilhões relativos a créditos à exportação. Nesse leilão, contratos de financiamento à exportação são entregues como garantia.

A outra razão de alta do dólar foi relacionada por operadores a comunicado expedido ontem pela Aracruz segundo o qual a empresa estima fechar até o dia 11 acordo com bancos credores no âmbito da renegociação dos passivos de posições com derivativos. A informação foi usada por corrente interessada na alta para puxar as cotações sob o argumento de que contrariava as análises segundo as quais a maior parte dos problemas empresariais resultante das desastrosas vendas futuras de dólar já estava equacionada. Mas alguns analistas ainda consideram que a ausência do BC do mercado de swap é indício de que o pior nessa área já passou.

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