Renato Bernhoeft
Um comportamento muito comum entre pais de classe média e famílias abonadas financeiramente é o de querer "poupar" os filhos das dificuldades, contratempos e mudanças de hábitos que uma crise pode exigir. Procuram "protegê-los" sob a crença de que "eles estão muito jovens para enfrentar as dificuldades da vida", ou ainda a "de que eles não precisam passar pelas dificuldades que eu passei."
Lamentavelmente a experiência já demonstrou que crianças ou jovens, poupados, e mesmo desinformados, desses confrontos com a realidade acabam sendo pessoas muito despreparadas para a vida. Não apenas na sua relação com o dinheiro, mas em muitos outros aspectos importantes da existência como um todo.
Vale sempre lembrar que o Ser não está desvinculado daquilo que desejo Ter, e menos ainda do que pretendo Parecer. Esse conjunto de prioridades, escolhas e valores terminam construindo um estilo de vida.
Nesse sentido, os momentos de crise podem servir de material educativo para as gerações mais jovens. Compete aos pais, primeiro, fazer este trabalho, que deverá ser complementado pela escola.
A euforia do mercado financeiro gerou novos - ou supostos - ricos, que não apenas ficaram deslumbrados com sua capacidade de consumo como também transmitiram aos filhos essa falta de compromisso e responsabilidade com o valor e importância de atingir metas e resultados com conquistas permanentes. O desfrute e a tranqüilidade do poder consumir não devem estar dissociados da capacidade de lutar pela conquista dessa possibilidade.
Entre as várias condutas possíveis para as quais os pais podem educar - e acima de tudo compartilhar - com os filhos, a maioria delas está vinculada a uma vida mais frugal. Ou seja, valorizando os pequenos prazeres, experiências e objetos da vida.
Um exemplo simples, que faz todo o sentido em uma economia instável como a que vivemos é recuperar o hábito da poupança: resgatar o velho cofrinho para guardar o dinheiro e voltar a usar o sistema da mesada. Além de criar o hábito de poupar cria-se também uma noção de valor relativo para as crianças que, na maioria das vezes, apenas recebem, ao invés de adquirir com seus próprios recursos. Desta forma aprendem a transacionar desde pequenos.
Segundo a americana Kristine E. Miele, uma planejadora de finanças pessoais, que ministra cursos e para crianças, sob o título "Lições para a vida", "o momento que vivemos justifica resgatar os velhos e sempre válidos conceitos da hierarquia das necessidades psicológicas básicas de Abraham Maslow, que priorizam comida, roupas, moradia e transportes." Ela conclui que "desta maneira fazemos com que os mais jovens possam perder, de forma gradual, o vício dos gastos desnecessários."
O movimento para um consumo mais consciente, educando os filhos para uma nova realidade econômica, já ocorre de maneira muito intensa nos EUA. Especialmente porque é lá que está o maior volume de pessoas endividadas ponto que declararem falência pessoal. Segundo o Institute for American Values, "a proposta é construir uma cultura receptiva à poupança, de modo que não seja visto como algo estranho, mas como uma atitude a ser estimulada."
Usar de forma mais racional o carro; fazer pequenos deslocamentos a pé; ampliar as opções de entretenimento no bairro e em casa; criar novos momentos de diálogo na família; pesquisar, de forma participativa com os familiares, alternativas de turismo de menor custo e conseguir isso por consenso; revisar e compartilhar gastos; discutir o orçamento doméstico; estimular a poupança; olhar o cardápio do restaurante da coluna da direita para a esquerda; conferir as despesas quando lhe são apresentadas; não ter vergonha de poupar; controlar o uso dos meios de comunicação mais caros; etc.
Não estamos falando aqui apenas da forma como usamos o dinheiro, mas do significado que ele possa representar, ou ter em nossas vidas.
É evidente que todas essas idéias simples parecem fazer mais sentido em função do momento que vivemos. Ou seja, realizar esforços no sentido de recuperar uma conduta de maior frugalidade na relação com o dinheiro e suas possibilidades. Mas, acima de tudo, utilize todas essas experiências para envolver e educar os filhos para a nova realidade que emergiu.
Esta crise não é a última e nem será permanente. Mas os filhos devem ser preparados para encará-las durante todas suas etapas de vida.
Renato Bernhoeft é presidente da Bernhoeft Consultoria, membro do FBCGi -The Family Business Consulting Group International na América Latina
E-mail: renato@bernhoeft.com
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*Additional Note: 11/13/24: We can't be solution-focused in our trading
if we're living our lives in problem-focused mode. A solution-focused life
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