sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Governos salvam os bancos, mas quem salva os países?

Joellen Perry e Liz Rappaport, The Wall Street Journal, de Frankfurt e Nova York

Diante da crença de que a economia da zona do euro, de US$ 12,2 trilhões, começa a entrar em recessão, muitos investidores apostam que os dispendiosos planos de socorro aos bancos podem levar alguns governos europeus a não pagar suas dívidas.

No mês passado, dobrou o custo do seguro que protege contra a inadimplência de países da zona do euro como Itália e Grécia. Para a Irlanda, que iniciou no mês passado um programa de garantia bancária no valor de US$ 400 bilhões, o dobro do seu PIB, o custo do seguro contra o calote da dívida aumentou oito vezes desde o início do ano.

As oscilações também podem sugerir que alguns participantes do mercado estão simplesmente tentando lucrar com o medo de que esses países possam incorrer em moratórias.

"Essa percepção de uma probabilidade tão alta de inadimplência para qualquer país industrializado é um fato extraordinário", diz Simon Johnson, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e ex-economista do Fundo Monetário Internacional. "Os mercados emergentes passam por isso o tempo todo. Mas essas são economias ricas e prósperas."

Há outro sinal da preocupação dos investidores com a inadimplência. A diferença entre o rendimento dos títulos governamentais da Alemanha e os emitidos por países com classificação de crédito marginalmente mais baixa, como Itália e Grécia, está aumentando e atingindo níveis recordes.

Ontem o "spread" entre o rendimento dos títulos do Tesouro italiano para dez anos e o dos títulos do tesouro alemão de igual prazo subiu para 1,25 ponto percentual, depois de romper a marca de 1 ponto percentual na terça-feira, pela primeira vez desde o lançamento do euro, em 1999. No início de 2007, essa diferença era de cerca de 0,2 ponto porcentual. Os títulos do governo grego estão com declínio semelhante.

A maior divergência ressalta o fato de que, embora os 15 países da zona do euro compartilhem a moeda e uma política monetária fixada pelo Banco Central Europeu, os investidores ainda avaliam o risco de crédito individualmente.

Agora que os 15 países que adotam o euro estão se encaminhando para uma recessão, teme-se que muitos governos, em especial os que já têm uma dívida muito alta, assumiram mais riscos do que conseguem agüentar. As finanças públicas normalmente pioram em recessões. Se os balanços bancários piorarem mais, em meio a um cenário de retração econômica, alguns governos podem ser obrigados a injetar mais dinheiro para socorrê-los. E, para preocupação dos investidores, esse resgate pode exercer uma pressão demasiada sobre os cofres estatais. Isso está fazendo alguns investidores fugir das dívidas governamentais, o que eleva o rendimento desses títulos. O rendimento já caminha no sentido oposto de suas cotações.

"O primeiro fator, e o mais importante no momento, é que existe pouquíssimo apetite pelo risco", diz Luca Cazzulani, estrategista do UniCredit SpA. Ele nota que mesmo os rendimentos dos títulos da França e da Áustria, países onde as finanças públicas estão em muito melhor situação, estão subindo um pouco em relação aos da Alemanha.

A cautela generalizada entre os investidores reduziu as negociações com títulos públicos. Isso, por sua vez, aumenta o desejo dos investidores por ativos que possam ser vendidos rapidamente em caso de necessidade, e eleva o rendimento dos títulos considerados mais arriscados. A Itália e a Grécia estão entre os países mais endividados da zona do euro: em 2007, a proporção entre dívida pública e PIB da Itália foi de 104%, enquanto que a da Grécia foi de 95%.

É fato que o risco de que esses países realmente declarem moratória continua pequeno. A agência de classificação de crédito Standard & Poor's atribui à dívida da Irlanda sua classificação mais alta, AAA, ao passo que a Grécia e a Itália recebem no momento a classificação A.

O mercado de swaps de crédito se tornou um termômetro para os investidores avaliarem a qualidade do crédito de um emissor de títulos de dívida. O custo do swap aumenta à medida que mais investidores se dispõem a pagar por um seguro contra inadimplência. O custo dos swaps da Itália, Grécia e Irlanda suger que esses países correm um risco de inadimplência na faixa de 9% a 10%, segundo dados da Markit, firma de informações sobre swaps de crédito. Essas porcentagens são muito inferiores às observadas em países como Argentina e Ucrânia, onde os preços do swap sugerem a percepção de uma possibilidade de moratória de mais de 80%.

Mesmo assim, quando há pânico nos mercados a percepção pode se tornar realidade. Por exemplo, o medo dos investidores quanto à saúde financeira do Bear Stearns precipitou uma fuga de capitais, que deixou esse banco de investimentos à mercê de um socorro do governo americano.

"Esses indicadores já demonstraram ser um sinal confiável de que há problemas à frente, e que não é prudente ignorá-los", diz Johnson. "Isso não significa que precisamos fazer tudo que eles dizem, nem nos deixar guiar cegamente pelo mercado, mas não devemos ignorar esses sinais perigosos."

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