quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Casas Bahia suspendem compras para não subir preços

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Apesar de a crise ainda não ter abalado as vendas nas Casas Bahia, a maior rede de eletrodomésticos do país, a empresa já está tomando algumas providências para não ser surpreendida mais na frente.
Uma das medidas tomadas foi suspender as compras dos fornecedores que estiverem reajustando os preços em razão da alta do dólar.
O objetivo de Michael Klein, diretor-executivo das Casas Bahia, ao tomar essa decisão, é não frear as vendas. Mesmo com toda essa crise, ele mantém a aposta de atingir a meta de R$ 14 bilhões de faturamento neste ano, R$ 1 bilhão acima do registrado em 2007.
"Estamos deixando de comprar dos fornecedores que estão subindo os preços", diz Michael Klein. "A minha preocupação é com o poder aquisitivo da população."
O empresário sabe que a elevação dos preços afeta diretamente o poder aquisitivo da população. É esse efeito que ele quer evitar ao rejeitar os aumentos de preços da indústria.
Nos últimos dias, Klein afirma que vários fornecedores começaram a subir os preços de seus produtos usando o argumento da alta do dólar. Os reajustes vão de 10% a 30%, dependendo do peso do componente importado.
As TVs de plasma e de LCD têm, por exemplo, cerca de 70% de importados. Já as geladeiras, mais ou menos 15%. As indústrias estão tentando repassar para o comércio os efeitos da alta do dólar sobre os seus custos.
Klein não diz, no entanto, quais são as empresas que estão tentando repassar esses aumentos. Apenas afirma que só está trabalhando com os fornecedores que estão mantendo os seus preços.
Sobre a crise financeira global, Klein afirma que o cliente das Casas Bahia ainda não sentiu seus efeitos. De acordo com ele, o consumidor de baixa renda não está preocupado se a ação da Vale caiu ou subiu 50% ou 60% no ano, se o preço do barril de petróleo despencou para US$ 60 ou se quebrou algum banco americano, mas sim com o seu emprego e com a manutenção do crédito.
Por isso, o empresário diz que as vendas das Casas Bahia não foram afetadas pela crise, pelo menos por enquanto. A empresa não só manteve os preços como também as mesmas condições de financiamento -taxa de juros e prazo de pagamento.
De qualquer forma, Klein afirma que vai esperar assentar a poeira da crise para fazer o planejamento da empresa para 2009. No ano passado, a empresa já estava com os planos prontos para 2008.
"O mercado ainda está se comportando de forma irracional. Não há condições de se planejar nada para 2009", diz Klein. "O melhor é esperar o mercado assentar para planejar qualquer coisa."
Segundo Michael Klein, o que ele observa, no entanto, é que as empresas que não se endividaram, não dependem de dinheiro de fora nem de capital de giro dos bancos estão trabalhando normalmente, como o caso das Casas Bahia. "A crise ainda não chegou aqui."

SUSPENSO

HOLCIM ADIA PROGRAMA DE TRAINEE EM RAZÃO DA CRISE ECONÔMICA
A Holcim, uma das líderes de fornecimento de cimento e concreto no Brasil, adiou seu programa de trainee previsto para 2009 em razão do impacto da crise para a construção civil. "As incertezas em relação aos rumos da economia poderiam prejudicar o cumprimento na íntegra das atividades", diz a empresa. A Holcim informa também que mantém banco de dados dos candidatos e definirá os próximos passos do trainee quando a situação econômica se normalizar.

CONSULTORIA DE CRÉDITO

Antonio Dabus, diretor da companhia de private equity Trinity Investimentos, viu na crise global uma oportunidade para impulsionar o serviço de consultoria de gestão de tesouraria da empresa. Antes da turbulência, a Trinity focava a consultoria nas companhias em que realizava operações de fusão e aquisição, mas agora oferece o atendimento como um serviço à parte, que avalia soluções para a obtenção de financiamentos, por exemplo. "Com o aperto do crédito, percebemos que as empresas precisavam de uma consultoria para a gestão de crise em finanças", disse Dabus. Em apenas 20 dias, a Trinity conseguiu três clientes -dos setores de varejo de veículos, indústria de base e exportação de calçados. Para Dabus, os empresários devem ser firmes na negociação com os bancos e focar os investimentos no longo prazo.

DE CARONA
A Citroën está repensando os planos depois de sentir a crise no Salão do Automóvel. O Grand C4 Picasso, importado da França, corre risco de ter o preço, hoje em R$ 89 mil, elevado, segundo Nívea Morato, diretora de marketing da Citroën Brasil. Já o novo C5, outro importado, que tinha previsão de lançamento no Brasil no primeiro semestre de 2009, pode sofrer atraso. "Há uma dúvida em relação a esse carro", diz. A expectativa de crescimento estacionou. "Se tivermos o mesmo crescimento deste ano está bom. Não tem mais projeção de crescer 25%."

JÓIA RARA
A indústria de jóias brasileira esperava alta expressiva nas vendas para o fim do ano quando a crise chegou. Hécliton Henriques, presidente do IBGM (instituto de gemas e metais preciosos), diz que "a expectativa era de um Natal promissor, porque as vendas vinham em alta". Mas o cenário mudou. "Pelo que sentimos, há uma redução de pedidos de até 30%." Henriques, que participou de uma feira com indústria e varejo de jóias nos EUA, há 15 dias, diz que não houve vendas para americanos.

ARIGATÔ
José Goldemberg, ex-reitor e professor da USP, ex-ministro do Meio Ambiente e conselheiro do Instituto Energias do Brasil, viaja ao Japão no próximo mês para receber o prêmio Blue Planet Prize 2008, o Nobel da preservação ambiental, que está na 17ª edição. O prêmio é dado pela organização japonesa Asahi Glass Foundation. Goldemberg receberá cerca de R$ 1,2 milhão.

À MESA
Os cereais matinais da Nestlé ultrapassaram os da Kelloggs pela primeira vez, em setembro, segundo a Nielsen. O "market share" da Nestlé foi de 32,1%, o da Kelloggs ficou em 31,2%.

TRANSPARENTE
O criminalista Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, do Moraes Pitombo Advogados, que diz que, com a crise, o mercado de investigação de fraudes será aquecido porque empresas ficarão mais atentas na atuação de seus operadores para verificar se sofrem gestões temerárias

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI

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