sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Para governo, fase aguda da crise financeira "começa a se dissipar"

Mônica Izaguirre, de Brasília

A fase aguda da crise financeira mundial "começa a se dissipar". As medidas adotadas pelo governo para dar liquidez às instituições financeiras "já permitem aos pequenos bancos respirar" e mostrarão efeitos mais acentuados a partir da próxima semana, propiciando ainda retomada do fluxo de crédito à agricultura e às exportações pelo conjunto do sistema bancário. Ainda assim, o governo acha que novas providências de combate à crise são necessárias e, por isso, planeja anunciar, nos próximos dias, mais medidas, principalmente para assegurar a comercialização da safra agrícola e o "desempoçamento da liquidez", concentrada nos grandes bancos.

Essa foi a mensagem que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, transmitiram, ontem, aos senadores, durante quase sete horas de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE). Além de ter tranquilizado diversos senadores (muitos elogiaram a atuação dos dois órgãos), o recado de otimismo deu sinais de ter surtido efeito também no mercado, avaliou o presidente da CAE e ex-líder do governo na Casa, senador Aloisio Mercadante (PT-SP). Pelo menos enquanto a TV Senado transmitiu a audiência, o índice Bovespa subiu mais de 7%. O ministro acredita que será ainda possível um crescimento econômico próximo de 4% em 2009.

Mantega já tinha falado bastante quando Meirelles chegou, com mais de uma hora e meia de atraso. O ministro reconheceu que a crise mundial é grave e que ainda vai mostrar seus efeitos negativos por um longo e indeterminado período, sobretudo na economia real. A fase que se inicia, porém, "será mais amena" do que a vivida a partir da quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos, em meados de setembro, acredita.

A crise de confiança e a trava que isso provocou no sistema financeiro mundial, reconheceu o ministro, com certeza vão afetar o crescimento econômico mundial, podendo provocar até recessão nos Estados Unidos e Europa. O Brasil, no entanto, terá no máximo uma desaceleração, assegurou, lembrando que as exportações brasileira dependem mais de países consumidores emergentes e, portanto, menos afetados pela crise.

Meirelles, por sua vez, lembrou que, só até dia 28, as liberações de depósitos compulsórios ao sistema financeiro somaram R$ 51 bilhões e as diferentes formas adotadas para prover liquidez em moeda estrangeira, outros US$ 32,8 bilhões (leilões de dólar, empréstimos, swap cambial, etc).

O presidente do BC avisou que a autoridade monetária vai ajustar as regras de liberação de compulsório para aquisição de carteira de bancos pequenos, por parte de bancos maiores, de forma a estimular mais essas operações. Logo em seguida, o BC editou uma circular reduzindo a remuneração dos compulsórios sobre depósitos a prazo. Independentemente disso, muitas aquisições já foram feitas. Mantega e Meirelles explicaram aos senadores que era natural alguma demora no efeito da liberação do compulsório já que as compras de carteiras exigem análise de risco. O ministro foi questionado se as aquisições da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil não seriam de ativos de baixa qualidade. Ele assegurou que não. "Não há compra de ativos podres." Os dois bancos, estatais, acrescentou também serão prudentes no uso da Medida Provisória 443, que lhes permite adquirir participações no capital de bancos privados e, no caso da Caixa, também de empresas de construção civil.

Criticada sobretudo pela oposição, a MP 443, disse o ministro, "não é uma sanha estatizante". É apenas mais um instrumento para que o sistema financeiro resolva seus problemas de liquidez por intermédio de operações de mercado, defendeu. Perguntado com quem ficariam as carteiras que outros bancos não queiram adquirir, o ministro disse que "o osso deve ficar com o FGC". Ele referia-se ao Fundo Garantidor de Créditos, formado com dinheiro do próprio sistema. Como é responsável por assegurar depósitos à vista, a prazo e em poupança, o fundo tem interesse em evitar a quebra de bancos. Meirelles e Mantega lembraram lembrou que o BC também liberou compulsório para que os bancos pudessem antecipar o pagamento de contribuições ao FGC e assim permitir que o fundo compre carteiras de crédito.

Os prejuízos de grandes empresas exportadoras com derivativos cambiais na BM&F também foram alvo de questionamento dos senadores. O ministro disse que as empresas fizeram apostas muito além do que precisavam para se proteger de variações cambiais e que não cabe ao governo agora ajudá-las. Meirelles, por sua vez, lembrou que nenhuma empresa pode perder de vista que a taxa de câmbio no Brasil e é flutuante que não existe meta do governo para taxa de câmbio. Ele respondia a uma afirmação de que essas empresas só teriam perdido porque apostaram no Real e na política econômica do governo. Mas, na inexistência de meta para tal, vincular a política econômica a determinado nível de taxa de câmbio é um erro, na sua opinião. Meirelles forneceu dados que, segundo ele, já mostram recuperação do crédito. Na primeira semana de outubro, a média diária de empréstimos do sistema financeiro caiu 18% em relação a setembro. No mês, esse esse percentual deve fechar em 5% apenas. "Há uma queda. Mas não existe paralisação do crédito", disse.

A média diária de antecipações de contrato de câmbio também já se recuperou, embora ainda esteja abaixo do nível anterior ao da fase aguda da crise. Meirelles disse que US$ 4 bilhões já saíram do país, só em recursos que estavam aplicados em papéis federais. Mas o volume mantido por estrangeiros em títulos chega a US$ 34 bilhões.

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