quinta-feira, 30 de outubro de 2008

As ações caíram, o dólar subiu. E agora José?

Palavra do Gestor

José é um desses brasileiros que sempre olharam de longe a coragem, o sangue frio e a ambição de quem investe na Bovespa. "Isso não é para o meu bico", pensava. "Quem sabe um dia, se eu ganhar na loteria..." Levar os meninos para a Disney sempre foi um sonho, mais dele do que das crianças, com quem nunca compartilhou seu desejo pois não acreditava que teria dinheiro suficiente para comprar dólares, a tal moeda cobiçada, forte e cara. Convencido de que sua história era outra, sempre fez poupança em renda fixa, achando que os juros que recebe são altos o suficiente para compensar o risco que, segundo sua percepção, não existe.

Acontece que os juros, antes generosos, foram caindo, caindo, e os ganhos com a renda fixa minguando para menos de 1% ao mês e deixaram José desanimado. Via tanta gente festejando ganhos fantásticos na bolsa que começou a achar que podia arriscar também. Tomou coragem e colocou metade da pequena fortuna em ações. Ficou animadíssimo ao ver que a rentabilidade de uma semana na bolsa era maior do que a de um ano inteiro na renda fixa. Não bastasse essa maravilha, ouviu na TV que o dólar se aproximava de R$ 1,60. José fez as contas e se convenceu de que, se os ventos continuassem soprando a favor, a sonhada viagem para a Disney sairia logo, logo. As crianças pularam de alegria quando o pai lhes contou que iriam conhecer o mundo da fantasia.

José não entende direito o que está acontecendo: uma tal crise de "subprime" que ele não sabe o que é, grandes bancos americanos quebrando e quase todos os países do mundo afetados por uma crise de confiança. O fato é que os ventos mudaram e a maré não está para peixe. A bolsa caiu tanto e com uma velocidade tão grande, que José ainda não conseguiu absorver os acontecimentos. Tem certeza de uma coisa: o valor de suas ações caiu muito e se vender agora receberá metade do que investiu. E o que é pior, o dólar subiu. Subiu tanto que José não tem reais suficientes para comprar os dólares que a família precisa para fazer a viagem dos sonhos. E agora José?

A viagem vai ter de esperar um pouco mais. Diga aos meninos que todos vão ter que contribuir para economizar nas despesas para que a família possa criar um fundo de reserva - em dólares - para esse projeto. Com o envolvimento de todos, o desafio fica menor, você vai ver. Se as passagens já foram compradas, compromissos com hotéis assumidos, pense em diminuir o tempo da viagem, reduza as despesas com compras e evite estourar o orçamento. Dessa viagem devem ficar apenas boas lembranças!

Lições práticas para José acumular uma reserva em dólar:

(a) pode comprar dólares nas casas de câmbio e guardar o dinheiro em casa. Solução simples, mas não segura e pode ser cara pois a cotação do mercado informal é mais alta (para quem compra) do que a cotação do dólar turismo;

(b) pode investir em um fundo cambial, disponível nas grandes instituições, que oferece uma aderência bastante razoável à flutuação da moeda estrangeira. Mesmo que a rentabilidade do fundo seja negativa, não se assuste. Ela será negativa quando a cotação do dólar cair e isso significa que, com uma menor quantidade de reais você poderá comprar a mesma quantidade de dólares que compraria antes.

A aderência do fundo cambial não é perfeita, pois tem custos e impostos. Por outro lado, os ativos da carteira pagam, normalmente, acima da variação cambial, oferecendo uma adequada proteção para a poupança em dólar.

Quanto à bolsa José, há muito pouco que você possa fazer além de ter calma, muita calma nessa hora. Analise sua carteira e avalie as reais possibilidades de recuperação do valor dessas ações em um cenário macroeconômico mais favorável. Se a análise for positiva, agüente firme, é uma questão de tempo. Mantenha o prumo, espere a tormenta passar e aguarde por águas mais calmas e ventos mais favoráveis. Se necessário, faça ajustes na sua carteira para se beneficiar do ciclo de alta do mercado. Quando esse ciclo vai ocorrer? O futuro dirá. Lembre-se de que os resultados dos investimentos em ações precisam de tempo (longo, muitas vezes) e cenários econômicos favoráveis para serem colhidos.

Quando a calmaria voltar, analise as lições aprendidas. Certamente não foram poucas e serão úteis em outros momentos de estresse da vida. Boa sorte José!

Maria Dessen é CFP® e sócia do Grupo Educacional Bankrisk
E-mail: marcia.dessen@bankrisk.com.br

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