quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Dólar derrete com fim do desmonte

Cristiane Perini Lucchesi

As empresas brasileiras já desmontaram a maior parte de suas posições vendidas especulativas em câmbio na Cetip, o que tem permitido um tombo nas cotações do dólar a cada sinal de melhoria no mercado internacional. Ontem, o dólar caiu mais 2,5%, para R$ 2,188. Em dois dias, a queda foi de quase 6%. Após ampla análise das mais diferentes estruturas utilizadas para registrar derivativos, Jorge Sant'Anna, superintende da Cetip, notou que as posições vendidas brutas totais das empresas em dólar (exposição total) chegaram a US$ 94 bilhões no dia 30 de setembro. No dia 24 último, haviam caído para US$ 60 bilhões. Se forem consideradas apenas as transações de vencimento em 90 dias, os números passaram de um total de US$ 38 bilhões para US$ 20 bilhões no período. As posições vendidas líquidas (descontadas as compradas), que chegaram a atingir US$ 40 bilhões no dia 30 de setembro, foram para US$ 7 bilhões no dia 24. "Provavelmente as maiores posições especulativas já foram desmanchadas", afirmou Sant'Anna. Ele disse que a Cetip pretende realizar um amplo programa para ensinar as empresas a avaliar risco de derivativos. "Há estruturas mais complexas, de difícil compreensão mesmo para executivos financeiros experientes", afirma Sant'Anna. Segundo ele, os derivativos de balcão no Brasil, diferentemente do que acontece lá fora, são registrados na Cetip, o que permitiu ao Banco Central ter a dimensão do problema e adotar as medidas necessárias. "O BC atuou de forma correta, ouviu o mercado", afirmou Sant'Anna.

A Cetip tem cerca de 85% do mercado de balcão no Brasil. Mas empresas maiores, como a Aracruz, registraram grande parte de suas posições de derivativos no mercado externo. Segundo um credor da empresa, a Aracruz ainda não desmontou a maior parte de sua posições, pois está aguardando um dólar mais favorável. De acordo com esse credor, se o dólar for para baixo de R$ 2,10, as perdas da Aracruz, estimadas em um total de US$ 2,5 bilhões, seriam reduzidas em US$ 1 bilhão. Os bancos estão pressionando a empresa como podem.

Também tem ajudado na calmaria no mercado de câmbio a divulgação do balanço dos maiores bancos, que têm mostrado que as perdas de seus clientes com derivativos de câmbio não representam risco sistêmico. Ontem foi a vez do Santander, que sinalizou que seus clientes perderam R$ 1,42 bilhão, ou 1,8% de sua carteira de crédito. O Unibanco havia anunciado R$ 1 bilhão de perdas dos clientes, ou 1,3% dos ativos de crédito (e não dos ativos totais, cuja participação é de 0,5%). O Bradesco anunciou R$ 973 milhões, ou 0,5% da carteira de crédito, e o Itaú R$ 2,4 bilhões, ou 1,5% dos ativos de crédito. As perdas dos clientes dos quatro bancos somam R$ 5,79 bilhões.

Foi determinante para o tombo no dólar o otimismo volátil que tomou conta do mercado financeiro internacional. Sem outra justificativa aparente a não ser a expectativa de que o Fed (banco central americano) anuncie hoje corte de 0,5 ponto percentual, para 1% ao ano, nos juros básicos americanos, as bolsas nos Estados Unidos tiveram alta surpreendente. O índice Dow Jones, das ações mais negociadas, subiu 10,88%. Analista acredita que "a piora mais desordenada do mercado pode estar acabando". Um dos importantes sinais neste sentido é a queda da Libor (taxa interbancária de Londres) pelo 12º dia consecutivo, o que indica que o mercado de crédito entre bancos no exterior pode estar começando lentamente a voltar a funcionar. A Libor, que estava em 4,818% ao ano no dia 10 de outubro, veio caindo desde então. Ontem, estava a 3,4650%, uma queda acumulada de 1,353 ponto percentual.

No Brasil, os juros projetados nos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) da BM&F para vencimento em janeiro de 2009, os mais negociados, foram a 13,916% ao ano, na comparação com os 14,049% ao ano de ontem e os 14,414% ao ano de sexta-feira. A expectativa do mercado é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie hoje a manutenção das taxas de juros básicas Selic em 13,75% ao ano. Alex Agostini, economista da Austin Rating, acredita que em dezembro o Copom deveria mesmo é cortar as taxas. Segundo ele, a demanda já vai ser reduzida pelo forte aperto no crédito, principalmente em janeiro e fevereiro de 2009, meses tradicionalmente fracos em compras. "Um corte de 0,25 ponto percentual teria pouco efeito prático, mas poderia ajudar de forma determinante a ancorar as expectativas do mercado e das empresas."

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